Um fertilizante desenvolvido pela Embrapa Solos (RJ) promete facilitar a vida de quem cultiva plantas em vasos ou pequenos jardins urbanos e, ao mesmo tempo, dar destino sustentável a um resíduo ambientalmente problemático: a cama de aviário. A instituição está em busca de parceiros da iniciativa privada para produzir e comercializar o produto em escala (veja quadro abaixo), levando ao consumidor um insumo completo, de fácil aplicação e com foco na sustentabilidade.
O novo insumo é produzido a partir da mistura entre cama de aviário e fontes minerais de macro e micronutrientes, e meio quilo do produto é suficiente para uma pessoa usar em seis vasos por um período de dois a três meses. O produto é de fácil manuseio e aplicação, evitando problemas de superdosagens e de contato com as plantas.
Ele ainda apresenta liberação lenta, o que reduz a lixiviação – processo que leva ao desperdício de nutrientes. Sua fórmula contém os macros e micronutrientes em fontes solúveis de maneira balanceada, utilizando o resíduo da produção de aves (cama de aviário ou de frango) como seu principal ingrediente, promovendo o uso sustentável desse material que é considerado um passivo ambiental e colaborando com a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
É um produto para satisfazer as necessidades do cliente urbano, oferecido em pequenas embalagens, um fertilizante completo com um preço competitivo e obtido a partir de reciclagem”, diz o pesquisador Vinicius Benites. “É importante salientar que a cama de aviário que não é aproveitada acaba sendo descartada no meio ambiente. É um fator que muitos clientes valorizam e se dispõem a pagar por isso, com a visão da bioeconomia”, ressalta o cientista.
O teor de nutrientes foi calculado de forma que um cachimbo de plástico (que vem dentro da embalagem) contenha os ingredientes necessários para um vaso de dois quilos, que é o tamanho médio dos vasos identificados no questionário aplicado na fase de identificação dos consumidores.
Ele conta que, em laboratório, o fertilizante granulado apresentou excelente eficiência agronômica nos ensaios para a validação técnica. Um protótipo foi desenvolvido, composto por um kit com embalagem de papel reciclável contendo 500 gramas, um cachimbo dosador de plástico e instruções de uso. O protótipo foi resultado de um processo de design thinking com 50 pessoas. Em uma etapa posterior, a proposta teve ótima aceitação entre 40 potenciais consumidores que participaram da sua validação.
De acordo com a área de Transferência de Tecnologia da Embrapa Solos, há outros produtos para a adubação em vasos no mercado, mas nenhum deles é um fertilizante organomineral granulado balanceado nutricionalmente, como o desenvolvido nesse trabalho.
O olhar do consumidor e eliminação do mau odor
A aplicação do design thinking foi fundamental para que os pesquisadores entendessem os anseios do consumidor final do fertilizante que estava sendo desenvolvido. “Nós já desenvolvemos fertilizantes organominerais em nossos laboratórios desde 2010. Mas para esse produto, nós queríamos entender melhor o consumidor e suas características, para fazer um produto o mais personalizado possível. Fizemos uma reunião inicial na qual definimos o perfil do potencial consumidor do produto. Elaboramos um questionário que posteriormente foi aplicado para mais de 200 pessoas. A partir desse retorno, chegamos a uma persona: o consumidor médio é uma mulher que mora num apartamento, com um filho, possui plantas mas não entende do assunto, mas tem foco na ecologia, na reciclagem, com preocupações ambientais e com as mudanças climáticas”, revela Benites.
O pesquisador acrescenta que, a partir dessa persona, começou o debate no processo de design thinking, de forma a definir os detalhes do produto, como na escolha da embalagem, em papel Kraft, reciclável e tamanho reduzido, assim como no formato do fertilizante, granulado, com odor controlado, com todos os macro e micronutrientes na composição, uma vez que o usuário não possui conhecimentos aprofundados sobre fertilidade e nutrição de plantas.
Uma atenção especial foi dada pela equipe de pesquisa para o aspecto do odor do produto, para que não atraia a atenção de animais domésticos e não incomode os usuários, já que a principal matéria-prima são dejetos de aves. “Foi adicionado um extrato de fumaça que repele animais, como gatos e cachorros, muito comuns no ambiente urbano. Também era desejável que o adubo não tivesse cheiro, já que será utilizado em casas e apartamentos. Então corrigimos o odor, baixando o pH e adicionando essa substância”, relata Benites.
Fonte: Agência de Notícias Embrapa