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PÃO, POVO E AGRO NAS RUAS

Se essa rua, se essa rua fosse minha. Eu mandava, eu mandava… tapetar. Não podendo ladrilhar com pedrinhas de brilhante, em cidades portuguesas e brasileiras, o costume é ornamentá-las em Corpus Christi com tapetes coloridos, feitos com produtos agrícolas, para o maior dos Amores passar.

Essa festa móvel celebra a presença de Cristo na Eucaristia, publicamente. A hóstia consagrada deixa a tranquilidade de sacrários, abandona a imobilidade das igrejas. Exposta num ostensório, abrigada por um pálio, caminha, sobre efêmeros tapetes coloridos, arte anônima destinada a durar um dia.

Graças à agricultura, as ruas por onde passa a procissão são forradas com tapetes de cores vivas e desenhos de inspiração religiosa. Eles são feitos com flores e pétalas, cascas e grãos de café, bagaço moído de cana, palha e grãos de arroz, quirela, farinhas, pó de café, serragem, mechas de algodão…

Ornar as ruas é democrático e ocorre durante o dia e a noite anteriores à procissão. É obra coletiva e planejada com ajuda de escolas, prefeituras, pastorais e comunidades. As ruas se tornam um altar a céu aberto. A festa gera receitas, move a economia local, o comércio e a gastronomia.

Só em S. Paulo, Corpus Christi atrairá 3,2 milhões de turistas em mais de 20 cidades. Representará 5,9 bilhões de reais no setor de turismo, segundo a Secretaria de Turismo e Viagens. E dezenas de bilhões de reais na economia do Brasil profundo.

A celebração em Curitiba é a maior do Brasil em participantes e extensão dos tapetes. Em cidades de Minas Gerais e Espírito Santo; de Fortaleza a Aracajú; em Matão, Ibitinga, Santana, Pirapora e outras, os tapetes mágicos estarão prontos para voar e elevar quem os percorre.

A solenidade de Corpus Christi remonta ao século XIII. Nasceu em 1247 na Bélgica, inspirada em visões da freira agostiniana Juliana de Mont Cornillon, para realçar a presença real de Cristo no pão consagrado. Terminou instituída pelo Papa Urbano IV, na Bula Transiturus em 1264.

E propagou-se de Budapeste a Toledo, de Braga a Guaranésia, da Alemanha a Timor Leste. Também é comemorada em igrejas anglicanas, luteranas e metodistas, de forma diferente da católica. E dá nome à renomada faculdade (Corpus Christi College) na Universidade de Oxford.

A Eucaristia foi instituída por Jesus na Quinta-Feira Santa. Daí celebrar-se Corpus Christi na quinta-feira, após Pentecostes. São oito séculos de tradição cristã. Neste Ano da Graça de 2025, a festa ocorre na véspera do solstício de inverno, 20 de junho, o dia mais curto do ano.

O período mágico das festas juninas está centrado no solstício de inverno. Nele, o campo invade a cidade. O rural é celebrado pelo urbano em festanças e arraiais ao lado de igrejas e escolas. O solstício está associado ao fim do ano agrícola, às colheitas, ao desfrute do árduo trabalho no campo.

Após o solstício, a duração dos dias aumenta. Essa vitória simbólica da luz, de Cristo como verdadeiro sol invicto – tão comemorada em Corpus Christi, festas e fogueiras juninas – convida todos a enfrentar o inverno e o inferno. Seja climático, político, social ou pessoal. Como dizia Winston Churchill: If you’re going through hell, keep going. (Se estiver atravessando o inferno, continue andando.)

Por: Evaristo de Miranda

Publicado no jornal Correio Popular, Campinas 19/6/2025

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