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Vivemos um novo boom mineral?

Muito provavelmente ninguém do setor mineral brasileiro esperava que a indústria tivesse um desempenho tão surpreendente no primeiro trimestre de 2021

Ao contrário do que aconteceu nos primeiros meses de 2020, quando o mundo começava a parar com os efeitos da pandemia Covid-19 e havia um clima generalizado de incertezas quanto ao futuro da economia global e por conta disso demanda e preços das commodities minerais sofriam reveses, neste início de ano a demanda se recuperou e os preços de algumas commodities chegaram a níveis que contrastam com as previsões dos analistas.

Os fatores que contribuíram para isso foram principalmente uma recuperação mais rápida do que se esperava por parte da China, a mudança de presidência nos EUA e o avanço da vacinação nos países desenvolvidos. As duas maiores economias do mundo voltaram a dar sinais de retomada, em ritmo forte. O PIB chinês chegou a registrar crescimento de 18%. O PIB americano, no último trimestre, cresceu 6,4%.

Nesse mesmo período, o valor da produção mineral brasileira teve um aumento de 95%, alcançando R$ 70 bilhões, quase o dobro do valor registrado no primeiro trimestre de 2020. Este aumento foi impulsionado pelo minério de ferro, que é o principal produto mineral brasileiro, cujo preço médio no trimestre chegou a US$ 166,88 por tonelada, em comparação com uma média de US$ 88,97/tonelada nos três primeiros meses do ano passado.

É importante salientar que o minério de ferro, sozinho, respondeu por cerca de 70% do valor da produção mineral brasileira. Com esse preço e a valorização do dólar perante o real no período, os balanços trimestrais dos principais produtores de minério de ferro no Brasil inflaram, e os lucros idem. A Vale, maior produtor mundial da commodity, viu seu lucro líquido aumentar cerca de 20 vezes no período de um ano. Mais recentemente, o preço do minério de ferro chegou ao nível que havia alcançado no chamado boom das commodities. A própria Vale teve vendas ao preço de US$ 212/tonelada.

A arrecadação de CFEM, por sua vez, chegou a R$ 2,1 bilhões no período, o que significa 1/3 de todo o valor arrecadado no ano passado. Isto dá exatamente 3% do valor total da produção no período. E aqui também o principal responsável pelo crescimento é o minério de ferro. Isto quer dizer que, se os preços continuarem nos níveis em que se encontram, o valor arrecadado a título de CFEM deve superar os R$ 8 bilhões, enchendo os cofres e os olhos de prefeitos de alguns poucos municípios brasileiros que são produtores da commoditiy, principalmente no estado do Pará.

E aqui surgem quatro pontos que ao nosso ver merecem a reflexão dos brasileiros:

  1. Será bom para o País e o setor mineral essa dependência tão acentuada de uma commodity mineral?
  2. A concentração das receitas geradas pela CFEM em poucos municípios não contribui para criar distorções?
  3. Estamos vivendo um novo boom da mineração?
  4. Como fazer para que os excelentes resultados obtidos pelo setor se transformem em benefícios para os brasileiros? Deixamos as conclusões para vocês.

Francisco Alves, Editor da Revista Brasil Mineral

Fonte: Brasil 61

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