Atividades agropecuárias ocupam 32% do território brasileiro, com mais da metade dessa área (56,7%) correspondendo a pastagens plantadas e 23% destinadas à agricultura. Nos dois casos, imagens de satélite indicam intensificação do uso do solo: quase dois terços (64%, ou 31,4 milhões de hectares) da área ocupada por lavouras temporárias, como soja, milho ou algodão, apresentaram mais de um ciclo, que pode ser de outra cultura ou de plantas de cobertura do solo; e mais de três em cada quatro hectares de pastagens (78%, ou 121,4 milhões de hectares) têm médio ou alto vigor – condição para a criação de um maior número de animais por hectare. Estes são alguns dos dados que o MapBiomas lança nesta quarta, 10 de dezembro, e que já estão disponíveis gratuitamente na plataforma https://brasil.mapbiomas.org
O MapBiomas está lançando sua primeira versão do mapa de agricultura de segunda safra, ou seja, de cultivos agrícolas plantados após a colheita da safra de verão de lavouras temporárias. Ele agrega informações ao mapa de quantidade de ciclos que foi lançado ano passado e visa identificar a cultura plantada após a colheita dos cultivos de primeira safra já mapeados no MapBiomas. Ainda em versão beta, ele cobre apenas os dados entre 2000 e 2024 e os estados com maiores áreas produtoras de milho e algodão de segunda safra, apresentando três classes: milho, algodão e outras lavouras temporárias de segunda safra ou plantio de cobertura.
O mapeamento aponta que o milho é a principal cultura de segunda safra no Brasil. Em 2024 foram identificados na segunda safra 14,7 milhões de hectares de milho, 2,5 milhões de hectares de algodão e 6,5 milhões de hectares de outros cultivos temporários ou de espécies para cobertura do solo. Cerca de 95% das lavouras de milho de segunda safra mapeadas pelo MapBiomas foram implantadas após a colheita da soja.
“A segunda safra é um trunfo da agricultura tropical na produção de grãos. Ela incrementa o retorno econômico ao produtor e colabora na conservação da vegetação nativa, pois permite aumentar a produção sem abrir novas áreas. Além disso, aproveita nutrientes da cultura anterior e eleva o potencial de sequestro de carbono. O milho, em especial, deixa uma palhada abundante após a colheita, fundamental para a conservação do solo e da água e para a fixação de carbono no solo via plantio direto. Mas a expansão da segunda safra também enfrenta desafios. Um deles é a degradação do solo pelo uso mais intensivo, requerendo atenção especial com as práticas de manejo. Há também o clima, com tendência de redução da chuva e de alongamento da estação seca, que pode inviabilizar a segunda safra no futuro, especialmente do milho”, destaca o professor Eliseu Weber, um dos coordenadores do tema de agricultura do MapBiomas.
Em relação aos estados, o mapeamento identificou que em 2024 foram cultivados 7,1 milhões de hectares com milho (48% do total mapeado) e 1,6 milhão de hectares com algodão na segunda safra no Mato Grosso. O Paraná apresentou um total de 5 milhões de hectares plantados com segunda safra, sendo 2,2 milhões de hectares com milho e 2,8 milhões de hectares com outra cultura de segunda safra ou plantio de cobertura. No Mato Grosso do Sul, a segunda safra ocupou 2 milhões de hectares, sendo 1,9 milhãode hectares cultivados com milho e 100 mil hectares com algodão. Goiás apresentou números semelhantes: 2 milhões de hectares cultivados na segunda safra, sendo 1,7 milhão de hectares com milho e 300 mil hectares com algodão.
No caso da safra de verão, o cultivo de soja passou de 4,5 milhões de hectares mapeados em 1985 para 40,7 milhões de hectares mapeados em 2024. Quase dois terços (65%) da agricultura mapeada em 2024 no Brasil correspondem a lavouras de soja de primeira safra. Mais de dois terços (65%) da área mapeada como soja na primeira safra de 2024 apresentou dois ciclos de cultivo (26,3 milhões de hectares) e 6,1%, três ciclos (2,5 milhões de hectares). Quase um quarto do total (21%) apresentou apenas um ciclo (8,6 milhões de hectares).
Em 2024, após a colheita da soja, foram cultivados 14 milhões de hectares de milho, 2,4 milhões de hectares de algodão e 6 milhões de hectares de outras culturas temporárias. A maior área com essa dinâmica fica no Mato Grosso, onde 6,7 milhões de hectares de milho são cultivados após a colheita da soja. Isso significa que 94% do total de milho no estado é cultivado em sucessão à cultura da soja na safra de verão. Em segundo lugar vem o Paraná (2,2 milhões de hectares), seguido pelo Mato Grosso do Sul (1,8 milhão de hectares).
“O mapeamento das principais culturas de segunda safra no Brasil representa um avanço no entendimento do uso das áreas agrícolas do país, e sua disponibilização pelo MapBiomas marca um passo importante na superação dos desafios associados a esse tipo de monitoramento. Devido à extensão territorial e à diversidade climática do Brasil, uma mesma cultura apresenta calendários agrícolas distintos entre estados, o que exigiu o desenvolvimento de uma metodologia capaz de funcionar de forma consistente em diferentes contextos regionais. Esse processo envolveu a análise detalhada da dinâmica agrícola de cada estado e a coleta manual e sistemática de amostras ao longo do tempo. O resultado alcançado apresenta forte alinhamento com estimativas de áreas divulgadas por fontes oficiais, como a Conab, mas ainda temos desafios de mapear estados importantes, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul”, detalha Kenia Mourão, uma das coordenadoras de Agricultura no MapBiomas.
Foram mapeadas também áreas de cana-de-açúcar, que passaram de 2,2 milhões de hectares em 1985 para 10,1 milhões de hectares mapeados em 2024. As áreas mapeadas com arroz passaram de 390 mil hectares em 1985 para 1,1 milhão de hectares mapeados em 2024. No caso de citrus, o aumento foi de 100 mil hectares, em 1985, para 400 mil em 2024. Dendê também teve um aumento expressivo, passando de 10 mil hectares mapeados em 1985 para 240 mil hectares em 2024, sendo este crescimento concentrado no estado do Pará. As áreas ocupadas com silvicultura passaram de 1,56 milhão de hectares em 1985 para 9 milhões de hectares em 2024.
A expansão da atividade agrícola no Brasil se deu principalmente sobre áreas de pastagens. Já a expansão das áreas de pastagens tem ocorrido predominantemente sobre vegetação nativa, sobretudo formações florestais, seguida pelas savânicas – padrão que pode ser observado em todas as décadas analisadas. Porém os dados apontam que muitas áreas de pastagens voltaram a ser classes de vegetação nativa ao longo das décadas, especialmente formação savânica. Foram 1,4 milhão de hectares de 1985 para 1994, 3,5 milhões de hectares de 1995 para 2004, 3,9 milhões de hectares de 2005 para 2014, e 4,9 milhões de hectares de 2015 para 2024.
Embora metade (cerca de 77,8 milhões de hectares) das pastagens brasileiras tenham mais de 30 anos de idade e um terço do total exista desde 1985, as condições de vigor mostram uma prevalência de pastos com baixa degradação biológica, relacionada aos níveis do solo exposto. Apenas um quinto da área mapeada com pastagens (21,6%, ou 33,4 milhões de hectares) apresenta indícios de baixo vigor, ou seja, pastagens com baixa produção de forragens e alta presença de solo exposto ao longo do ano. A maior parte tem entre médio (43%, ou 66,6 milhões de hectares) e alto vigor (35,4%, ou 54,8 milhões de hectares).
De 2000 para 2024, as pastagens registraram ganho líquido de vigor de 6,2 milhões de hectares: em 20,8 milhões de hectares, o vigor aumentou e, em 14,6 milhões de hectares, ele diminuiu. De 2000 para 2024, 62 milhões de hectares não apresentaram alteração no vigor e 11,1 milhões de hectares evoluíram para a condição de alto vigor.
Outro indicador da capacidade da pastagem de alimentar o rebanho é a produção de biomassa, ou seja, a quantidade de matéria vegetal produzida. Quanto maior a biomassa disponível, maior a capacidade de suporte da pastagem. Em 2024, as pastagens brasileiras produziram cerca de 3,63 gigatoneladas de biomassa / forragem. A Amazônia é o bioma com a maior produtividade de biomassa de pastagem, com valores acima de 25 ton/ha/ano. No Cerrado e no Pantanal, as pastagens apresentam uma biomassa predominante na faixa de 15 a 20 ton/ha/ano. Na Caatinga, as pastagens exibem uma produtividade ainda menor, geralmente abaixo de 15 ton/ha/ano. A biomassa das pastagens da Mata Atlântica apresenta maior variação ao longo do bioma, com valores que oscilam entre 10 e 25 ton/ha/ano.
“Apesar dos bons indicadores de vigor e produção de forragem das pastagens brasileiras, os quase 22% de pastagens plantadas mapeadas como sendo de baixo vigor em 2024 sugerem uma condição de degradação severa. Esta área, que corresponde a aproximadamente 34 milhões de hectares, representa uma enorme oportunidade enquanto reserva de terras para outros usos, em convergência com o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas implementado pelo governo federal”, destaca o professor Laerte Guimarães Ferreira, coordenador do tema Pastagem no MapBiomas.
Os estados do Pará (21,7 milhões de hectares), Mato Grosso (20,2 milhões de hectares), Minas Gerais (19,3 milhões de hectares), Bahia (14,6 milhões de hectares), Mato Grosso do Sul (12,2 milhões de hectares) e Goiás (12 milhões de hectares) detêm 69,8% dos 155 milhões de hectares ocupados por pastagens em todo o Brasil.
Fonte: MapBiomas



