A gestão de pessoas no campo está passando por uma transformação silenciosa, mas com efeitos significativos para o agronegócio. A digitalização dos registros de jornada eliminou um dos gargalos históricos das safras: o excesso de anotações manuais que exigiam horas de trabalho administrativo e atrasavam processos críticos como o pagamento por produtividade.
Somente com o uso de coletores de dados, cerca de 312 mil anotações manuais mensais deixaram de ser feitas nas lavouras brasileiras. O número corresponde à rotina de um grupo de 500 trabalhadores safristas durante um mês de trabalho, considerando quatro registros por dia, seis dias por semana, em 26 dias úteis. Essas anotações, antes feitas em cadernos ou fichas de papel, envolviam os horários de entrada, pausa e saída, e precisavam ser posteriormente transferidas manualmente para planilhas e depois para sistemas administrativos.
Além da sobrecarga de registros, a operação enfrentava dificuldades práticas no dia a dia: a caligrafia de quem fazia as anotações nem sempre era legível, e as condições do ambiente — como chuva, sol intenso e poeira — comprometiam a conservação dos registros. “A tecnologia tem se tornado essencial na gestão de equipes no campo, especialmente em regiões remotas, onde a coleta e o acesso rápido às informações fazem toda a diferença para garantir organização e produtividade durante a safra”, afirma Marcelo de Abreu, presidente da Employer Recursos Humanos.
Ele destaca ainda que, para ser eficiente nesse ambiente, a tecnologia precisa ser adaptada à realidade rural — funcionando mesmo em modo offline e sincronizando os dados automaticamente assim que houver conexão com a internet.
Jornada manual, um modelo insustentável
Durante anos, o controle de ponto no campo foi realizado de forma artesanal. Além de anotar os horários diariamente, os encarregados ou equipes de apoio tinham que digitar os dados no sistema da empresa, muitas vezes após o expediente ou aos finais de semana. Esse processo gerava custos com horas extras, demandava tempo considerável e estava sujeito a falhas humanas, o que comprometia o cálculo de valores a serem pagos aos trabalhadores.
“Todo esse fluxo era suscetível a erros e atrasos. Em muitos casos, o pagamento da produtividade só ocorria no final da safra, já que os cálculos precisavam ser consolidados manualmente, o que aumentava o risco de inconsistências e gerava insatisfação entre os trabalhadores”, completa Abreu.
Tecnologia adaptada à realidade do campo
Para mitigar esse problema, a Employer desenvolveu uma solução voltada à operação em campo — inclusive em locais sem acesso à internet. O sistema permite que os horários sejam registrados diretamente em celulares utilizados pelos encarregados. Mesmo offline, os dados ficam armazenados no dispositivo e são automaticamente sincronizados com o sistema de gestão assim que houver conexão com a rede.
A tecnologia trouxe ganhos imediatos. O processo de controle da jornada passou a ser mais preciso, os dados chegam com mais rapidez às áreas administrativas, e tanto a empresa quanto os trabalhadores podem acompanhar em tempo real informações sobre presença, horas extras e produtividade. Isso reduziu o retrabalho, evitou inconsistências e agilizou o repasse de valores devidos ao longo do mês — e não apenas ao final da safra.
“O coletor foi criado a partir de uma demanda real de campo, com foco em registrar informações operacionais em locais remotos. É uma solução flexível, que pode ser adotada por diversas culturas e operações”, afirma Marcelo, destacando que o desenvolvimento contou com a participação de um colaborador da empresa que atuava diretamente em uma operação agrícola.
Transformação estrutural da gestão rural
A adoção de tecnologia para a gestão de pessoas no campo vai além do controle de jornada. Ela representa um passo importante na profissionalização da administração de mão de obra rural. Ainda hoje, muitas equipes de RH enfrentam desafios ligados a processos manuais em todas as etapas — da triagem de currículos até o fechamento da folha.
A ausência de ferramentas digitais limita a análise de desempenho e dificulta a oferta de feedbacks consistentes, o que impacta diretamente a motivação e a retenção de talentos. Problemas de comunicação entre frentes de trabalho e a sede da empresa também são frequentes e comprometem a tomada de decisões em tempo hábil.
Ao integrar diferentes frentes — presença, produtividade, conformidade legal e gestão de dados —, as tecnologias desenvolvidas para o campo possibilitam maior transparência nas relações de trabalho e mais eficiência na administração das equipes em grandes áreas produtivas.
Segurança jurídica e conformidade
Com a evolução da automação, a legislação trabalhista também foi atualizada. A Portaria 671/2021, do Ministério do Trabalho, passou a regulamentar os sistemas eletrônicos de controle de ponto, inclusive no meio rural. Aplicativos móveis com geolocalização, sistemas com reconhecimento facial e equipamentos portáteis passaram a ser reconhecidos, desde que respeitem os critérios técnicos exigidos.
De acordo com a advogada trabalhista da Employer, Dra. Letícia Pereira, é fundamental que os sistemas utilizados sejam invioláveis, permitam a extração de dados em formato legível e garantam o direito de acesso do trabalhador aos seus próprios registros.
“Em caso de auditorias ou ações trabalhistas, é preciso comprovar que os dados são fidedignos e que os registros não foram manipulados. Por isso, a escolha de uma solução segura e transparente é decisiva”, explica Letícia.
Entre os documentos que podem ser exigidos estão o Arquivo Fonte de Dados (AFD), o espelho de ponto assinado (física ou digitalmente), logs de geolocalização, manuais de uso e políticas internas da empresa sobre o controle da jornada. Todos esses registros estão previstos na Portaria 671 e têm valor legal.
Letícia reforça ainda boas práticas para evitar riscos:
- Utilizar sistemas de ponto adequados à legislação (REP-C, REP-A ou REP-P);
- Treinar os trabalhadores no uso das ferramentas;
- Garantir acesso contínuo ao espelho de ponto;
- Estabelecer regras internas claras sobre o controle de jornada;
- E assegurar que os registros reflitam a jornada real de trabalho.
Digitalização é caminho sem volta no campo
A modernização da gestão no campo tem se tornado indispensável diante dos desafios crescentes de produtividade, conformidade e organização. Ao eliminar processos manuais e tornar os dados acessíveis em tempo real, tecnologias como a desenvolvida pela Employer representam um avanço relevante para todo o ecossistema do agronegócio, do pequeno produtor às grandes operações agrícolas.
Fonte: Imprensa Employer RH