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Surto de doença fúngica em gatos ameaça saúde pública e traz riscos para tutores de Pets e profissionais da área veterinária

O surto da esporotricose felina no Brasil, doença altamente infecciosa e agressiva, tem se espalhado de forma alarmante por todo o Brasil, trazendo grave risco à saúde pública e mantendo as autoridades sanitárias em estado de alerta.  Trata-se de uma doença causada por um fungo do gênero Sporothrix spp, que provoca lesões cutâneas e úlceras em gatos, tanto domiciliados quanto os de rua, podendo ser transmitida para outros animais como cães e também para os humanos.  
 
O primeiro caso foi registrado no País em 1955, mas só a partir de 2023 que a doença parece ter saído do controle. Atualmente, há casos registrados em todos os estados brasileiros e, somente neste ano, já houve uma morte em humanos. “É um grave problema de saúde pública. Para se ter uma ideia, o fungo já se tropicalizou e gerou uma espécie 100% nacional, a Sporothrix brasiliensis, que é muito mais transmissível e já está se espalhando para fora do Brasil”, explica o professor titular de medicina veterinária da UNIP, Carlos Brunner.
 
Brunner é um dos maiores especialistas no uso de pulsos elétricos no tratamento de doenças. Ele é precursor da eletroquimioterapia no Brasil e um dos fundadores da Akko Health Devices, desenvolvedora de soluções em tratamentos com eletroquimioterapia para medicina humana e medicina veterinária. Há quase duas décadas, ele estuda os efeitos da técnica no tratamento de diversas doenças, entre elas a esporotricose, e desenvolveu um equipamento inédito que está sendo testado em clínicas veterinárias e em universidades, como a PUC de Curitiba e a Fundação Fiocruz, no Rio de Janeiro.
 
“A esporotricose é infecciosa e agressiva. Os gatos são as principais vítimas e os potenciais transmissores. Ela causa lesões cutâneas que podem começar como pequenos caroços (nódulos) e evoluir para úlceras com secreção. Essas feridas não cicatrizam facilmente e costumam espalhar-se pelo corpo. O tratamento com antifúngico é demorado e muitas vezes não traz os resultados esperados”, explica Brunner.
 
A transmissão da esporotricose para humanos é feita por meio do contato com o animal infectado. Os arranhões são a principal porta de entrada. A lesão ocorre geralmente nas mãos, braços, rosto ou pernas e começa como um nódulo avermelhado e firme. Depois, evolui para uma ferida ulcerada, que pode drenar pus. Ela não causa dor, mas demora para cicatrizar. O problema é que a infecção se espalha pelos vasos linfáticos e, quando encontra uma pessoa com o sistema imunológico comprometido (caso dos imunossuprimidos), pode atingir ossos, pulmões, olhos e até o sistema nervoso central, levando à morte.
 
Vários estados vivem situação crítica. Em São Paulo, a vigilância mapeou os municípios com os registros da doença – que este ano passou a ser de notificação obrigatória. Em 2024 foram mais de 1700 casos confirmados em humanos em cerca de 100 municípios. Na capital paulista, no ano passado, mais de 3.300 animais foram notificados com esporotricose.
 
O estado do Amazonas está em alerta. Segundo o Boletim Epidemiológico do estado, até 30 de setembro de 2025, foram confirmados 1.469 casos de esporotricose em humanos, com uma morte, uma mulher de 42 anos, residente em Manaus, diagnosticada tardiamente e que evoluiu para óbito em julho. No caso dos animais, foram 3.559 confirmações, sendo que 1.660 gatos foram eutanasiados em todo o estado.
 
Na clínica veterinária da Dra. Adriana Queiroz, em Manaus, foi necessário separar uma ala apenas para tratar os gatos com esporotricose. Ela conta que muitos tutores chegam com medo, já que os animais convivem com a família de forma muito intensa. “Tenho clientes que chegaram até aqui desesperados. Crianças apegadas nos bichinhos e com medo de precisar fazer eutanásia”, conta Dra. Adriana.
 
A clínica está usando a técnica dos pulsos elétricos ou eletropulsos, desde julho e já sente os resultados. “O uso do eletropulso é promissor visto que muitos animais não respondem ao tratamento convencional oral. Com a ajuda da técnica os animais têm tido uma melhora significativa”, comenta.
 
Custo de tratamento
 
A infecção geralmente ocorre quando o fungo penetra na pele por meio de ferimentos, arranhões, mordidas ou contato com material contaminado. O tratamento convencional leva muitos meses e chega a custar até 500 reais mensais, o que torna inviável tutores de baixa renda e ONGs que atuam recolhendo e cuidando destes animais. Com isso, muitas vezes a eutanásia é recomendada.
 
“É muito triste ver o que está acontecendo. O número de animais contaminados está crescendo e a verdade é que as pessoas estão com medo, até mesmo quem costuma cuidar dos animais de rua”, conta Dra. Susana Pastor Pazini, médica-veterinária e diretora da ONG Esporinhos, especializada em resgate e tratamento dos gatos infectados pela esporotricose, na capital paulista.

A ONG nasceu em 2023 depois que foi identificada uma colônia de 60 gatos, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. A colônia era cuidada por voluntários e o local estava desativado há muitos anos. Uma das voluntárias que cuidava destes animais identificou feridas em alguns gatos desta colônia, suspeitou que houvesse a presença do fungo e informou a Dra Susana.  Juntas, elas acionaram a Vigilância Sanitária do Ipiranga.
 
“Na época a orientação que recebemos foi fazer a eutanásia dos animais. Vendo aquela situação resolvi alugar um espaço e tratar dos gatos. De lá para cá, o espaço cresceu e já atendeu mais de 200 animais. Deste total, 108 conseguiram a cura e 25 foram adotados. Muita gente tem medo, porque é uma zoonose e pode levar à morte, mas com o cuidado certo, salvamos estes animais”, conta.
 
A ONG Esporinhos vem trabalhando em parceria com o Prof. Brunner no uso de eletro pulsos no tratamento dos animais. “Já conseguimos resultados muito positivos e em pouco tempo. Tratar um gato é complicado, dar o medicamento é difícil e caro. O custo passa de 300 reais por animal. Por isso estamos esperançosos com o uso dos pulsos. Com poucas aplicações eles já ficam curados”, conta.
 
Dra. Susana alerta que a eutanásia não é a solução. Segundo ela, é necessário que haja um esforço do poder público para alertar a população e tomar os cuidados necessários. “Os tutores de gatos precisam entender que a castração é fundamental para o controle da população de felinos que temos nas ruas. E que nesta situação que vivemos hoje, não dá para deixar o gato doméstico sair de casa, dar uma volta. A chance dele se contaminar é grande”, alerta Dra. Susana.
 
Nova técnica de tratamento
 
O fungo da esporotricose ataca as células da pele, se reproduzindo no tecido e matando essas células. Com a técnica inédita, são criados mais poros na pele, tecnicamente chamados de “neoformados”.
 
“Como não usamos medicação, as células da pele do gato permanecem vivas, porque os poros se formam e se fecham. Já a estrutura celular dos fungos é diferente, então os poros se formam e não se fecham mais, matando o fungo. Como trabalho com eletroporação há 18 anos pensei na possibilidade de provocar a formação dos poros irreversíveis nos fungos, devido suas características celulares. Ou seja, matando o fungo e preservando o tecido normal do gato”, explica o prof. Brunner.
 
A nova técnica está trazendo esperança para os animais e tutores já que exige menor número de manipulações do gato, menor custo, boa eficácia em animais resistentes à terapia convencional e redução do período de tratamento.
 
“O fato de termos animais não domiciliados ou que têm acesso à rua reforça a necessidade de um tratamento assertivo e rápido. Os gatos que são agressivos, que têm pouco contato com pessoas, os chamados “ferais”, teriam que ser medicados diariamente por meses, o que é praticamente inviável. Com essa técnica eles podem ser recolhidos, tratados com uma manipulação apenas, ao longo de 3 meses, e estariam 100% curados. Depois disso, poderiam ser colocados para adoção, como faz a ONG Esporinhos, em São Paulo”, conclui Brunner.

Fonte: Thiago Nassa 

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