Você já comeu alimentos vivos? Ou já se perguntou como é possível aumentar o valor nutritivo da sua refeição? Isso é possível com os microverdes, hortaliças que ficam prontas para o consumo poucos dias após a semeadura. Elas são 100% naturais, sustentáveis e livres de agrotóxicos. Além disso, caíram no gosto de chefs de cozinha e estão conquistando os mais diversos paladares. Por isso, sua presença começou a ser notada também em mercados e restaurantes.
O cultivo de microverdes, com comprimento entre 5 e 10 cm, vem ganhando destaque como uma opção promissora para consumidores em busca de alternativas nutritivas. Segundo dados da consultoria Mordor Intelligence, o mercado global destas hortaliças já movimenta mais de 230 bilhões de dólares, com projeção de chegar a 315 bilhões de dólares até o final de 2028. Embora a liderança no setor seja da América do Norte, o Brasil vem ampliando sua participação. Além disso, o movimento farm to table, conhecido como “da fazenda para a sua mesa”, é uma tendência mundial que vem ganhando força e reconhecimento também no Brasil.
1) Alto valor nutritivo
Em fase adolescente de maturação, os brotos realizam fotossíntese para seu desenvolvimento, na presença de luz, proporcionando sabores intensos e várias colorações. “Somos uma fazenda urbana vertical, onde plantamos para germinar e brotar. Dessa forma, oferecemos com mais acessibilidade e praticidade os benefícios dos superalimentos vivos, sem agrotóxicos e com alto valor nutritivo à vida de todos”, descreve Mel Crema, fundadora da Brotou! Microverdes, pioneira no cultivo do método indoor hidropônico na manta de fibra de coco. Mel produz atualmente microverdes, flores comestíveis e ervilhas tortas.
2) “Salada viva”
Mel conta que a “salada viva” dura até 10 dias na geladeira, seguindo as recomendações do rótulo, e oferece mais nutrientes do que um vegetal adulto, que inicia seu processo de decomposição desde o momento em que é colhido. “Além de serem produzidos em estufa, com ambiente controlado, luz de LED e entrega higienizada, os microverdes têm até 40 vezes mais nutrientes do que os vegetais ‘mortos’. Mas, é preciso essa mudança de mentalidade”, explicou a empresária. Mel contou ainda que a ideia de criar a Brotou! surgiu durante a pandemia como uma alternativa para entreter as filhas e manter a família saudável. Segundo ela, uma das principais diferenças do alimento vivo é que ele é colhido na hora de servir, o famoso farm to table, e não antes, como as verduras e legumes convencionais. Depois de servido, a parte que resta na embalagem, continua viva plantada na fibra de coco. Então a embalagem deve voltar para refrigeração onde pode ser mantida por dez dias.
3) Fazendas indoor
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), apesar do custo de comercialização ainda ser alto, os microverdes são opções rentáveis para horticultores, graças à rapidez das colheitas. Esse método não apenas oferece benefícios econômicos, mas também atende à demanda crescente por alimentos frescos e saudáveis.
Os microverdes vêm com uma manta degradável (fibra de coco) e podem ser produzidos durante todo o ano, usando apenas 5% de água. “Apesar de a hidroponia ainda não ser considerada orgânica no Brasil, esses alimentos são 100% naturais. São altamente saudáveis, com nutrição total sem perda por decomposição, entregues direto do produtor para o mercado”, destaca.
O modelo de fazendas indoor é outra vantagem da produção dos microverdes. “É comum nos Estados Unidos, em países europeus, Israel e China, por exemplo. No Japão, inclusive, já existem prédios com fazendas urbanas indoor, mas no Brasil ainda está no início. E está integrado ao modelo farm to table, de produtos naturais direto da fazenda para a mesa do consumidor”, explica Mel.
4) Isolamento e até no espaço
Mel Crema explica que a produção dos microverdes tem ciclos de 15 dias, sob demanda para evitar desperdício, e com origem rastreada. “Nossa fazenda urbana vertical é um ambiente controlado, que garante a qualidade e a viabilidade da plantação. Todas as vantagens e características dos microverdes estão sendo estudados pela NASA e pela Agência Espacial Europeia como fonte de alimentos frescos em missões espaciais de longo prazo, aumentando a segurança nutricional dos astronautas. Imagine só, um dia poderemos ver produção desses alimentos em Marte”.
A praticidade dos microverdes também é vantajosa diante de cenários de isolamento e quarentena, por exemplo, em cruzeiros marítimos, além de ser opção para evitar tragédias alimentares quando o acesso a insumos se torna restrito, em cidades e regiões que passam por emergências climáticas extremas.
5) Memória afetiva
A chamada confort food é um movimento de alimentação ligado à memória afetiva, de poder manusear os alimentos vivos na mesa, com todos os nutrientes à disposição. “Com os microverdes, incentivamos a criação dessas memórias, com acessibilidade e praticidade para todos, no consumo de alimentos naturais e nutritivos. A essência desse movimento é trazer boas lembranças para quem se alimenta”, descreve Mel.
Esse cenário traz à lembrança de como é ser cuidado por alguém que se ama, tanto no que diz respeito ao consumo, quanto de sua preparação. “Cada um tem seu próprio confort food, ou seja, um tipo de alimento ou prato específico que tem ligação com sua trajetória e história de vida. Tudo isso se soma ao movimento de ESG (ações sustentáveis, sociais e de governança) que vem ganhando o mundo. Mas, é preciso conscientizar as pessoas sobre essa alternativa nutricional, para que o uso dos microverdes não fique restrito a restaurantes e chefs de cozinha”, pontua.
Fonte: André Nunes