Palestrante convidado, professor Paul Lee, expert em Logística Global, detalhou o projeto Belt & Road Initiative (BRI) que aporta investimentos da China na construção de infraestrutura em mais de 100 países e recomendou a inserção do Brasil através do Maranhão nesse programa
O Simpósio Internacional “As Potencialidades do Maranhão na Nova Rota da Seda da China: Oportunidades de Negócios e de Desenvolvimento para o Brasil” promovido pela Fundação Sousândrade em parceria com a SEDEPE / Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Programas Estratégicos do Governo do Maranhão foi encerrado na sede da FIEMA após três dias (11,12 e 13/07) de uma intensa agenda de apresentações e debates sobre logística internacional e a proposta para a expansão da Nova Rota da Seda da China, incluindo o Brasil nessa rota marítima de comércio, através do Maranhão, por seus diferenciais logísticos, portuários e características especiais nos setores de energias renováveis e projetos de hidrogênio verde, gás e petróleo.
O evento foi promovido pela Fundação Sousândrade em parceria com a SEDEPE / Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Programas Estratégicos do Governo do Maranhão, com patrocínio da FIEMA – Federação das Indústrias do Maranhão, Suzano, GPM (Grão-Pará Multimodal), Equatorial Energia e Universidade Ceuma, e apoio da Gasmar – Companhia Maranhense de Gás e do Porto do Itaqui.
O Simpósio trouxe ao Brasil o professor Paul Lee, da Universidade Zhejiang, na China, um dos idealizadores do estudo “Strategic locations for logistics distributions centers along the Belt & Road”, no qual Lee já apontava a capital maranhense como um dos pontos estratégicos para a expansão da Nova Rota da Seda da China em 2020. Indicação essa reafirmada por Lee após essa visita ao Estado, vendo in loco todas as suas potencialidades.
No primeiro dia, Lee mostrou a empresários e investidores, representantes do Governo e da Academia no que consiste o programa BRI, iniciado pela China em 2013, com foco em mais de 700 projetos de infraestrutura e construção de portos, ferrovias, rodovias e aeroportos em mais de 100 países que hoje fazem parte do programa Belt & Road Initiative (BRI).
No segundo dia, a agenda foi sobre logística portuária e aconteceu na sede do Porto do Itaqui, iniciando com a apresentação de Ted Lago, Presidente do Porto do Itaqui, considerado o “Porto do Arco Norte do Brasil”.
Localizado estrategicamente próximo aos principais mercados mundiais, o Itaqui possui moderna infraestrutura para movimentar graneis sólidos vegetais e minerais, líquidos, cargas gerais e contêineres. Líder no escoamento de grãos no Arco Norte do país, importante hub de combustíveis e um dos principais portos públicos brasileiros, o Porto do Itaqui movimentou em 2021 31 milhões de toneladas de cargas. Somente de janeiro e junho de 2022 já foram registrados 15,2 milhões de toneladas.
O porto público do Maranhão está conectado ao restante do país pela Estrada de Ferro Carajás e pela Transnordestina, além de uma conexão indireta com a Ferrovia Norte-Sul, que se liga à Estada de Ferro Carajás em Açailândia (MA). Pelo modal rodoviário a rota é pelas BRs 135 e 222. Ted Lago também lembrou que “o Porto do Itaqui alcançou recentemente o primeiro lugar no Prêmio Portos + Brasil, do Ministério da Infraestrutura”.
Com quadrupla certificação – ISO 27001 (Segurança da Informação), ISO 9001 (Qualidade) e ISO 14001 (Meio Ambiente) e ISO 45.001 (saúde e segurança do trabalho), a EMAP (Empresa Maranhense de Administração Portuária), gestora do Itaqui, está comprometida com a confidencialidade, a integridade e disponibilidade das informações, qualidade das entregas e responsabilidade socioambiental.
Responsável por cerca de 35% de todo o ICMS arrecadado no Maranhão, o Itaqui gera 16 mil empregos diretos e indiretos, alcançando grande relevância socioeconômica em toda a sua área de influência, que abrange 9 estados (MA, TO, PI, BA, MT, MS, PA, GO, DF).
“O Brasil hoje já é um exportador importante de grãos e celulose para o mercado chinês. Com a inclusão do Maranhão na nova rota da seda, um canal de duas vias será possível: tanto a saída de commodities e, esperamos, produtos industrializados, quanto a entrada de produtos que possam atender nossa hinterlândia, ou seja, mais de sete estados brasileiros, com mais de 50 milhões de habitantes. Então, o Governo do Maranhão está tomando a iniciativa de aproximação cada vez maior com o mercado asiático. Parabenizo o Sec. José Reinaldo Tavares pela brilhante iniciativa desse evento, que segue a visão do Governador Carlos Brandão de aproximação com o mercado global e com a China” declarou Ted Lago.
Em seguida, Domingos Reis, Gerente do Porto da Alumar apresentou o porto privado pertencente ao consórcio formado pelas empresas Alcoa, Rio Tinto e South32, voltado para o escoamento da alumina produzida pela Alumar para os mercados internos e externos; com movimentação média de 15.300.000 ton/ano. Localizado ao sul do Porto do Itaqui, opera com dois berços de atracação, sendo um deles exclusivo para receber bauxita e outro berço voltado para a exportação de alumina; em um canal com aproximadamente 2,5 km.
“Trata-se de um Porto pequeno mas extremamente moderno, produtivo e eficiente. Chegamos ao Maranhão em 1983 a partir da construção desse Porto, antecedendo todo o projeto da Alumar, que entrou em operação em 1984” ressaltou Domingos Reis.
Depois, foram apresentados dois projetos importantes de portos privados em implantação: Porto São Luís da Ligga e Terminal Portuário de Alcântara (TPA) da empresa Grão-Pará Multimodal. Ambos já estão em fase de licenciamento, e são relevantes para reforçar a forte vocação portuária do Maranhão – necessária para fortalecer a estratégia de entrada do Maranhão na Nova Rota da Seda proposta pelo Prof. Paul Lee.
Thomaz Baker, Gerente Geral de Obras da Ligga – Projeto Porto São Luís elogiou a iniciativa da SEDEPE na promoção do Simpósio, e falou sobre o empreendimento a ser realizado em diversas fases e que deve ser concluído em sua totalidade em um prazo de 20 anos. Esse será um porto de granéis sólidos e carga geral; com a diferença competitiva de já possuir uma carga âncora oriunda do Pará, de outros projetos da Ligga.
“A Ligga é uma empresa que está se formando e que nasce com a visão moderna de gerar valor para a sociedade, criando um novo polo de desenvolvimento através da geração de milhares de empregos nos Estados do Pará e Maranhão. Uma empresa que conecta o presente ao futuro, com inovação e sustentabilidade. Nossa gestão é moderna, e com valores alinhados aos melhores conceitos de ESG (sigla em inglês para Meio Ambiente, Social e Governança)” enfatizou Baker que encerrou sua apresentação elencando os diversos projetos sociais realizados pela empresa e que vão muito além das contrapartidas sociais previstas em contrato. Exemplo disso foi a realização do curso de capacitação básica em empreendedorismo, voltado para o empoderamento de mulheres das comunidades do Cajueiro e Mãe Chica, que possuíam negócios informais ou desejavam empreender. A Ligga também tem atuado em parceria com as Secretarias Estadual e Municipal de Saúde na oferta de diversas ações sociais nas comunidades vizinhas, incluindo consultas médicas e exames gratuitos, além da emissão de documentos para centenas de pessoas. Ele citou ainda a parceria com FIEMA, SENAI-MA e SINDUSCON-MA na oferta de cursos profissionalizantes para a qualificação de mão de obra da comunidade vizinha, para garantir a empregabilidade da comunidade nas futuras obras do empreendimento.
Já o empreendimento que pertence à empresa Grão Pará Multimodal foi apresentado pelo sócio Paulo Salvador. Ele falou sobre o projeto conjunto de Estrada de Ferro (EF-317) e o TUP para uso privado Terminal Porto de Alcântara / TPA; a serem construídos em regiões estratégicas de escoamento de matérias primas. A Ferrovia EF-317 com 520 km de extensão vai ligar o TPA à cidade de Açailândia, no sul do Estado. O projeto é uma alternativa ao crescimento acelerado do agronegócio brasileiro previsto até 2030 e oferece condições privilegiadas para o escoamento da produção agrícola no Arco Norte entre outras cargas.
Paulo Salvador, destacou diversos benefícios de competitividade desse projeto de logística integrada: “A grande possibilidade que será criada com a EF-317 é de que o transporte ferroviário para o Itaqui possa subir dos atuais 35% para 80%; e de que o Porto do Itaqui possa duplicar rapidamente a sua carga anual dos 31 milhões de toneladas em 2021, para 60 milhões de toneladas ano” enfatizou o sócio da GPM.
Paul Lee também visitou o Centro de Operações do Porto do Itaqui e a área operacional, incluindo alguns berços. E revelou ter ficado ainda mais impressionado com as condições extremamente privilegiadas de modais interligados e localização estratégica que o Maranhão possui; além de destacar o calado diferenciado do Porto do Itaqui que permite receber navios de grande porte, o que é de grande interesse para a China. Todos esses pontos são, segundo Lee, diferenciais importantes para o Brasil integrar a expansão da Nova Rota da Seda da China à partir do Maranhão.
A agenda do terceiro dia foi realizada na sede da FIEMA, e foi aberta com a palavra do Pres. da Federação das Indústrias do Maranhão Edilson Baldez das Neves. Ele elogiou a iniciativa do Simpósio e disse que os empresários estão preparados para fazer a sua parte em um amplo projeto de desenvolvimento nesse Estado que conta com tantas riquezas naturais e localização estratégica. Segundo Baldez, é da união e do planejamento coeso entre Estado e iniciativa privada que o Maranhão poderá dar um grande salto de desenvolvimento.
A primeira apresentação técnica foi sobre logística ferroviária, realizada pelo engenheiro da Valec Urubatan Tupinambá. Em seguida os representantes da SEDEPE / Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Programas Estratégicos do Governo do Maranhão Pedro Dantas da Rocha Neto, Fraga Araújo e Dr. Fabrício Brito apresentaram projetos importantes voltados para temas que são bastante valorizados atualmente pela China – as energias renováveis e a nova economia verde, mercado de carbono zero, fertilizantes e hidrogênio verde. Outro destaque foi o projeto para a implantação de uma ZPE / Zona de Processamento de Exportações no Maranhão que será determinante para facilitar negócios globais no Estado.
O Pres. da Gasmar Allan Kardec finalizou a agenda, falando sobre a localização privilegiada do Estado. Allan detalhou o projeto de exploração de gás natural na Bacia Sedimentar do Parnaíba e as perspectivas de exploração offshore de petróleo na chamada margem Equatorial na região de Barreirinhas – Pará – Maranhão. O Pres. da Gasmar foi enfático ao afirmar que “a nova grande fronteira energética do planeta é aqui. Isso demonstra o quanto o Maranhão é um player estratégico para a China e para o mundo” disse ele.
Paul Lee assistiu com atenção às apresentação e fez um balanço mais que positivo desses três dias do Simpósio: “Ver para acreditar ainda mais… Assim resumo essa visita aqui. Eu já havia indicado as potencialidade do Maranhão em um estudo, mas agora estou ainda mais impressionado com o Porto do Itaqui e as demais condições logísticas e projetos apresentados pelo Estado. Tenho a certeza do grande potencial que existe no Maranhão e no Porto do Itaqui, para futuras parcerias de sucesso com a China na expansão da Nova Rota da Seda; e visando ampliar o comércio de matérias primas como grãos, minério de ferro, novas energias entre outras prioridades da China, gerando benefícios mútuos para os dois países” declarou o professor Lee.
No encerramento do Simpósio, o Sec. José Reinaldo Tavares agradeceu a vinda de Paul Lee ao país e sua importante contribuição para colocar o Maranhão no lugar que merece ocupar: O de player relevante para o mercado global através das rotas marítimas privilegiadas, e sendo o Estado o ponto mais estratégico do Brasil para as rotas no bloco CASA – China, Ásia, África do Sul e América do Sul.
“O Maranhão não pode ter vocação para a pobreza com tantas potencialidades e recursos naturais. O papel da SEDEPE é somar esforços, seguindo a orientação com visão desenvolvimentista do Governador Carlos Brandão para atrair novos investimentos, criar ambiente favorável para negócios globais, em especial com a China e buscar parcerias com a iniciativa privada e com a Academia, como fizemos agora ao trazer um estudioso de tamanho quilate mundial como o Prof. Lee a quem eu já convido para voltar mais vezes ao Maranhão e ser nosso interlocutor na inserção do Maranhão na nova rota da seda da China” declarou Tavares.
Fonte: Cris Moraes