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Silício em pimentão

Controle da murcha de phytophthora

*Por Cristiane de Pieri

*Por Érika Cristina Souza da Silva Correia

O pimentão (Capsicum annuum L.) é uma das principais hortaliças cultivadas no Brasil. Entre os Estados produtores, destacam-se Minas Gerais, São Paulo e Bahia.

Fitossanidade

Em campo aberto ou em ambiente protegido, as plantas podem ser afetadas por fatores estressantes, abióticos ou bióticos, isto é, causados por condições climáticas adversas, desbalanços nutricionais, pragas e doenças que resultam em perdas de produção.

A murcha ou requeima do pimentão, causada por Phytophthora capsici, representa uma das doenças mais importantes doenças para a cultura do pimentão em todo o mundo, principalmente quando as plantas são submetidas a altos índices de umidade e temperatura entre 25 e 30ºC. Além dessa solanácea, o patógeno também afeta mais de 40 gêneros de plantas.

Quando as condições ambientais são propícias para o desenvolvimento do patógeno, nota-se um crescimento esbranquiçado de aspecto cotonoso nos tecidos colonizados, que representam as estruturas vegetativas, (esporangióforos) e reprodutivas (esporângios) do patógeno.

Abertura

P. capsici é um patógeno de solo altamente agressivo que afeta o pimentão em qualquer estádio de desenvolvimento e penetra na planta por aberturas naturais ou ferimentos. Nos estádios de pré e pós-emergência, ocasiona sintomas típicos de podridão de raiz e colo, murcha e tombamento de plântulas (damping-off).

Em plantas adultas, pode causar murcha e necrose em folhas, hastes e frutos, levando a planta à morte. Por se tratar de um patógeno polífago, isto é, infecta muitas espécies de plantas, P. capsici se encontra amplamente distribuído nos solos cultivados, o que dificulta seu controle.

Dentre os métodos de manejo empregados em áreas de produção de pimentão infestadas com Phytophthora, destacam-se o tratamento de sementes com fungicidas, evitar plantios adensados e em áreas com histórico da doença, alqueive, adição de matéria orgânica no solo, irrigação por gotejamento, rotação de culturas com espécies de gramíneas e aplicação de silício (Si).

Silício

O silício é o segundo elemento mais abundante da natureza, logo após o oxigênio, porém, não se encontra na forma que as plantas são capazes de absorver. As principais fontes de silício são o silicato de cálcio, o silicato de sódio e o silicato de potássio.

Este elemento vem sendo empregado no manejo de Phytophthora e tem desempenhado diferentes funções no metabolismo vegetal, influenciando tanto no crescimento e na produção, quanto no aumento da resistência ao ataque de enzimas produzidas pelo patógeno.

A resistência da planta à doença está atrelada à formação de barreiras físicas que implicam em mudanças na anatomia, com células epidérmicas mais espessas e com um grau maior de lignificação e/ou silicificação, efeito que ocasiona dificuldade a penetração de microrganismos fitopatogênicos.

Além disso, também ocorrem alterações bioquímicas em resposta ao ataque do patógeno, por meio da formação de compostos fenólicos e aumento na atividade de enzimas que atuam no sistema de proteção da planta, como quitinases, peroxidases, lipoxigenases, polifenoloxidases, β-1,3-glucanases e fenilalanina amônia-liases.

O silício ainda pode atuar a nível molecular por meio da regulação de genes envolvidos no sistema de defesa das plantas. Diversos estudos têm demonstrado os efeitos positivos do silício sob a indução de resistência a doenças, por formar uma barreira mecânica e química contra patógenos, por reduzir a taxa de progresso da doença, por mitigar o tamanho das lesões e por restringir a produção de esporos que podem infectar outras plantas.

Atuação

A suplementação do solo com diferentes doses de silício elevou os teores de proteínas, peroxidases e quitinases em plantas de pimentão infestadas com P. capsici, além de propiciar incrementos na biomassa vegetal.

Dessa forma, o silicato pode ser utilizado como indutor de resistência, garantindo a produção agrícola sob condições de estresse. Em outras solanáceas, o efeito do silício sob o controle de Phytophthora também tem sido relatado.

Em tomateiro, a aplicação foliar de diferentes doses de silicato de potássio retardou o aparecimento da requeima e as plantas infectadas tiveram a severidade reduzida em 20%. Além da diminuição nos aspectos epidemiológicos, o estudo também apontou respostas de defesa aumentada pelo incremento da polifenoloxidase.

Em batata, a aplicação foliar semanal de silício reduziu em até 50% a severidade da requeima em relação às plantas que não receberam o elemento. Além disso, a aplicação foliar de silício aumentou a produção da cultura.

Portanto, há uma relação direta entre o silício e a resistência da planta à Phytophthora. Em grandes culturas, como a soja, a aplicação de silicato de potássio foi capaz de reduzir a severidade da ferrugem asiática, agente causal Phakopsora pachyrhizi. O elemento também influenciou de forma positiva no aumento de lignina nas folhas, que constitui uma barreira física levando à supressão deste patógeno.

Manejo

O fornecimento de silício pode ser realizado via solo ou mediante pulverização nas folhas com fontes solúveis. Contudo, como o silício não é considerado parte do grupo de nutrientes essenciais ou funcionais do ponto de vista fisiológico para o crescimento e desenvolvimento das plantas, não há recomendações precisas para a aplicação junto ao manejo de adubação convencional via solo.

O que se observa é que a adubação silicatada ainda não é amplamente utilizada na agricultura brasileira, diferente de outros países, como o Japão, Estados Unidos e África do Sul. Isso possivelmente deve-se aos poucos dados experimentais obtidos no Brasil, em comparação aos países anteriormente citados.

O incremento de silício pode ser obtido pela aplicação em sulco de plantio de 100 a 300 kg/ha e em área total entre 1,0 a 3,0 t/ha. A adubação silicatada deve ser conduzida no mês que antecede o plantio e com umidade, para incorporação do elemento no solo.

Adicionalmente, o produto também pode ser misturado com micronutrientes, fungicidas e outros produtos fitossanitários no processo de aplicação foliar.

Custo

Quanto ao custo do silício, a média é de R$ 80,00/ha, mas este valor é variável e dependente da fonte e da forma que a aplicação será realizada, se em sulco de plantio ou em área total, por exemplo.

Diante do contexto, o silício representa um papel importante nas relações Phytophthora-pimentão por proporcionar à planta condições favoráveis para superar o ciclo de parasitismo. Além disso, representa uma tecnologia promissora para reduzir o uso de defensivos em sistemas de produção, e ao mesmo tempo aumentar a produtividade da cultura.

*Cristiane de Pieri – Bióloga e pós-doutora em Proteção de Plantas – UNESP – pieri_cris@yahoo.com.br

*Érika Cristina Souza da Silva Correia – Engenheira agrônoma e professora – Centro Universitário Sagrado Coração (Unisagrado) – erika.correia@unisagrado.edu.br

 

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