O Plano Safra é uma das políticas públicas mais estratégicas do Brasil. Lançado anualmente pelo governo federal, ele estabelece as diretrizes e os recursos destinados ao financiamento da agricultura e pecuária no país para pequenos, médios e grandes produtores rurais. Por meio dele, são oferecidas linhas de crédito com juros controlados, voltadas para custeio, investimento, comercialização e industrialização da produção agropecuária.
Em junho de 2025, o Ministério da Agricultura (MAPA) bloqueou R$ 445 milhões do orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), correspondendo a cerca de 42% dos R$ 1,06 bilhão originalmente destinados ao apoio ao seguro rural. Em 2023, cerca de 14 milhões de hectares estavam segurados. Em 2024, esse número caiu para 7 milhões, e, com o corte, a expectativa é de novo recuo para menos de 5 milhões de hectares em 2025.
Com menos recursos, muitos produtores, principalmente os de menor porte, não conseguirão contratar seguro, aumentando sua exposição às perdas. Esse congelamento impacta significativamente os produtores rurais da região Sul do país, a qual concentra grande parte das subvenções ao seguro rural.
Devido à sua localização geográfica, os estados sulinos são mais vulneráveis às ondas de frio no período de inverno, pois as condições climáticas nesse período são favoráveis para a formação de geadas. Em alguns casos, pode acontecer a geada negra, que diferentemente da geada comum (ou “branca”), não forma cristais de gelo visíveis sobre as plantas, mas o congelamento da seiva delas, ocasionando a morte das mesmas. Além disso, outros eventos extremos como enchentes e estiagem também podem ocasionar a quebra de safra.
Um cenário climático desfavorável e o corte no seguro do rural impactam diretamente o setor produtivo, pois, normalmente, nesses casos, os agricultores reduzem a área plantada ou optam por culturas menos arriscadas, porém, menos lucrativas. Essas mudanças promovem uma variação na oferta dos produtos agrícolas, o que pode promover um aumento no preço do produto na prateleira, chegando diretamente ao consumidor e pressionando a inflação dos alimentos.
Diante disso, é fundamental que o Plano Safra seja conduzido com responsabilidade, transparência e previsibilidade. Não se trata apenas de apoiar produtores, trata-se de assegurar a segurança alimentar da população, a geração de empregos no campo e a sustentabilidade econômica do país. Medidas que afetam diretamente o financiamento e a proteção do produtor devem ser debatidas com o setor e implementadas com cuidado, pois é elementar para o agronegócio brasileiro um Plano Safra forte, moderno e estável.
*Greissi Tente Giraldi é Engenheira Agrônoma, Doutora em Produção Vegetal e Coordenadora dos Cursos Superiores de Tecnologia em Agricultura e Pecuária da UNINTER
Fonte: Julia Estevam