Desordem climática deflagra uma série de outras crises que, combinadas, podem levar o país ao colapso.
A Itália está por um fio. Não enfrenta uma só crise, mas várias, numa combinação que potencializa o que a há de pior em cada uma. Tem a climática, a alimentar, a da escassez, a do custo de vida, a política. Enfim, é a tempestade perfeita, como diz o jargão, um aguaceiro que já começou a desabar e pode levar o país ao colapso, se persistir. O que deflagrou a situação, a peça do dominó que caiu primeiro e derrubou as outras, foi o exato contrário disso: uma seca severa, a pior em 70 anos, que assola Vale do Rio Po, no norte da península, lar do arroz arbóreo e responsável por um terço de toda a produção agrícola
A falta de chuvas e o calor extremo atinge boa parte do continente europeu, mas castiga com intensidade ainda maior esta região italiana. Na Planície Padana, a seca reduziu de forma significativa a produção e a distribuição regional e global do grão e de outros dois itens tradicionalíssimos da gastronomia italiana – o azeite e a passata, que começam a faltar. No caso do primeiro, houve uma redução de 25% na produção em relação ao mesmo período do ano passado e um aumento de 30% nos preços. Com o solo estorricado, as oliveiras não dão fruto, não tem jeito. Em relação ao tomate, a base da passata, os custos já mais que dobraram em dois anos e os importadores estimam mais 50% de acréscimo, mesmo percentual previsto para o arroz arbóreo.
É um problemaço, visto que a escassez e a escalada dos preços aprofundam crise do custo de vida, além de prejudicar bastante exportações. Mas a encrenca não acaba aí, é muito maior. O Pó é o rio mais extenso da Itália, uma artéria crucial para a irrigação de todo o centro-norte italiano, onde a maior parte das frutas, vegetais e grãos que alimentam e abastecem o país são cultivados. Os especialistas ainda não estimaram qual será o impacto da seca no principal celeiro da Itália, mas garantem concordam que será ruim – e gigante.
A escassez de água costuma atingir mais duramente o centro e o sul do país. Este ano, no entanto, é o norte que padece: o volume das chuvas de inverno e primavera na região foi 60% menos do que a média das últimas três décadas.”Tivemos 70% menos neve durante o inverno, quatro meses extremamente secos e temperaturas cerca de quatro graus cima da média. O verão não começou, mas é como se estivéssemos em meados ou final de julho, afirmou Meuccio Berselli, secretário-geral da Autoridade Distrital do Rio Pó.
Como não há governo que resista nem ordem que perdure quando a escassez de alimentos, a carestia, o desemprego e a pobreza se juntam, a desordem chegou na política. Na quinta-feira 14, o primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, renunciou ao cargo. O pedido de demissão foi negado pelo presidente Sergio Mattarella nesta sexta-feira, 15.
Fonte: Revista Oeste / Por: Gabriela Carelli