22.2 C
Jatai
InícioNotíciasCategoria GeralSalmonella: dos riscos às soluções

Salmonella: dos riscos às soluções

De forma sistemática, a avicultura mundial convive com o patógeno, mas é possível minimizá-lo.

A salmonela continua a ser um grande desafio à avicultura mundial. Há mais de 2.600 sorovares de salmonela, diferenciáveis com base em reações sorológicas. A classificação taxonômica, por vezes, pode confundir o técnico que não trabalha diretamente com microbiologia ou diagnóstico.

Um exemplo clássico são as duas salmonelas imóveis – Salmonella gallinarum e a Salmonella pullorum – que causam enfermidades distintas, principalmente em galinhas, perus e codornas, raramente em humanos. Apesar de serem sorologicamente idênticas, diferem entre si quanto ao biovar, ou comportamento no hospedeiro: a Salmonella enterica subsp. enterica sorovar gallinarum biovar gallinarum, causa o Tifo Aviário e a Salmonella enterica subsp. enterica sorovar gallinarum biovar Pullorum, causa a Pulorose.

O médico veterinário e membro do corpo técnico da Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia Avícolas (FACTA), Paulo César Martins, detalha que as outras salmonelas de importância avícola, conhecidas como Salmonelas paratíficas, são móveis e variam consideravelmente em sua epidemiologia, estas bactérias raramente produzem quadro clínico nas aves (assintomáticas). “Quando isso ocorre, geralmente acontece em aves recém eclodidas ou jovens”, explica Paulo Martins.

“Salmonella spp., tais como S. Heidelberg, S. Enteritidis, S. Minnesota, S. Newport, S. Infantis, S. Typhimurium são os principais agentes causadores de doenças transmitidas pelos alimentos (DTA), até mesmo em países desenvolvidos”, relata Martins.

Os principais tópicos com interesse contínuo para o setor avícola incluem:

Por ser um dos maiores exportadores de proteína animal do mundo, o Brasil é referência em qualidade nos produtos de origem animal. Há fatos diretamente relacionados, listados por Paulo César Martins, que merecem destaque.

  • Como país tradicionalmente exportador, a busca de todo o setor de produção animal pela redução do uso preventivo de antimicrobianos (AMC) é uma realidade. A grande maioria das empresas avícola já aboliu o uso dos AMC preventivos em vacinações no incubatório, bem como interrompeu os “tradicionais” tratamentos terapêuticos periódicos com AMC no plantel de reprodutores, para controle de Salmonella
  • Está em consulta pública a proibição definitiva do uso dos antimicrobianos melhoradores de desempenho (AMD) nas rações, na produção animal.
  • Vacinas e produtos naturais, com menor impacto no meio ambiente, tais como: ácidos orgânicos, prebióticos, probióticos, simbióticos, posbióticos, extratos e óleos vegetais, peptídeos e bacteriófagos, constituem ferramentas já disponíveis na substituição dos AMC, na redução da colonização do trato digestivo por Salmonella , alguns até com vantagens zootécnicas e econômicas.
  • Todos os fatores que contribuem para o desenvolvimento de uma microbiota em equilíbrio são de grande valor na redução da colonização do trato digestivo por Salmonella

Ainda há muitos erros nas granjas e frigoríficos?

Paulo César Martins conta que Salmonella spp. consiste em microrganismos amplamente distribuídos na natureza, sendo o homem e os animais seus principais reservatórios naturais.

“Podemos dizer que, em cada ponto da cadeia de produção, granjas de pedigree, granjas de reprodução, locais de estocagem de matérias primas, fábricas de ração, incubatórios, granjas de produção de aves comerciais, abatedouros e frigoríficos, existe o risco de introdução deste patógeno, por acidentes e erros”, afirma. “Daí a necessidade de implementação técnica e sistemática integrada de programas de análise de perigos e pontos críticos de controle (HACCP), em cada uma dessas etapas. As empresas que ainda não adotaram essa política, sempre terão maiores riscos de condenações de lotes por contaminação por esses patógenos”, diz.

Onde se encontram os maiores riscos de introdução das salmonelas na cadeia de produção?

“De modo bastante suscinto vamos citar apenas alguns pontos, sabendo que, para cada um poderíamos ter uma discussão específica”, conta Paulo César Martins.

  • Falha de capacitação, treinamento e educação continuada dos funcionários de cada um dos pontos da cadeia de produção;
  • Adubação da lavoura com fertilizantes biológicos não adequadamente tratados.
  • Estocagem inadequada de matérias-primas;
  • Frequência de limpeza e desinfecção inadequadas na fábrica de ração, transporte, silos de ração, sistema de distribuição de ração e comedouros;
  • Captação, tratamento e manutenção inadequados da água de bebida, bem como em todo o sistema de distribuição;
  • Reprodutoras positivas para Salmonella produzindo ovos férteis;
  • Mistura de ovos de lotes, com distintos status sanitários, na planta de incubação.
  • Disbiose do trato digestivo de qualquer ave da pirâmide de produção;
  • Controle inadequado de vetores biológicos, principalmente os artrópodes (moscas e carrapatos);
  • Controle inadequado de animais sinantrópicos, principalmente os pássaros e roedores, que podem se infectar, multiplicar e até adoecer por alguns sorovares de Salmonella ;
  • Localização e manejo do sistema de eliminação de carcaças nas granjas. Não raro o manejo deficiente da composteira consiste numa fonte de infecção;
  • Processamento / compostagem inadequada de cama entre lotes. Fundamental o controle da temperatura e umidade de todo o processo para se ter resultados eficazes;
  • Intervalo entre lotes não compatível com o status sanitário do lote anterior: mínimo de 15 dias para lotes negativos e 30 dias, ou mais, para lotes positivos;
  • Manejo pré-abate inadequado, com longos intervalos entre a saída do lote do galpão e o abate;
  • Falhas na desinfecção de caixas e veículos de transporte de aves ao abatedouro.
  • Riscos a alta densidade;
  • Vazio sanitário curto e realizado de forma incorreta.

E em quais aspectos estamos evoluindo?

Hoje há maior consciência dos técnicos avícolas no sentido de se evitar o uso dos antimicrobianos de forma preventiva. “O conceito de colonização precoce, e ao longo da vida, de todo o trato digestivo das aves que compões a pirâmide de produção avícola – das avós, até os frangos de corte – já é adotado por empresas comprometidas com a redução do uso de antimicrobianos”, afirma Martins.

“Importante é que essa abordagem não somente ajuda na prevenção da colonização do trato digestivo por Salmonella spp., bem como no equilíbrio nas populações de APECs e clostrídios, sempre presentes neste sistema”, conta. “Por outro lado, o PNSA desenvolveu e desenvolve regras, sistemas de monitoria e manejo de lotes infectados no abate, além de outras ações, com vistas a melhorar a segurança do produto final (alimento)”, finaliza Paulo César Martins.

Fonte: Giovana de Paula

spot_img

Últimas Publicações

ACOMPANHE NAS REDES SOCIAIS