A Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) e a comissão externa que acompanha os danos causados pelas enchentes no Rio Grande do Sul, ambas da Câmara dos Deputados, promoveram, nesta terça-feira (5), um debate sobre a renegociação das dívidas dos produtores rurais gaúchos. A iniciativa atendeu ao pedido do deputado Afonso Hamm (PP-RS), integrante da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que expressou preocupação com a situação alarmante vivida pelos produtores gaúchos.
“O Rio Grande do Sul sofreu, há seis meses, perdas imensuráveis no agronegócio devido às enchentes que atingiram o estado em maio. Os produtores estão desesperados, ansiosos e pedem, com urgência, o alargamento do prazo de pagamento das dívidas agrícolas e o acesso ao crédito para viabilizar a próxima safra”, alertou Hamm.
O deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) elogiou a colaboração entre os parlamentares gaúchos e destacou o trabalho conjunto na busca por soluções para os danos causados pelas enchentes, especialmente no Vale do Taquari. Ele criticou a distância entre os formuladores de políticas públicas em Brasília e a realidade dos produtores afetados, enfatizando a necessidade de ouvir diretamente as entidades e os produtores impactados.
“Falar até papagaio fala. Eu acho que o discurso já alcançou nossa cota. Eu realmente preciso ouvir as pessoas e quem está sofrendo na ponta. Nós, parlamentares, conhecemos o que acontece lá, porque rodamos muito, mas quem está aqui em Brasília, desenhando as políticas públicas, não tem atendido aos produtores na medida de suas necessidades”, afirmou.
O deputado também reforçou a importância do setor agrícola gaúcho para a economia do país. “Para nós e para o Brasil, não há assunto mais importante do que resolver a situação do agro gaúcho. Ele é o motor do Rio Grande do Sul e do Brasil, seja pela força da nossa produção, seja pelo nosso exemplo, que foi tão bem exportado para outras regiões do país.”
O deputado Alceu Moreira (MDB-RS) ressaltou a situação crítica das produções rurais no Rio Grande do Sul. Segundo ele, tratar esse caso como um financiamento comum é um erro grave, pois o estado sofreu uma catástrofe em que muitos agricultores perderam tudo da noite para o dia. “O cidadão, num dia, dormiu com seus aviários, pocilgas e moradia, e, no dia seguinte, estava comendo numa marmita de isopor, porque não restava mais nada.”
Moreira enfatizou a necessidade de remobilizar a economia, destacando que os produtores não foram responsáveis pelas perdas que sofreram. Segundo ele, enquanto as autoridades discutem regulamentações, os produtores estão sem acesso ao crédito, aguardando um fundo garantidor que, apesar de prometido, ainda não foi implementado. Ele citou casos de cooperativas, como a Cotribá, que estão sem recursos para apoiar seus associados. “É uma vergonha deixar o povo gaúcho mendigando, pedindo pelo amor de Deus para conseguir plantar”, afirmou.
A crítica também se estendeu à falta de compreensão e de respostas adequadas por parte das autoridades. “O produtor tem ouvido discursos vazios e desrespeitosos. Promessas como o repasse de R$ 400 milhões são insuficientes frente às perdas bilionárias. Esses discursos nos agridem, porque, na verdade, escondem um disfarce”, declarou Alceu, cobrando urgência em ações concretas.
Por fim, o deputado abordou a questão da crise climática, afirmando que ela deve ser reconhecida, mas não usada como desculpa para omissões do poder público: “A crise climática existe e deve ser considerada na dimensão de sua gravidade, não para eximir os incompetentes de suas responsabilidades”, concluiu o parlamentar.
Burocracia e falta de crédito
A audiência também contou com a participação de representantes de entidades importantes do setor, como Graziele de Camargo, coordenadora do Movimento SOS Agro RS, que expressou a frustração dos agricultores em relação às promessas não cumpridas. Ela criticou a burocracia envolvida na implementação de políticas e lembrou que muitos agricultores estão lutando para plantar sem recursos adequados. “Foram criadas soluções que não funcionaram, uma burocracia desnecessária. O que os produtores precisam é de crédito para continuar suas atividades”, desabafou.
Graziele criticou duramente o processo burocrático que tem dificultado o acesso ao crédito necessário para a recuperação da produção rural. “O que nós pedimos é simples: acesso a crédito e soluções reais para que possamos continuar trabalhando”, afirmou. “Nosso tempo já acabou, não podemos esperar mais”, concluiu.
Urgência nas ações governamentais
O deputado Pedro Westphalen (PP-RS) comparou a situação de emergência dos agricultores à pandemia, enfatizando a necessidade urgente de desburocratizar o acesso aos recursos. “Como médico, sei que, quando um paciente está na UTI e falta oxigênio, ele vai morrer. Precisamos de oxigênio urgente. Na pandemia, não faltou dinheiro para municípios, para a saúde, para nada, porque era uma situação emergencial. Agora, vivemos uma catástrofe no Rio Grande do Sul que afetou o setor que sustenta o PIB deste país, o agronegócio”, pontuou Westphalen.
O parlamentar expressou sua solidariedade aos agricultores presentes, que enfrentaram longas viagens para participar da audiência, e concluiu dizendo que “o que temos de fazer é disponibilizar imediatamente os recursos para esse segmento e permitir que façam o que sabem: produzir”.
O deputado Lucas Redecker (PSDB-RS) manifestou preocupação e ressaltou a necessidade de ações mais efetivas e urgentes. “É importante reconhecer os resultados obtidos por esta comissão. Como parlamentares, temos o dever de buscar soluções concretas”, afirmou.
Redecker também fez um apelo pela união dos parlamentares em prol do setor. “Precisamos ir além e nos unir em um esforço comum para alcançar um entendimento mútuo. Não podemos permitir que nossos produtos sejam deixados de lado. É essencial encontrar uma solução para a questão das dívidas, para que os produtores possam continuar trabalhando e prosperando”, concluiu.
Ao final da audiência, o deputado Afonso Hamm ressaltou a importância de priorizar o atendimento àqueles que foram mais afetados. “Solicitamos prioridade para as pessoas atingidas por essa tragédia. Sem essa medida, enfrentaremos uma situação complicada: os recursos não serão suficientes para todos, e isso deixará alguns desamparados. É fundamental que nos unamos para viabilizar essa assistência. Esse é o nosso pedido”, concluiu.
Fonte: Imprensa FPA