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Restauração ecológica oferece novas perspectivas aos agricultores da bacia do Descoberto

“Não estamos falando do futuro, estamos falando de hoje, do presente. Essas plantas já trouxeram para nós mais qualidade de vida e melhorias para a nossa chácara. Isso não tem preço”. Esse é o depoimento do agricultor Vicente Ferreira, do Núcleo Rural Capão da Onça (Brazlândia – DF). Ele e sua esposa, a agricultora Florinei Cardoso, foram os primeiros a aderirem ao Projeto Produtor de Água no Descoberto, iniciado em janeiro deste ano.

A satisfação dos agricultores vem de ações realizadas nos últimos dois anos e que abriram portas para que eles não apenas firmassem o primeiro contrato do Projeto Produtor de Água no Descoberto, como se tornassem referência de boas práticas de conservação da vegetação. O projeto intitulado “Restauração ecológica no contexto do Programa Produtor de Água do Alto Rio Descoberto visando à sustentabilidade de bacias hidrográficas” foi coordenado pela Embrapa e financiado pela FAP-DF. 

“Há cerca de dois anos começamos esse trabalho. Algumas árvores estavam morrendo, o solo descoberto, a chuva quando caía levava tudo o que tinha na parte superior do terreno para baixo. Lá a água chegava com muita força e corroía o solo, assoreava os rios, sujava o curso d´água. Foi quando a Embrapa começou a trabalhar com a gente e vimos essa realidade mudar”, contou o agricultor, produtor orgânico de frutas como maracujá, pitaya, abacate, amora e banana.  

A área de 18 hectares do senhor Vicente e da dona Florinei fica na beira do córrego Bucanhão. “Na Área de Preservação Permanente, encontramos uma parte coberta com vegetação nativa, com pontos de invasão por espécies exóticas, e outra parte já dominada por espécies exóticas. A partir do diagnóstico, recomendamos o cercamento da área e o enriquecimento, por meio do plantio de mudas de espécies arbóreas nativas”, afirmou a pesquisadora da Embrapa Cerrados Fabiana Aquino, líder do projeto. 

A pesquisadora, no entanto, faz uma ressalva. “É importante entender que plantar mudas não equivale a restaurar um ecossistema. O plantio de mudas deve ser visto como um ponto de partida, que somado a outras ações, visa estimular o processo natural de restauração. Em alguns casos, esse processo ocorre de forma eficaz, mas em outros, pode não se concretizar. Por isso, o monitoramento é tão importante”, afirma.

De acordo com a especialista, parte da APP da propriedade do senhor Vicente, dominada por espécies invasoras, se tornou um desafio para as ações de restauração. “Plantas invasoras que dominam uma área podem limitar a germinação e, consequentemente, o estabelecimento das espécies nativas”, explicou. Por conta disso, segundo ela, está sendo feito um trabalho de mapeamento das áreas que possuem espécies invasoras nessa região do Alto Descoberto. “Assim, vamos ter a clareza do tamanho do problema que enfrentaremos. Queremos oferecer uma solução aos produtores em termos de bacia”, afirmou a pesquisadora Marina Vilela, da equipe do projeto. 

De acordo com a pesquisadora Fabiana Aquino, é preciso enxergar de forma individualizada os gargalos e os desafios presentes em cada uma das propriedades. “Nosso objetivo é propor soluções específicas e voltadas para aquele determinado local. A proposta para o agricultor X pode não ser a mesma para o Y. Temos que pensar em soluções locais para enfrentarmos da melhor forma os diferentes desafios”, afirmou. 

Atualmente, o Projeto Produtor de Água no Descoberto, conduzido por uma Unidade de Gestão do Projeto (UGP), que conta com a participação de cerca de 20 instituições, está na fase de elaboração dos Projetos Individuais de Propriedade (PIP), a cargo da Emater-DF. É nesse momento que é apresentado aos produtores um diagnóstico da área e as recomendações de práticas que devem ser adotadas. “Cabe aos produtores aceitar, total ou parcialmente, as recomendações expressas no PIP. O diagnóstico é compartilhado com o produtor para que fique claro quais são os benefícios ambientais e econômicos”, afirmou a pesquisadora. 

Ela explicou que o Programa usa o conceito de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Parte dos recursos financeiros repassados aos produtores, nesse caso, vem da Caesb, que os obtém via pagamentos dos usuários. “Esse modelo é muito interessante, porque parte do que todos nós pagamos na conta de água vai beneficiar diretamente o produtor”. Esse pagamento aos produtores é feito com base nos projetos individuais acordados no início da parceria. 

A pesquisadora ressaltou, no entanto, que além do pagamento direto aos produtores, feito de forma anual, há os ganhos indiretos em participar do projeto, como por exemplo a instalação de cercas, manutenção de estradas, terraceamentos se for o caso, tudo feito com o apoio das instituições parceiras do Programa. “Muitos agricultores são atraídos pela questão financeira, mas acredito que o mais importante de tudo é o apoio técnico e de equipamentos que recebemos”, destaca o produtor Vicente Ferreira.

“Tentamos mostrar aos produtores que esse trabalho vale a pena, não só em termos financeiros, mas também de ganhos para toda a comunidade. Uma ação feita aqui beneficia todo mundo”, enfatizou a pesquisadora. Segundo ela, o Programa Produtor de Água, criado pela Agência Nacional de Águas (ANA), estimula os produtores a investir em práticas de conservação do solo, em muitas regiões do Brasil, em prol de um elemento que é essencial para a agricultura, a água. No DF, o Programa Produtor de Água foi iniciado em 2012 na bacia do Pipiripau. 

“A água está sendo preservada por meio do manejo adequado do solo”, afirmou a pesquisadora. Ela lembra que solo e água estão muito conectados. “As práticas conservacionistas ajudam a aumentar a infiltração da água no solo e a evitar o escoamento superficial. Assim, o agricultor está contribuindo para a conservação da água. Trata-se da união do manejo bem feito do solo, que mantém a quantidade e a qualidade da água”. 

Fonte: CERRADOS NCO

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