A realização de uma estação reprodutiva definida já é uma realidade na pecuária de corte. No entanto, mais da metade das fêmeas ainda continua sendo coberta por meio da monta natural. Dentro desse contexto, mais de 60% das fêmeas trabalhadas estão paridas e permanecem em anestro, enquanto apenas 5% a 20% apresentam corpo lúteo no início do protocolo. Na prática, isso significa que, em 30 dias de estação de monta no Brasil, apenas 3% das fêmeas emprenham exclusivamente pela monta natural (Rubin et al., 2015). O atraso na concepção, somado à ausência de melhoramento genético, pode gerar consequências que perduram por anos dentro das fazendas.
Neste contexto, a Inseminação Artificial em Tempo Fixo(IATF) assume papel decisivo para aumentar a eficiência reprodutiva. Em 2024, cerca de 92% das inseminações realizadas no país foram feitas por meio da IATF, reforçando seu papel estratégico no manejo reprodutivo. Integrando essa estratégia a uma estação de monta estruturada, a IATF concentra gestações no início da estação, eleva a fertilidade, acelera o ganho genético e gera bezerros mais uniformes e pesados.
Ainda assim, mesmo após a primeira IATF, nem todas as fêmeas concebem. Entre aquelas que permanecem vazias no primeiro diagnóstico, apenas 20% a 50% estão ciclando, evidenciando que, quando destinadas ao repasse, a taxa de prenhez alcançada é reduzida. É justamente aqui que a ressincronização se torna decisiva: ao ser inserida no programa, amplia os ganhos da primeira IATF, eleva a eficiência reprodutiva e produtiva, aumenta a prenhez final, reduz o intervalo entre partos e pode até diminuir a necessidade de touros no sistema.
A base de dados do Programa Concept Plus, que já acumula mais de 18 milhões de informações de mais de 20 estados brasileiros e 4 países vizinhos, confirma essa tendência. Em oito anos de acompanhamento, o uso da ressincronização cresceu expressivamente no Brasil (Figura 1): em 2016-2017 representava 14% do total de IATFs, enquanto em 2024-2025 alcançou 24,9%, sendo 4,2% referentes à segunda ressincronização (IATF 3).
Quando observamos as regiões do Brasil, o cenário também revela diferenças interessantes. O Centro-Oeste, líder em número absoluto de IATFs, apresenta o crescimento mais consistente e progressivo, reflexo da adoção cada vez maior da biotecnologia para elevar a eficiência das fazendas. No Sul e Sudeste, há oscilações ao longo dos anos, mas o Sudeste mantém destaque, com maior proporção de ressincronizações e uso expressivo da segunda ressincronização. O Norte, por sua vez, não mostra crescimento acentuado, mas segue com utilização estável dessa estratégia. Já o Nordeste mantém um comportamento constante, com exceção das estações 2022-2023 e 2023-2024, quando houve aumento mais evidente na proporção de ressincronizações.
Apesar do crescimento geral, vale destacar que, nos últimos quatro anos, a participação das ressincronizações no total de IATFs realizadas permaneceu praticamente estável. Além disso, quando comparamos com os números divulgados pela ASBIA (2024), percebe-se uma redução no volume de inseminações como um todo — movimento provavelmente associado à fase de baixa do ciclo pecuário.
As ressincronizações, portanto, reforçam exatamente esse papel: promover o estímulo hormonal para que as fêmeas que permanecem em anestro possam conceber. Os dados do Concept Plus mostram esse avanço de forma consistente, mas também reforçam a necessidade de atenção à fertilidade: a cada nova IATF, há uma queda média de 5 pontos percentuais na prenhez, reflexo natural do fato de que as fêmeas mais férteis emprenham logo na primeira inseminação. Essa tendência se repete em todas as regiões do país, com variações que oscilam entre 3 e 6 pontos percentuais.
Diante desse panorama, a mensagem é clara: ano após ano, cresce o número de IATFs e ressincronizações realizadas no Brasil, consolidando um cenário promissor. Quando bem planejada e executada, a IATF, aliada à ressincronização, transforma índices reprodutivos e amplia a rentabilidade. Trata-se de ciência aplicada ao campo, capaz de entregar resultados tangíveis, previsíveis e sustentáveis para o pecuarista.
Fonte: Gustavo Sousa



