Por Luana Bonamigo*
A cultura do algodão é uma das mais complexas e desafiadoras, pois requer alto investimento e está suscetível a fatores climáticos e macroeconômicos. Apesar disso, é rentável ao se considerar o amplo leque de oportunidades do setor têxtil. Dados recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já indicam uma possível retomada no volume exportado para um patamar próximo a 2 milhões de toneladas da pluma ao final da safra 2022/2023, além de um estoque de passagem de aproximadamente 1,75 milhão de toneladas.
Neste cenário, o preço pela pluma pode sofrer variação e o que influencia o seu valor são as características físicas da fibra no pós-colheita. Quando falamos de qualidade de fibra, consideramos elementos como o índice de fibras curtas (SF), comprimento (UHML ou POL), uniformidade do comprimento (UI), a resistência (STR) e o micronaire (MIC), características levadas em consideração para determinar a qualidade do produto, seu valor no mercado e requisitos para exportação.
A tecnologia envolvida para a identificação correta da qualidade da fibra após o beneficiamento, por meio de equipamento de alto volume (HVI) tem se consolidado como a base para o comércio nacional e internacional do algodão, agregando maior precisão. Mas o que o produtor pode fazer para alcançar elevados patamares de qualidade? O segredo principal está na genética presente na semente e nas melhores práticas de manejo.
Podemos considerar algumas ações como as mais importantes para se alcançar uma qualidade de fibra que atenda padrões de exportação e que devem ser tomadas pelo cotonicultor para obtenção de um alto teto produtivo. A trajetória passa inicialmente por uma semente com biotecnologia capaz de proteger o algodoeiro de doenças, pragas e plantas daninhas e garantir adaptabilidade por região e para duas safras. Em seguida vem a fertilidade e compactação do solo, depois o controle eficaz de doenças e pragas e a regulagem de crescimento para equilíbrio da planta ao longo do ciclo.
Sabe-se que o clima está cada vez mais imprevisível e sujeito a intempéries, ainda mais em tempos em que já sentimos globalmente o impacto das mudanças climáticas. Mas há um importante fator que o agricultor pode controlar e que afeta diretamente a qualidade da fibra, que é a interação entre a genética e o ambiente. Isso porque uma semente com biotecnologia associada a um manejo integrado ao ambiente, junto ao trabalho de perfil do solo, pode garantir maior produtividade, sanidade e qualidade da pluma.
Com isso, podemos tornar a cultura do algodão mais tolerante a chuva, escassez hídrica ou calor extremo, além de ainda garantir rentabilidade para uma commodity de um mercado mundial que movimenta anualmente cerca de US$ 12 bilhões. Hoje o produtor encontra diversas soluções que permitem o manejo integrado, que vão desde a escolha da cultivar, a época de plantio, a fertilidade do solo, o investimento na parte orgânica e a adoção de regulador de crescimento. Novos germoplasmas trazem potencial de rendimento de fibra em torno de 43% e resistência às principais doenças e lagartas que afetam o algodoeiro.
Vale lembrar que a adoção de manejos que viabilizem a produção responsável, associando maior produtividade e economia de insumos, vai além da qualidade da fibra como resultado. Ao produzir com sustentabilidade e otimizando o uso de recursos naturais, o cotonicultor não só pode alcançar uma maior produtividade em uma mesma área como atende à uma importante demanda de mercado. Essa demanda, associada também à maior rastreabilidade em toda a cadeia, parte não apenas da indústria têxtil e das marcas, mas também do consumidor, cada vez mais consciente.
A rastreabilidade, que traz um raio-x do produto que chega ao mercado, é um reflexo da busca cada vez maior pela produção ética e responsável, que tem guiado inclusive decisões de negócios e investimentos por parte das empresas em diferentes setores. Produzir de forma eficaz, sustentável e com qualidade final será mandatório no futuro. Cabe ao cotonicultor investir nas melhores práticas para extrair o máximo de qualidade de fibra com a menor pegada ambiental possível — ferramentas para isso já estão no campo.
* Luana Bonamigo é especialista em algodão e Gerente de Desenvolvimento de Mercado de Algodão da divisão agrícola da Bayer
Fonte: Manoela Machado