A agricultura mundial vive um momento de transição e o Brasil assume a ponta como protagonista. A chamada agricultura regenerativa, que busca restaurar a saúde do solo e tornar os sistemas produtivos mais equilibrados e resilientes, não é exatamente uma novidade para o campo brasileiro. Na prática, ela reúne técnicas que o produtor nacional já aplica há anos, como o plantio direto, a recuperação de pastagens degradadas e a integração lavoura-pecuária-floresta.
A base da agricultura regenerativa está na combinação entre tecnologia, biologia e observação da natureza. Em vez de depender exclusivamente de insumos químicos, o agricultor passa a investir em bioinsumos, micro-organismos que ajudam na fixação de nitrogênio e na absorção inteligente de nutrientes. Essa mudança não apenas reduz custos com fertilizantes – que hoje representa algo em torno de 85% das importações no mercado do agro – mas também diminui a emissão de gases e melhora a estrutura do solo.
O tema foi destaque no novo episódio do podcast Minuto Agro, da Indigo Ag, que recebe o engenheiro agrônomo e membro do Conselho Científico do Agro Sustentável, Luiz Rangel, para discutir como essa abordagem está transformando a produção no Brasil. “A agricultura regenerativa não é um conceito em si, é uma trajetória. Ela parte da ideia de que práticas baseadas na natureza podem transformar ambientes degradados em sistemas produtivos mais estáveis e sustentáveis”, explica o especialista. Segundo ele, o termo é novo, mas o Brasil pratica esse modelo há pelo menos quatro décadas. “O agricultor só adota uma prática se ela for rentável. E a boa notícia é que, ao aplicar técnicas regenerativas, o rendimento é maior. É lucro com sustentabilidade”, reforça Rangel.
Pesquisas da Embrapa indicam que a adoção dessas práticas pode aumentar a produtividade de grãos em até 20%. Além disso, o manejo regenerativo torna o campo mais resistente a períodos de seca e a mudanças climáticas, um desafio que tende a crescer nas próximas décadas. Mesmo com tantos benefícios, ainda há resistência à adoção da agricultura regenerativa. Para Rangel, o principal obstáculo é o desconhecimento. “O produtor rural é naturalmente cauteloso. Ele precisa ver para crer. Mas, quando observa o vizinho aplicando bioinsumos e colhendo bons resultados, a mudança começa a acontecer”, explica.
A troca de experiências e a disseminação de informações têm sido fundamentais nesse processo. Regiões como Luiz Eduardo Magalhães (BA) e Sorriso (MT) são exemplos de polos agrícolas que já incorporaram o modelo regenerativo com sucesso, unindo produtividade e sustentabilidade.
Os bioinsumos e a revolução verde
Os bioinsumos são os protagonistas dessa mudança. Além de substituírem parte dos fertilizantes sintéticos, eles contribuem no controle biológico de pragas e doenças, reduzindo a necessidade de defensivos químicos. “Usar produtos biológicos é estratégia. Eles reduzem custos e aumentam a resiliência da lavoura. É como a medicina: o agrônomo precisa saber quando e como aplicar o remédio certo”, compara Luís Rangel.
A perspectiva é que, nos próximos anos, o Brasil se consolide como líder global em produtos biológicos. Um novo marco regulatório de bioinsumos está em andamento e deve ampliar o acesso a tecnologias inovadoras, mantendo a competitividade do agro brasileiro no cenário mundial. “O produtor regenerativo não vende só soja, milho ou algodão. Ele vende história, sustentabilidade e biodiversidade. E isso, no futuro, será o maior valor agregado da agricultura brasileira”, endossa.
Fonte: Robson Merieverton dos Santos Silva



