Representantes das principais regiões produtoras apresentaram as estimativas da produção, em evento promovido pela Abitrigo
A Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) reuniu na tarde de quinta-feira, 09 de setembro, representantes de regiões produtoras do grão em um webinar que levantou as expectativas em relação à safra nacional do cereal.
“Esse é um momento muito importante para todo o setor, pois temos a oportunidade de, por meio dos relatos apresentados, termos uma visão panorâmica da produção nacional de trigo”, destacou o presidente-executivo da Abitrigo, Rubens Barbosa.
“Iniciamos a safra de 2021 tendo, talvez, um dos cenários mais desafiadores dos últimos anos. Tivemos uma quebra considerável do trigo em algumas regiões, como São Paulo e Paraná, e também da safra de milho, que deu sustentação aos preços do trigo. Além disso, contamos com uma volatilidade muito grande do câmbio, que tem dificultado os planejamentos dos moinhos. Enfim, um cenário desafiador para todos que estão na cadeia do grão”, destacou o Commodity Trader na Gavilon, Pedro Sampaio, moderador do evento.
Iniciando as apresentações, o agrometeorologista da Climatempo, Celso Luís de Oliveira Filho, destacou o cenário climático dos próximos meses, enfatizando as previsões direcionadas ao cultivo do trigo no Brasil. “Tivemos, nos últimos meses, três ondas de frio em sequência, que afetaram os campos do cereal. Nessa reta final da colheita, destacamos um cenário de neutralidade, após o La Niña. Porém, se olharmos o que vai acontecer pela frente, percebemos um resfriamento do Pacífico, que pode indicar o desenvolvimento de um novo fenômeno”, destacou.
“O cenário é de chuvas fortes no Sul, mas não persistentes. Chances de queda de temperaturas, de forma acentuada, até o final de setembro e, no caso do Cerrado, um aumento de precipitações já em outubro, mas com mais certeza no decorrer de novembro”, resumiu ele.
Projeções da produção de trigo no Brasil
Abrindo as perspectivas da produção de trigo nas principais regiões, o diretor-técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural – Emater/RS, Alencar Paulo Rugeri, apresentou o cenário da produção nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. “Tivemos um incremento de 13,29% de área e 21,6% de produtividade. Temos uma expectativa de produção em torno de 3,5 mi toneladas para a safra desse ano. É um ano animador para a cultura do trigo gaúcho e para todas as culturas de inverno no estado”, destacou
Para Santa Catarina, a expectativa é de um incremento de área e de produtividade, com estimativa de produção de mais de 307 mil toneladas no estado. “Temos a expectativa de uma boa produção de trigo nos dois estados nesse ano, o que pode garantir a alta rentabilidade aos produtores”, concluiu Rugeri.
O Paraná já iniciou a colheita na região Norte do estado, com uma produtividade não muito alta, porém a expectativa é de uma boa safra esse ano. “As lavouras estão vindo bem, se desenvolvendo em boa parte das regiões de maneira satisfatória, com previsão de alta produtividade. Temos boas estimativas para a safra paranaense até o fim da colheita”, ressaltou em sua apresentação o gerente de Suprimentos e Logística no Moinho Globo, Rui Souza.
O gerente estima que o Paraná terá uma produção de cerca de 3,3 mi toneladas.
Os números de São Paulo não são animadores, de acordo com o presidente da Câmara Setorial de Trigo do estado, Victor Oliveira. Segundo ele, as geadas e a estiagem castigaram os campos paulistas, prejudicando a produção do cereal. “Ainda é cedo, pois apenas 10% do trigo do estado foi colhido, mas sabemos que a expectativa é de uma safra não muito positiva. Tínhamos uma estimativa de uma safra recorde, mas os fatores climáticos impactaram a produção”.
Representando o Cerrado, o presidente da Associação dos Triticultores do Estado de Minas Gerais (Atriemg), Eduardo Abrahim, enfatizou que o cenário da região não é muito diferente de São Paulo. De acordo com ele, os campos foram mais afetados pelas geadas do que pelas secas. “Em Minas Gerais, podemos prever uma produção de cerca de 130 mil t, o que, em comparação com o ano passado, indica uma quebra de praticamente 50%.
“Em Goiás, o cenário é muito parecido, porém um pouco melhor, com menos áreas afetadas pelas mudanças climáticas. A estimativa é de 150 mil t no estado. Já a Bahia, acreditamos que teremos entre 20 e 30 mil t”
Trigo na ração animal
A quebra da safra do milho impactou o mercado, que passou a buscar o trigo para a nutrição animal, pelas fábricas de ração, movimento comum no mercado nacional e internacional. “No mundo, cerca de 20% do volume total de trigo é utilizado para a alimentação animal. No Brasil esse número pode chegar a cerca de 6% da produção”, informou o gerente Nacional de Originação de Grãos na Seara, Valdecir Martins.
“O uso do trigo na ração animal, de maneira geral, é um produto alternativo, entrando na composição quando o preço do milho sobe muito, atrelado a escassez, ou quando o cereal não tem qualidade para a panificação e acaba sendo comercializado para ração animal”, explicou ele.
Encerrando o evento, o moderador destacou o dinamismo do mercado, ressaltando a alta concorrência pelo trigo gaúcho, pela movimentação comercial da ração animal, da exportação e das trades. “Começamos o ano de 2021 com uma expectativa de safra recorde de trigo no Brasil, mas, com os relatos que acompanhamos aqui, podemos dizer que temos uma perspectiva de safra normal, na casa de 6 ou 7 mi toneladas.”, concluiu.
Fonte: Attuale Comunicação