Método de origem australiana, indicado pela Arco, causa menos estresse ao ovino, mas falta mão de obra no Brasil
Assim como os uruguaios possuem a Grifa Verde, os produtores de lã gaúchos podem receber o selo de certificação da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco). Para isso, devem seguir algumas práticas que irão garantir um produto sem incidência de contaminantes que desvalorizam a produção. Desde que iniciou, já foram certificados cerca de 500 quilos de lã Merino, quase 7 toneladas de lã Ideal e mais de 7,5 toneladas de lã Corriedale.
Entre os objetivos do programa da Arco está melhorar a qualidade da lã colhida nas propriedades, promover a valorização da lã produzida no estado, estimular a utilização diversificada da lã e divulgar as propriedades do produto. Uma das ações do programa para isto, é o credenciamento das comparsas de esquilas pela Arco através de cursos, uma parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS). Sérgio Muñoz, inspetor técnico da entidade responsável pelo programa de certificação, relata que, atualmente, é preciso contratar comparsas do Uruguai. “Eles são os melhores no método tally-hi”, afirma.
Com a chegada da primavera, começa a fase de colheita da lã no Rio Grande do Sul. É nesta época que os maiores especialistas em esquila de ovinos chegam ao Estado com as comparsas uruguaias, contratadas por temporada, para realizarem a colheita da produção gaúcha. Foram os uruguaios que introduziram, em 1972, a técnica surgida na Austrália, entre os anos de 1948 e 1950. O tally-hi é hoje uma das formas indicadas para quem busca a certificação da lã dentro do programa da Arco. Conforme Muñoz, o método de colheita da lã é fundamental para receber a certificação da associação. No caso do tally-hi, a ovelha não é amarrada e ele se torna um grande aliado do bem estar animal. “Com a ovelha solta, ela não passa por stress”, garante o criador que, desde 2009 utiliza esta forma de esquila em sua propriedade. “Sou o único em Herval a usar a técnica. É uma questão de mudança cultural”, afirma.
Como a lã certificada é a que não contém contaminantes, ou seja, sai do laneiro pronta para ir para a indústria, Muñoz conta que, quando viu a esquila tally-hi pela primeira vez, pensou que o produtor perdia dinheiro. “Após retirar as lãs de desborde e contaminadas com urina, sobra 70% do velo aproximadamente. Contudo a comercialização é feita 90% em cima do velo e o resto de subprodutos, ou seja, pata, área de urina, virilha, barriga, em torno de 20% a 25%”, conta. No entanto, o produtor explica que de um total de mil quilos com 800 quilos de velo, o comprador paga como se fossem 900 quilos a preço de velo e o restante a preço de subprodutos de lã certificada.
Muñoz lamenta, porém, a falta de mão de obra especializada no Brasil para que o método tally-hi se propague e, com ele, mais produtores alcancem a certificação da lã, pois a procura pelo programa da Arco é grande. “O Uruguai é exportador. Lotam um avião com 250 esquiladores que vão para a Europa, passam alguns meses trabalhando e voltam com 60 mil euros no bolso”, comenta. Segundo ele, a Arco possui cinco esquiladores credenciados e que não dão conta do volume de trabalho. “Por causa da esquila pré-parto, já temos 40 toneladas de lã certificada e nem começamos a temporada. Podemos chegar a 100 toneladas este ano”, garante. Se houvesse profissionais capacitados, o produtor estima que poderiam ser certificadas pela associação de 300 a 500 toneladas de lã ao ano.
Em termos de rentabilidade, Sergio Muñoz destaca que o esquilador recebe por ovelha e não por peso de lã. Atualmente, são pagos R$ 10,00 por animal. “Uma comparsa com uma tesoura esquila, em média, 80 ovelhas por dia. Nossos esquiladores podem chegar a 100. Já no Uruguai, é comum que esquilem até 250 ovelhas/dia”, conta o produtor. Por curiosidade, Muñoz falou sobre um concurso, onde apenas é retirado o velo e o profissional não perde tempo buscando a ovelha, em que o campeão mundial esquilou 760 ovelhas, em um único dia.
Glossário
Esquilla – o mesmo que tosquia, ato de retirar a lã da ovelha com o uso de uma tesoura. Hoje, feito com equipamentos elétricos, mas anteriormente, feito à martelo, termo usado para quem pratica a tosquia com tesoura manual.
Comparsa – grupo de profissionais que realizam a esquilla. Pode ter uma ou mais pessoas operando máquinas/tesouras, um embolsador para recolher e acondicionar a lã e quem opera na mesa, no caso do método tally-hi, para as aparas.
Merino Australiano, Ideal e Corriedale – raças de ovinos produtoras de lã. Também produzem lã as raças Romney Marsh e Border Leicester, não citadas na reportagem.
Laneiro – local onde se guarda a lã.
Fonte: AgroEffective