Em Iporã, no extremo noroeste do Paraná, onde os solos são arenosos e naturalmente mais suscetíveis às variações climáticas do que em áreas argilosas, os produtores de grãos sabem como fazer a sustentabilidade jogar a seu favor. O Rally Cocamar de Produtividade passou por lá no dia 18/12, acompanhado do gerente técnico da cooperativa, Rodrigo Sakurada.
Eles não têm dúvidas: a braquiária – forrageira de origem africana que se adaptou muito bem às condições brasileiras – é a solução mais eficiente para ajudá-los a enfrentar os recorrentes problemas do clima, tanto para o caso de excesso de chuvas quanto para a falta de umidade.
A braquiária é semeada após a colheita da soja, no final do verão, em consórcio com o milho de inverno ou de forma solteira, podendo servir de pastejo para o gado durante os meses frios. Mas seu principal objetivo é proteger o solo com uma camada de palha para o plantio direto da soja, a cultura mais importante.
“Os benefícios são muitos”, afirma o engenheiro agrônomo Fernando Ceccato, da unidade da Cocamar Cooperativa Agroindustrial no município, indicando que a melhor forma de semear – no caso de consórcio milho e braquiária – é com a adaptação de uma terceira caixa de sementes na semeadora.
Há mais 12 anos atuando no município e entusiasta do uso da forrageira como estratégia sustentável para mitigar os efeitos climáticos sobre as lavouras, ele orienta os produtores para a sua adoção e tem exemplos de resultados práticos muito convincentes.
Solo coberto x desprotegido
No início de dezembro, precipitações volumosas deixaram um rastro de destruição em propriedades onde solo e lavouras estavam desprovidos de palhada. Em determinado local, um carro chegou a ser engolido por uma valeta aberta pela enxurrada.
Segundo Ceccato, em áreas onde se pratica a braquiária como cobertura, os danos foram pequenos porque a palha amortece o impacto da chuva e, ao mesmo tempo, promove a infiltração da água, impedindo seu escorrimento.
E é justamente essa infiltração – favorecida pelo intenso enraizamento da braquiária, capaz de romper a compactação -, que vai acumular umidade no subsolo e assegurar o desenvolvimento da soja mesmo em caso de uma estiagem menos prolongada.
Maior produtividade
O produtor e médico-veterinário Albertino Afonso Branco, um dos primeiros a aderir à braquiária ainda em meados da década de 2000, quando iniciou um programa de integração lavoura-pecuária por orientação da Cocamar, diz não se ver mais trabalhando de outro jeito. E garante: “com um sistema bem consolidado, tendo a braquiária como base e associada a outras tecnologias, é possível alcançar uma produtividade de 30 a 40 sacas de soja acima da média do município”.
Branco, que produz o grão em 40 alqueires, é taxativo: “nesse solo de areia, frágil e que esquenta muito ao sol, não tem como dispensar a braquiária”. O produtor usa a forrageira, ainda, para alimentar uma centena de vacas leiteiras no inverno: “nem preciso fazer silagem”.
Início animador
Pioneiro da soja em Iporã, onde planta 260 alqueires, Adelar Dazzi lembra que antes de adotar a braquiária, no início deste ano, o solo apresentava problemas de compactação, com uma deficiente taxa de infiltração de água, de apenas 40 milímetros. “Já nos primeiros meses após a introdução da braquiária em consórcio com o milho, a taxa de infiltração subiu para 60 milímetros, 50% a mais”. É animador, mas, segundo Ceccato, os resultados vão começar a aparecer, mesmo, a partir do terceiro ou quarto ano.
Quanto às chuvas recentes, que somaram 270 milímetros em três dias e provocaram estragos no município, não houve nenhum dano nas propriedades de Dazzi e Branco. “Não aconteceu nada mesmo em talhões onde há desníveis mais acentuados”, menciona o agrônomo, acrescentando: a orientação aos produtores que estão aderindo à braquiária é cultivar o primeiro ano nesses lugares apenas com a forrageira, sem a soja. Com isso, ao proteger o solo, a braquiária vai evitar possíveis danos ocasionados pela erosão.
Com chuva normal, safra cheia
Setenta por cento dos produtores de soja de Iporã são arrendatários, segundo dados da Cocamar. E, quando chove bem, a produtividade das lavouras não fica muito atrás na comparação com as médias obtidas em solo argiloso. “Eu já colhi aqui uma média de 170 sacas de soja por alqueire”, lembra o produtor Adelar Dazzi. De milho, ele já alcançou 300 sacas, mas lamenta que nos últimos anos as lavouras tenham sido muito castigadas por veranicos.
Braquiária avança no município
Somente neste ano, a unidade da Cocamar em Iporã comercializou cerca de 70 mil quilos de sementes de braquiária entre produtores do município e região, o que permitiu cobrir com a forrageira uma área de aproximadamente 15 mil hectares (6.200 na medida em alqueires), nas modalidades consórcio milho e braquiária, braquiária solteira e integração lavoura-pecuária (ILP).
O agrônomo Fernando Ceccato lembra que muitos produtores são conscientes da importância desse manejo para a sustentabilidade de seus negócios e destaca que a parceria da Cocamar com a Embrapa Soja tem contribuído para isso.
Por vários anos, em Iporã e outros municípios das regiões atendidas pela cooperativa, equipes da estatal – lideradas pelos pesquisadores Júlio Franchini, Henrique Debiasi, Esmael Lopes e Donizete Loni – realizaram uma detalhada avaliação do solo, em propriedades de cooperados. Entre outros aspectos, foram analisados nível de compactação, estrutura física, porcentagem de cobertura, análise nematológica, declividade do terreno e taxa de infiltração de água.
“O que se constatou, em resumo, foram solos muito deficientes e desequilibrados em seus aspectos físicos, químicos e biológicos”, diz o agrônomo, ao acrescentar que a compactação, entre outros problemas, dificulta a infiltração.
Com a braquiária, já no primeiro ano de implantação é possível observar uma melhora da estrutura física, entre outros itens, que coíbem a erosão, aumentam a atividade biológica e promovem um aporte de umidade, o que assegura mais resiliência às plantas em caso de um veranico, com reflexos positivos na produtividade.
Fonte: Assessoria