Em homenagem ao Dia dos Pais, produtores e empresários rurais contam como estão preparando a troca de bastão de seus negócios familiares para garantir a perpetuidade na atividade
No próximo domingo, dia 8, será comemorado o Dia dos Pais, e se tem um assunto que ainda estremece a relação entre pai e filho é a sucessão. O processo da continuação de muitos negócios familiares representa um verdadeiro desafio, principalmente para as empresas rurais. No entanto, se for bem planejado e estruturado, a garantia que isso perpetue-se por várias gerações é muito maior. Assim tem feito nos últimos anos o empresário, Roque Zamberlan Villani, pai de seis filhos e proprietário do Grupo Villani, sediado no município de Panambi/RS.
Em 1995, ele e sua esposa, Regina Malheiros Villani, fundaram a empresa inicialmente voltada para trabalhos topográficos, que tinha sua sede na casa onde a família morava. Com o passar dos anos, os negócios foram evoluindo e ampliaram os serviços oferecidos, e a simples firma de topografia se tornou um grupo com loja também em Cruz Alta/RS. Hoje, além de serem representantes comerciais da multinacional Lindsay, para venda de pivôs Zimmatic e da tecnologia FieldNET, também atuam com energia solar, reposição de peças, licenciamento ambiental e seguros. “Nesse período todo, os filhos foram se criando e trabalhando conosco, não foi só a empresa que aumentou economicamente, a parte familiar também”, destacou o patriarca.
Segundo Villani, todos os filhos trabalharam em algum momento da vida na loja da família, sempre juntos, e foram se interessando e se envolvendo no negócio. Atualmente, dos seis, três deles continuam ao lado do pai no dia a dia. Um deles é Tobias Malheiros Villani, engenheiro agrônomo que atua na área comercial no mesmo departamento do pai. Entre suas atribuições estão: fazer projetos juntamente com o cliente, estar no campo ajudando na gestão desde o começo da venda até o final da obra.
Segundo ele, trabalhar em uma empresa familiar tem os dias bons e ruins, mas acima de tudo prevalece a união. Além disso, o aprendizado junto ao seu patriarca é um privilégio. “Além de pai, ele é um profissional muito competente e uma pessoa de muito boa índole sempre compartilhando o seu aprendizado conosco. Com os irmãos o privilégio também é muito grande, cada um nos ensina uma coisa, tem os momentos de discordância e diferenças, mas boa parte do tempo é de muita sintonia”, destaca o agrônomo.
Já o irmão, Gabriel Malheiros Villani, administrador que acompanha e dá andamento aos projetos dos clientes internamente, responsável pela previsão de entradas do setor comercial no Grupo complementa: “a responsabilidade de trabalhar na empresa da família é muito grande, pois ali que também sai o sustento de todos. Mas, os irmãos, mesmo tendo perfis e formas de trabalhar bem diferentes no final sempre se somam pelo mesmo objetivo”, acrescenta o administrador.
Sucessão familiar é o caminho
Por ter atuado ao longo destes últimos 26 anos na área de topografia, a família Villani sempre participou do processo de muitas sucessões, afinal o topógrafo que fica responsável na hora de levantar inventários de casas e terrenos. “Sempre tivemos envolvidos com isso por prestar assessoria. E toda essa vivência mostrou que eu precisava ter atenção com minha sucessão, por isso sempre trouxe meus filhos para acompanharem a rotina e nos acostumamos a trabalhar juntos”, destacou o empresário.
Se hoje o Grupo Villani é uma empresa bem-sucedida, é fruto da estratégia adotada pelo patriarca, que sempre focou no diálogo com os filhos, deixando-os à vontade em suas decisões e livres para seguir suas vocações seja no negócio da família ou fora. “Nós vivenciamos muito isso, só que com os outros é mais fácil falar, ou dar conselhos. O que sempre se supera é a conversa, atitudes e ter um negócio bem organizado”, diz Villani.
Já os filhos compartilham a mesma ideia do pai e vão além. Para Tobias, a família estar junto do negócio é uma coisa muito positiva. “Acredito que se os filhos entendem como é o andamento do negócio e há interesse e vocação para aquele negócio, as coisas dão certo. Não adianta ter uma empresa que ganhou de herança, tem que ter um trabalho de sucessão sobre aquilo”, diz o engenheiro agrônomo.
Para o outro filho, Carlos Augusto Villani, administrador e responsável pelo pós-vendas, a relação com o pai e a família na empresa tem que ser direta. “Um precisa complementar o outro, sempre cientes das qualidades, responsabilidades e dificuldades de cada um nos processos focados sempre nos objetivos da empresa e, claro, da família”, ressalta. “Também é importante destacar que nenhuma companhia é forte somente com a família, tem que ter funcionários bons como temos”, acrescenta Gabriel.
Produção a quatro mãos
Assim como no Grupo Villani, na Agropecuária Corticeira, de Santa Bárbara do Sul/RS a gestão também é feita de forma familiar entre pai e filho. A propriedade tem como atividade principal o cultivo de soja, milho e trigo, com rotação com feijão preto e ainda grãos de aveia para dar sustentabilidade na lavoura, principalmente no controle de pragas e invasoras, é gerida pelo pai, Gelso Pezzini, juntamente com seu filho, o engenheiro agrônomo e gerente técnico Tales Giovane Pezzini.
Nos últimos três anos a fazenda tem passado por um processo de verticalização da produção por meio da adoção de muita tecnologia. Esse processo começou após o engenheiro agrônomo retornar para a fazenda da família após 15 anos atuando e acumulando experiência no mercado em uma grande multinacional. Ele também fez dois MBAs na área de gestão empresarial e de pessoas. “Meu pai sempre me inspirou, eu o acompanhava desde criança e fui pegando gosto pela atividade. Durante esse período fora, eu pude aperfeiçoar o conhecimento técnico das culturas, e principalmente o conhecimento de gestão de negócios, o que veio a somar hoje no nosso negócio”, lembra o agrônomo.
Este novo projeto de verticalização aplicado pelo filho com apoio do pai, começou com a implantação da irrigação na fazenda com os pivôs Zimmatic. “Começamos a irrigação há três anos. Expandimos as áreas, base de produção e depois trouxemos a tecnologia como complemento e tem sido muito útil, especialmente na cultura do milho, que tem nos dado um retorno muito bom, bem favorável mesmo”, diz o patriarca da família Pezzini.
Hoje a Agropecuária Corticeira já tem quatro pivôs, uma área irrigada de 330 hectares com possibilidade de ampliação futuramente. “Além de melhor produtividade, com a irrigação temos a garantia de uma produção maior, que nos garante, que nos ajuda a ter uma melhor renda, além disso conseguimos programar a venda por fixação antecipada garantindo uma posição estratégica interessante e esse planejamento tem sido muito bom para a agricultura”, destaca o produtor.
Gestão compartilhada
Um dos segredos da gestão muito harmonizada na fazenda é o diálogo e o respeito pelo conhecimento de todos com atribuições bem definidas. O gerente técnico Tales, fica responsável por todas as operações, enquanto o pai fica mais focado na atividade de administração, na parte de compra, vendas, programação tributária e imposto. Também participam do negócio familiar outros irmãos, Tomaz Gelson Pezzini, Médico Veterinário e Thaís Marlize Pezzini, Advogada, além da matriarca da família, Marlize Pezzini. Mesmo não estando no dia a dia da fazenda, eles ajudam nas tomadas de decisões estratégicas e são sócios na atividade.
Segundo o produtor, essa estratégia adotada de levar os filhos para a fazenda deu muito certo e hoje rende muitos frutos, pois o conhecimento de um complementa o aprendizado do outro e no fim, todos ganham. “O pai tem que trazer o filho para a propriedade, motivar, para que ele possa participar, e foi o que fiz. Hoje eles trazem tecnologias novas, melhorias e isso eu incentivo muito”, ressalta.
Para Tales, para tudo dar certo entre pais e filho é preciso ter equilíbrio, muita conversa, um aceitando a opinião do outro. O mais novo respeitando a experiência e o mais velho respeitando a vontade que o mais novo tem, por mais facilidade de desenvolver tecnologia e mexer com tecnologia e isso dá certo. “Isso tem que ser construído com bastante tempo, diálogo, respeito e muita união familiar. O carinho que nós temos por estarmos na mesma família, se usado para o bem, para um caminho de desenvolvimento, ele ajuda muito”, diz ele. “Eu estou feliz, porque tive um filho que aceitou estudar essa profissão, falou nisso desde criança e hoje está dando sequência a esse trabalho”, finaliza o produtor.
Fonte: Kassiana Bonissoni