A safra 2024/2025 de algodão na Bahia está quase no fim, mas a colheita na última semana, bem mais que fibra, rendeu muita informação. Um grupo de 110 estudantes de jornalismo, de oito faculdades de comunicação da Bahia, conheceu de perto algumas das mais importantes etapas da produção de algodão e da cadeia produtiva da commodity, como parte das atividades preparatórias para o Prêmio Abapa de Jornalismo 2025, na categoria Jovem Talento.
Este é o quinto ano da iniciativa da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), que, desde a primeira edição até hoje, já propiciou a experiência a 430 alunos de dez instituições de ensino superior, entre públicas e privadas. Este ano, o prêmio também integra as atividades comemorativas pelos 25 anos de fundação da Abapa. Estiveram presentes às visitas técnicas, Universidade Federal da Bahia – UFBA, Centro Universitário UNIFTC, Centro Universitário Jorge Amado – Unijorge e Universidade Salvador – Unifacs, localizadas na capital baiana. Dentre as instituições do interior do estado, estavam, nesta edição, o Centro Universitário Anísio Teixeira – Unifat, a Universidade do Estado da Bahia – Uneb, nas unidades de Seabra e Juazeiro, além da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. A imersão ocorreu na quinta (11/09) e sexta-feira (12/09).
No primeiro dia, a programação se deu na sede da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), no Complexo Bahia Farm Show, em Luís Eduardo Magalhães, e os estudantes participaram do Ciclo de Palestras, com apresentação institucional conduzida pelo diretor executivo da Abapa, Gustavo Prado. Em seguida, tiveram contato com temas centrais da cotonicultura nacional, como qualidade, rastreabilidade e sustentabilidade do algodão brasileiro, além do movimento Sou de Algodão, abordados por Silmara Ferraresi, diretora de Relações Institucionais da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). À tarde, os futuros jornalistas puderam entender melhor, sob a perspectiva do produtor e ex-presidente da Abapa e da Abrapa, Júlio Cézar Busato, o potencial do agronegócio no Oeste da Bahia.
O segundo dia concentrou as atividades práticas. A primeira parada foi na fazenda Warpol, do Grupo Busato, onde além da colheita, os estudantes puderam ver o beneficiamento do algodão e entender melhor sobre a versatilidade de uma cultura, na qual nada se perde. “Não existe algodão ruim. Cada tipo de algodão encontra o seu mercado, e até o resíduo do beneficiamento é aproveitado, sem falar no caroço, que é estratégico para a alimentação animal, sobretudo do gado leiteiro”, explicou o anfitrião. Na sequência, eles foram à indústria de processamento de caroço de algodão Icofort, acompanhar, entre outros processos, o de “deslintamento” do algodão, que é a retirada do remanescente da pluma que fica no no caroço após o beneficiamento. O roteiro contemplou ainda o Centro de Análise de Fibras da Abapa, onde os jovens conferiram o rigor técnico da análise instrumental da qualidade do algodão da Bahia e do Matopiba.
Repertório de experiências
Para a presidente da Abapa, Alessandra Zanotto Costa, esta etapa do prêmio Abapa de Jornalismo é uma das mais importantes de toda a iniciativa. “Dos mais de cem visitantes este ano, nenhum havia tido a oportunidade de visitar uma lavoura de algodão, muitos deles não tinham ideia de que o algodão era, por exemplo, a matéria prima da calça jeans, e sequer tiveram a chance de conhecer esta região tão importante para a economia do nosso estado”, argumenta Alessandra.
“Mais que promover o setor, o Prêmio Abapa de Jornalismo ajuda a encurtar as distâncias entre a Bahia litorânea e esta Bahia profunda, separada pelo rio São Francisco, a mais de mil quilômetros da capital. Todos nós ganhamos com isso, e estes jovens começam a acumular um repertório de experiências que será muito valioso ao longo de suas vidas profissional e pessoal”, disse. “Eu acredito que esses jovens saem daqui com uma percepção muito mais ampla do que representa essa fibra, o algodão, não apenas no campo, mas em toda a sua cadeia produtiva — da colheita à classificação, do beneficiamento ao deslintamento. Também levam consigo a compreensão do papel da agricultura como um todo, e a valorização do fato de que essa riqueza está presente aqui, no nosso estado. Neste ano em que celebramos os 25 anos da Abapa, esse aprendizado ganha ainda mais sentido, porque conecta o futuro do jornalismo à trajetória de transformação que o algodão trouxe para a Bahia”, conclui Alessandra.
A descoberta de um ‘novo mundo’ – Percepção de quem foi:
Juliana Almeida, coordenadora do curso de jornalismo da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) Campus Seabra.
“É a primeira vez que participamos do prêmio. Está sendo uma experiência fantástica, porque temos alunos basicamente da área rural, que sequer saíram da região da Chapada Diamantina. E eles estão descobrindo um outro mundo, uma possibilidade de já trabalhar com a qualidade voltada para um prêmio. O que a Abapa faz é um verdadeiro serviço à educação brasileira e à universidade.”
Thalita Singer, professora da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) de Juazeiro.
“Salvador acha que a Bahia é litoral. E quando você está no Vale do São Francisco, parece que o sertão é a Bahia. De repente, quando você vem para o Oeste, conhece um outro pedacinho do estado, que completa o todo. Essa experiência de poder conhecer, presenciar e experimentar é única: uma coisa é ouvir falar, outra é ver de perto. Colocar os alunos diante de uma cultura como o algodão, que para eles era algo distante, mas que aqui se apresenta em uma produção massiva, exportadora e tecnológica, é muito enriquecedor. A Abapa nos deu um acesso que, sozinhos, dificilmente teríamos. E essa troca, esse momento de compreensão mútua, só faz a coisa crescer.”
Mariana Alcântara, coordenadora do curso de jornalismo Unijorge (Centro Universitário Jorge Amado)
“Eu já conhecia o prêmio e admirava o projeto por valorizar os alunos de jornalismo. É algo que entrou na agenda de todas as faculdades de Salvador e da Bahia. Para muitos estudantes, essa é a primeira oportunidade de sair da capital e conhecer o interior, entender como o estado é diverso e descobrir uma região como o Oeste, tão desenvolvida e diferente do litoral. Essa vivência é enriquecedora não só para eles, mas também para nós, professores, porque conseguimos inserir a experiência dentro da sala de aula. Além disso, abre horizontes para o mercado de trabalho: mostra que existem oportunidades além das redações tradicionais, com melhores salários e novas formas de atuação, inclusive no agro, que precisa se comunicar cada vez melhor.”
Maria Eduarda dos Santos Santana, UniFTC de Salvador
“Essa experiência superou as minhas expectativas. Procurei pessoas que já tinham participado e todos falaram muito bem, mas só estando aqui para entender. Foi uma verdadeira vivência. Acho que a cada ano o projeto melhora em algum aspecto. A qualidade de tudo é muito boa, desde o cuidado com o estudante até a atenção do produtor e dos funcionários. Saio daqui realizada. É uma história para entrar na nossa biografia. Nunca tinha visto um algodão de verdade e achava que fosse algo sintético — nem sabia que era uma planta.”
Ana Carolina Anjos, Unifat – Centro Universitário Anísio Teixeira – Feira de Santana
“Foi muito gratificante conhecer esse lado da Bahia. O que mais me chamou a atenção foi a forma como fazem a colheita — aquele ‘tratorzão’ totalmente automatizado me brilhou os olhos. Pensando em sugestão de pauta, vivemos a inovação tecnológica todos os dias e, quando começamos a prever como será daqui a 25 anos, percebemos a importância de oferecer uma linha do tempo para esses produtores.”
Anna Júlia Ferreira Rocha Nascimento – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) Vitória da Conquista
“Está sendo a descoberta de um ‘novo mundo’. Eu não conhecia nada relacionado à agricultura ou à cotonicultura. Antes de vir, fizemos uma pesquisa, mas chegar aqui e vivenciar tudo isso trouxe uma outra visão. A produção do algodão me chamou muito a atenção, porque envolve muita gente. Para a minha carreira, essa experiência terá um impacto enorme.”
Robert Gabriel de Oliveira Oliveira, Uneb Seabra
“A cultura do algodão, para mim, era algo distante, que eu só conhecia pela televisão. Aqui estamos na lavoura, vendo os processos. Nunca tinha passado pela minha cabeça que no jeans havia algodão — estamos tão acostumados ao poliéster que raramente encontramos algo 100% algodão. É uma vivência muito boa, porque, enquanto jornalistas, precisamos estar atentos a tudo que acontece no mundo, e essa é uma experiência que todo estudante de jornalismo deveria ter pelo menos uma vez na vida.”
Fonte: Catarina Guedes