Um dos aspectos que mais chamam atenção na forragicultura brasileira é a extensa área de pastagens com algum grau de degradação. As consequências do manejo ineficiente dessas pastagens levam ao baixo desempenho animal, limitam a taxa de ocupação das áreas e ainda podem trazer prejuízos ambientais severos. Nesse sentido, o planejamento forrageiro surge como um instrumento capaz de proporcionar a sustentabilidade da pecuária brasileira.
Para falar sobre o assunto, a Verde convidou o Doutor em Forragicultura e Pastagem pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Dr. Ossival Lolato Ribeiro, para o “Encontro com Gigantes –Planejamento forrageiro: entenda o conceito e como elaborar”.
O que é o planejamento forrageiro
O Dr. Ossival Lolato define o planejamento forrageiro como um instrumento elaborado para que o pecuarista possa visualizar sua atuação futura com uma abordagem global, num período mínimo de 3 anos.
Ou seja, ele permite que se possa montar uma previsão de longo prazo para administrar a maior parte dos fatores do empreendimento que podem ser controlados, de forma a facilitar e trazer mais assertividade ao manejo pecuário.
A projeção do planejamento forrageiro é a longo prazo, principalmente porque os ciclos da pecuária são longos. Como exemplo, Dr. Ossival Lolato citou o tempo de gestação e desmame do bovino, que somados totalizam em média 15 meses.
O que tem levado à adoção desse instrumento não está relacionado apenas com a otimização dos sistemas produtivos. Até porque o planejamento forrageiro muitas vezes é visto como um instrumento mais complexo, que demanda muita seriedade na coleta de dados, constância de trabalho e conhecimento.
O professor Ossival Lolato explicou que a própria condução inadequada da atividade pecuarista está criando um cenário insustentável para a atividade, com:
- Manejo incorreto do sistema;
- Atividade sem planejamento e investimento;
- Técnicas ultrapassadas;
- Animais com baixo desempenho.
“Ainda se adota muito a forma extrativista de conduzir a pastagem com sem nenhuma adubação de reposição/manutenção e tempo de descanso e rebrotação. Se o agricultor coloca um animal que pesa 200-300Kg e retira um animal de 400-500Kg para ser abatido, essa diferença de peso que o animal ganhou saiu do solo e precisa ser reposta”, afirma o Dr. Ossival Lolato.
Com cerca de 90 milhões de hectares apresentando algum grau de degradação, o pecuarista vem perdendo uma série de oportunidades que a atividade poderia estar proporcionando, como:
- Produção de alta performance com possibilidade para alcançar 10 arrobas por ano (R$3000/ha);
- Boa taxa de lotação, que poderia chegar a até 5 unidades animais por hectare;
Além disso, o Dr. Ossival Lolato destaca que a baixa qualidade das pastagens degradadas está impulsionando um problema ambiental muito sério: a maior emissão dos gases do efeito estufa. Ele explicou:
“Nós acabamos perdendo o potencial que as pastagens tem para captar e converter CO2 [gás carbônico] atmosférico. Além disso, o pasto de baixa qualidade ingerido pelos animais tem um baixo aproveitamento, que se reflete numa maior emissão de gases do efeito estufa.”
Nesse cenário, o planejamento pode ser visto como uma solução muito relevante, uma vez ele proporciona o planejamento global da atividade pecuária a longo prazo. Mas como ele é feito?
Como começar a fazer um bom planejamento forrageiro
O planejamento forrageiro se baseia na premissa de ajustar a produção vegetal com a demanda animal, cuidando da base do sistema produtivo: o solo.
O professor Ossival Lolato destacou que, quando o pecuarista cuida das características físicas, químicas e biológicas do solo e trata as pastagens como uma cultura, consequentemente os animais vão ter uma boa resposta.
Entretanto, o planejamento forrageiro nunca deve ser visto como uma ciência exata. O Dr. Ossival Lolato explicou que existem diversos tipos de estresses bióticos e abióticos que podem interferir mesmo quando todos os componentes do sistema estão sendo manejados corretamente.
Dessa forma, o pecuarista deve sempre realizar o ajuste do sistema para corrigir os resultados não satisfatórios e controlar quando estiverem dentro do esperado. Para isso, ele vai estar constantemente envolvido com as diferentes etapas temporais cíclicas do planejamento forrageiro:
- Longo prazo: envolvem as políticas gerais da propriedade, como o número de animais de rebanho;
- Médio prazo: envolvem as decisões mais específicas, como a coleta de dados vegetais;
- Curto prazo: envolvem as decisões instantâneas, como o ajuste diário do tempo de ocupação e descanso dos piquetes.
O Dr. Ossival Lolato também recomendou um maior cuidado principalmente no que se refere à coleta e ao tratamento dos dados. Ele explicou, por exemplo, como a instabilidade climática dos últimos anos tem levado à redução dos ciclos climatológicos. Por isso, é recomendado a análise de série de dados de pelo menos 10 anos.
Para gerir um instrumento com um alto volume de dados, quais são as principais recomendações?
A gestão do planejamento forrageiro
Pelo alto volume de informações e análises necessárias para a tomada de decisão, é recomendável que o pecuarista conte com algum sistema para gerir seus dados. Além disso, é bom que ele sempre envolva a participação de profissionais especializados, principalmente nas fases iniciais de construção e implementação do planejamento forrageiro.
O professor Ossival Lolato também demonstrou a importância de tratar diferentemente os dados de acordo com as estações de chuvas e seca, pois cada uma apresenta particularidades que podem potencializar ou reduzir o desempenho dos componentes do sistema. E concluiu:
“O planejamento forrageiro é uma ferramenta que todas as empresas e profissionais autônomos utilizam, e mesmo com a variação das metodologias proporcionadas pelas diferentes tecnologias, o princípio da ferramenta continua sendo o mesmo!”
Para entender mais sobre o planejamento forrageiro, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!
Fonte: Stella Xavier