*Por Rodrigo Miranda
O momento atual é de grande transformação para o agronegócio nacional, em que se tem verificado maior preocupação e cobrança da sociedade com relação aos impactos ambientais, sociais e de governança (ESG), além de uma grande transformação tecnológica — que vem obrigando as empresas a dedicarem investimentos cada vez mais relevantes em pesquisa, desenvolvimento e inovações. O Valor Bruto da Produção (VBP) do setor deve alcançar R$ 1,3 trilhão neste ano, 2,2% superior a 2022 — sinalizando incremento de produção agrícola nos próximos anos caso se invista em mais soluções digitais para otimização nos processos produtivos.
Com o objetivo de acelerar e incentivar a digitalização do campo, o Governo Brasileiro promulgou a Lei nº 14.475/2022 no final do ano passado, instituindo a Política Nacional de Incentivo à Agricultura e à Pecuária de Precisão — que deve ampliar a eficiência no processo de produção, diminuir o desperdício e aumentar a produtividade e a lucratividade. Com isso, espera-se que o agronegócio brasileiro tenha aumento de competitividade e avanços em termos de sustentabilidade ambiental, social e econômica.
Entre as diretrizes da nova lei — que ainda precisa ser regulamentada — também vigoram o estímulo à ampliação da rede e da infraestrutura de pesquisa, o apoio à inovação e ao desenvolvimento tecnológico, com destaque para o fato de a nova legislação prever a mesma alíquota de imposto sobre itens nacionais e importados produzidos pela agricultura e pecuária de precisão.
Essa abordagem da pecuária utiliza tecnologias avançadas para monitorar e gerenciar a produção animal de maneira mais eficaz, visando a rentabilidade, a saúde e o bem-estar dos animais, bem como a segurança alimentar e sustentabilidade. Essa abordagem envolve o uso de sensores, drones, dispositivos de rastreamento GPS e outras tecnologias para coletar dados em tempo real, que são analisados usando inteligência artificial e ferramentas de análise para fornecer informações valiosas aos produtores sobre como melhorar o desempenho da produção e aumentar a qualidade dos produtos.
Já a agricultura de precisão é uma estratégia de gestão que reúne, processa, analisa e cruza informações para apoiar as decisões de gestão de acordo com a variabilidade estimada para melhorar a eficiência do uso de recursos, produtividade, qualidade, rentabilidade e sustentabilidade da produção agrícola. Outro papel importante é identificar áreas problemáticas do campo, como deficiências no solo ou zonas climáticas desfavoráveis, apresentando informações para correção.
Tecnologias avançadas também são empregadas para monitorar e controlar a aplicação de fertilizantes, pesticidas e outros produtos agrícolas de maneira mais eficiente. É o caso do sistema de informações geográficas (GIS) — que, em conjunto com outros avanços tecnológicos, pode ajudar a reduzir o impacto ambiental e aumentar a segurança alimentar.
Estudo do Market and Markets prevê que o mercado de agricultura de precisão saltará de US$ 8,5 bilhões, em 2022, para US$ 15,6 bilhões até 2030. Em grande parte, esse crescimento está associado à frequente adoção de tecnologias avançadas para reduzir o custo de mão de obra, bem como ao aumento da utilização de dispositivos de Internet das Coisas (IoT) em campos agrícolas, economias substanciais de custos associadas, mudanças climáticas e necessidade de atender à crescente demanda por alimentos — além da progressiva promoção de técnicas de agricultara de precisão pelos governos em todo o mundo.
A Câmara Temática de Inovação Agrodigital, criada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), terá um papel central de articulação dos desdobramentos da nova política pública de incentivo à pecuária e agricultura de precisão. O uso de sensores, imagens e sistemas de controle, bem como o uso de gerenciamento de dados, big data e inteligência artificial, se tornarão predominantes nos próximos anos, contribuindo inclusive com a entrada de novos players no mercado.
Vale dizer que a inovação é crucial no agronegócio, já que permite aos produtores e empresas aumentar a eficiência e a produtividade, reduzir custos, melhorar a qualidade dos produtos e expandir seus mercados, além de contribuir para a sustentabilidade do setor — o que colabora com o aumento de competitividade internacional e gera impacto positivo na economia nacional. Ou seja, a inovação é o caminho para garantir resultados sustentáveis nos âmbitos ambientais, sociais e econômicos.
Nesse contexto, os incentivos fiscais têm o objetivo de fomentar a inovação e o desenvolvimento tecnológico no país através de créditos, isenções ou reduções de impostos, ou mesmo empréstimos e financiamentos com juros subsidiados. A Lei do Bem é um dos melhores exemplos, já que permite a redução de até 34% dos gastos com pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I) no imposto de renda e contribuição social devidos pelas empresas. Também as linhas de financiamento da FINEP são importantes, porque trabalham com taxas de juros subsidiadas e oferecem condições muito atrativas para projetos de inovação com foco em sustentabilidade — com juros de 4% ao ano e até quatro anos de carência.
O potencial desse segmento exige constantes investimentos e atualização permanente. As iniciativas elencadas vão ao encontro das evidentes necessidades do setor, com soluções que têm forte impacto econômico e no meio ambiente. Daí a importância de se conhecer todas as possibilidades em termos de incentivos e redução de impostos — o que certamente é peça-chave do ecossistema de inovação.
*Rodrigo Miranda, especialista em inovação e diretor de operações
da consultoria internacional G.A.C. Brasil
Fonte: Redação – Press Página