Com a proximidade dos últimos meses do ano, os produtores rurais passam a olhar cada vez mais atentos para o céu nas cidades do Norte do estado, com o início “regular” das chuvas. Com as áreas de plantio de alimento para o rebanho preparadas, o chamado período das águas será de extrema importância dentro do planejamento forrageiro para o ano de 2025.
A estiagem, em muitos municípios, durou mais de 150 dias. Na região de São Francisco, por exemplo, o último ciclo satisfatório de chuva registrado foi no mês de abril, segundo o Sindicato dos Produtores Rurais. Uma realidade que vem se repetindo ano após ano, e que fez o produtor Fábio Ferreira de Almeida, que atua na bovinocultura de leite, passar a buscar novas formas de gerenciar seu negócio, mantendo a rentabilidade em dia. “Já tive prejuízos dois anos atrás, quando não tinha previsibilidade do gasto alimentar dos animais. Eu não conseguia fechar o ano com alimento certo, e precisava sair pedindo ajuda aos vizinhos ou gastando com compra de ração”, alega.
O planejamento forrageiro foi uma conquista para Fábio. Com cálculo apurado da quantidade de dieta necessária para cada animal seguir produzindo bem, a área necessária de plantio e as espécies mais indicadas de forrageiras, ele já conseguiu ter meses tranquilos, e espera que 2025 venha com ainda mais folga. “Esse ano eu trabalhei com sobra. No primeiro ano do Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), apliquei correção de solo, fiz cobertura vegetal, passei a anotar e acompanhar tudo. Com diversificação alimentar, aplicando a silagem no momento certo e tratando da qualidade do volumoso, melhorei a nutrição dos meus animais e regulei os gastos”, lembra Fábio Ferreira.
A técnica de campo do ATeG que acompanha o produtor, Joyce Cipriana Pacheco Ramos Vieira, destaca que as chuvas mal distribuídas ao longo do ano, impõem ao trabalho no campo uma maior análise durante o ano. “Por isso, o primeiro passo é realmente fazer o planejamento forrageiro e o produtor conhecer o seu rebanho. Foi este passo a passo que fizemos com o Fábio. Ele estava produzindo uma quantidade abaixo do necessário de silagem, dentro do cálculo por animal”, lembra a técnica de campo.
Produzindo com planejamento
Desde o mês de abril que o produtor Sérgio Lopes da Silva e o técnico de campo Marcos Eduardo estruturam a composição do planejamento forrageiro, considerando o crescimento do rebanho e ainda um período mínimo esperado de 210 dias de período seco em 2025, onde os animais deverão ser suplementados. A propriedade, na cidade de Manga, atua com 22 animais de leite, e precisará produzir ao menos 50 mil kg de matéria seca de forragem.
Como estratégia para garantir a produção e custos equilibrados, o produtor ampliou o canavial já existente, também realizou o plantio de um hectare de milho irrigado e ainda, no início do período chuvoso, vai fazer o plantio de 2,8 hectares de sorgo em sistema de integração com pastagem, para recuperação da área.
“Em outros anos perdi vários animais por falta de uma gestão da alimentação. Eu já tinha a irrigação com piquete, mas não ia bem, sem correção de solo e análise. Ano passado perdi muito leite, por alta acidez, também reflexo do manejo da dieta alimentar errado. Foi preciso ajustar o manejo, entender melhor a propriedade e, agora, tenho conseguido enxergar o que precisa ser feito. Otimizei minha produção com a mesma quantidade de animais”, relata o produtor.
A expectativa é que o plano garanta produção de forragem suficiente para manter o rebanho de Sérgio Lopes durante todo o período seco. “As estratégias utilizadas, com a diversificação das culturas, é uma forma de prever as necessidades diferentes do rebanho, adaptação ao clima, ataque de pragas e custos de produção equilibrados. Para a nossa região a grande estratégia é produzir alimentos. Todos os anos muitos rebanhos são dizimados por falta de planejamentos de produção de forragem”, alerta Marcos Eduardo.
Corte
E o planejamento também é importante para quem atua na pecuária de corte. A relação escore corporal dos animais versus nutrição aplicada é fator diferencial para o sucesso na atividade. “Quando o escore do meu rebanho ficou baixo, devido a falta de alimentação correta, afetou todo o meu planejamento, travou o crescimento do negócio”, pontua o produtor Alex Zacanyny Mascarenhas.
A região onde a fazenda de Alex se encontra, na cidade de Gameleiras, é uma das mais atingidas com os efeitos da seca. Durante muitos anos, o produtor alternava entre perda de animais e prejuízos financeiros, já que precisava, constantemente, pagar aluguel de pasto e comprar silagem. Com uma nova mentalidade, de olho na estrutura adequada para seu rebanho ser produtivo, ele é enfático na importância de uma boa pastagem.
“A primeira coisa da propriedade é o alimento para os animais. É o conceito que eu tenho hoje de planejamento, depois das dificuldades que passei. Conhecer a fazenda, e saber qual manejo fazer, é essencial. O meu maior patrimônio é a pastagem”, destaca o produtor.
Fonte: Ricardo Guimarães