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Pimenta-do-reino em tutor vivo

Longevidade, sustentabilidade, economia e conforto ambiental são palavras-chave que caracterizam os principais benefícios do uso da árvore gliricídia (Gliricidia sepium) como tutor vivo no sistema de produção de pimenta-do-reino, a especiaria mais famosa do mundo. Essa tecnologia recomendada pela Embrapa é o destaque do programa Dia de Campo na TV (DCTV) desta semana: Uso da gliricídia como tutor vivo na cultura da pimenta-do-reino.

Um tutor sustenta, orienta. As pimenteiras-do-reino são trepadeiras, precisam se agarrar em estacas firmes e duradouras para se desenvolverem na posição vertical recomendável. Estes apoios são chamados de tutores mortos (pilares cravados no solo) ou vivos (caules de plantas enraizadas), neste caso a gliricídia.

Leguminosa já consagrada na agropecuária por vários outros usos, é na função de tutor vivo que a espécie está em alta na pipericultura. A popularidade vem crescendo entre os produtores, que passaram a adotá-la como alternativa rentável e ecológica ao uso dos tradicionais estacões feitos com madeira-de-lei da floresta – caros, raros e de confecção limitada por restrições legais de ordem ambiental e florestal.

A reportagem do programa enfoca três esferas de cultivo integradas no sistema (mudas de tutor, gliricídia e pimenteira), com orientações e depoimentos de cientistas, produtores e técnicos. Além disso, apresenta um breve histórico da pipericultura no Brasil e no mundo. Nativa da índia, onde é cultivada há milênios, a pimenta-do-reino tem uma rica história de comércio mundial e uma curiosa ligação com o Brasil.

Tradição de pesquisa

A união dessas duas plantas no pimental tem dado bons frutos, constatam os estudos da Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA), centro de referência na pesquisa com pimenta-do-reino no País desde os anos 1970.

As publicações sobre a cultura disponíveis para consultas e downloads gratuitos no Portal Embrapa são ainda mais antigas, datando do tempo do Instituto Agronômico do Norte (IAN), o pioneiro da pesquisa agropecuária na Amazônia.

As tecnologias geradas pela Embrapa, do melhoramento genético às boas práticas, promovem uma pimenta-do-reino de qualidade, competitiva no mercado internacional. O Brasil é um dos maiores do mundo na produção e exportação da especiaria. Em 2019, o País ocupava o terceiro lugar do ranking mundial de países exportadores, com uma produção aproximada de 110 mil toneladas (IBGE). Por décadas o estado do Pará foi o maior produtor nacional de pimenta-do-reino, superado pelo Espírito Santo no final dos anos 2010.

Influência dos pioneiros

Este DCTV contém também imagens raras dos primórdios da cultura no Brasil, cedidas pelo pesquisador Osvaldo Kato, neto do pioneiro Tomoji Kato, que chegou em 1929 na primeira leva da imigração japonesa na Amazônia. O avô, junto com Enji Saito, multiplicou as primeiras mudas de pimenta-do-reino introduzidas em 1933 em Tomé-Açu, distribuindo-as gratuitamente para os outros imigrantes interessados.

A iniciativa da dupla mudou para sempre os rumos da colônia. Depois de tentarem com cacau, arroz e hortaliças, a pimenta-do-reino passou a puxar a agricultura local, sendo até hoje o principal componente dos sistemas agroflorestais de Tomé-Açu, famosos nacional e mundialmente, possibilitando inclusive que o cacau voltasse à cena.

Ter ao mesmo tempo ligação familiar direta com a origem da pimenta-do-reino no Brasil e vínculo profissional por ser da Embrapa, centro de referência nos estudos com a espécie, permitem que o pesquisador tenha uma percepção muito particular sobre essa história. “Meu avô nos passou o valor da simplicidade e do trabalho, o que muito nos orgulha, em especial a contribuição que deu ao desenvolvimento da colônia, de Tomé-Açu, do Pará e do Brasil”, relembra Osvaldo Kato.

União rentável e longeva

Presente nos pimentais, a gliricídia transforma a plantação, redesenha a paisagem e cria novas perspectivas de negócio sustentável. Incorporada ao sistema de produção da pimenta-do-reino, a leguminosa reduz o custo de implantação do pimental em cerca de 28%, se comparado ao uso dos tutores mortos. O preço da estaca viva baixa mais ainda quando produzida na propriedade do agricultor.

Jardins clonais instalados em pequenas áreas produzem grande quantidade de mudas, pois a leguminosa gliricídia rebrota e cresce rapidamente. Cada estaca manejada especialmente para produzir tutores pode render quatro novas estacas a cada ano, o equivalente a 400 se for um campo de produção com cem matrizes.

Para se ter ideia de valores, em novembro de 2020, quando o quilo da pimenta-do-reino oscilava em torno de R$ 11,50 no estado do Pará, o estacao era vendido com nota fiscal por R$ 28,00 a unidade, a estaca de tutor vivo de gliricídia por R$ 3,50 e o custo da produzida para uso próprio era estimado em R$ 1,00.

A cultura da pimenta-do-reino também ganha longevidade e sustentabilidade com o tutor vivo. A leguminosa gera resíduos que viram adubo natural, fertilizando e enriquecendo o solo com nutrientes e micro-organismos. Já as pimenteiras-do-reino na gliricídia permanecem produtivas no campo por mais de dez anos, o dobro do tempo das cultivadas em tutor morto, que a partir de 5 ou 6 anos de idade já começam a sucumbir às doenças da cultura.

Viço e conforto ambiental

O viço das pimenteiras-do-reino cultivadas em tutor vivo de gliricídia deixa visível o bem que essa tecnologia faz à plantação. Faz bem também aos seres humanos. O conforto ambiental e a madeira leve de se manusear que a árvore de gliricídia fornece deixam mais agradável a lida de quem trabalha no pimental, pois sente-se menos calor e cansaço num dia de sol escaldante.

O uso da gliricídia como tutor vivo da pimenteira-do-reino é uma tecnologia de fácil adoção. Exige, no entanto, como salientam os técnicos, um bom planejamento inicial e um bom manejo simultâneo das duas espécies cultivadas uma bem junto da outra. Nesta cena, a cultura principal depende do sucesso da coadjuvante para viver mais e melhor.

Calendário e vídeos

Além deste Dia de Campo na TV inédito especial sobre pimenta-do-reino em tutor vivo de gliricídia, a Embrapa disponibiliza no YouTube a live “Produção Sustentável da Pimenta-do-Reino”, que reúne representantes da pesquisa, extensão, produção e mercado da pimenta-do-reino no Brasil para debater os desafios e as oportunidades da produção e exportação do produto.

No canal da Embrapa no YouTube também é possível assistir à série “Cultivo da Pimenta-do-Reino”, com seis vídeos de curta duração sobre os seguintes temas: escolha da área e preparo do solo, manutenção dos plantios, produção de mudas sadias, controle e prevenção de doenças, implantação de um jardim clonal de gliricídia.

Já o “Calendário 2021 de Boas Práticas de Cultivo da Pimenta-do-Reino” está disponível aqui.

Fonte: Embrapa Amazônia Oriental Por Izabel Drulla Brandão

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