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PIB do agro cresce, mas gargalos ameaçam competitividade

O PIB brasileiro avançou 0,4% no segundo trimestre de 2025 e somou R$3,2 trilhões, as informações foram divulgadas nesta terça-feira (02), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo com  leve queda de 0,1% entre abril e junho, a agropecuária acumula alta de 10,1% em 12 meses, sustentada pela safra histórica de soja e milho. O desempenho reforça a relevância do setor, que responde por cerca de um terço da economia nacional, mas nem tudo são rosas no setor, uma vez que são evidentes vulnerabilidades que comprometem a competitividade no médio e longo prazos.

Além do ambiente de crédito caro, agravado pela Selic no maior patamar desde 2006, o setor enfrenta uma maior aversão ao risco por parte dos agentes financiadores. Segundo a Serasa Experian, em 2024 os pedidos de recuperação judicial protocolados por produtores rurais pessoa física aumentaram 350%, impulsionados por juros altos, custos de produção e adversidades climáticas. Esta combinação de juros altos e deterioração da capacidade creditícia impactam brutalmente o acesso do produtor ao capital, e os reflexos já aparecem nas estatísticas e projeções.

Uma evidência é a maior cautela na expansão de área de grãos. De acordo com a Conab, a produção em 2024/25 deve alcançar 345,2 milhões de toneladas, mas em 2025/26 a expansão da soja tende a perder fôlego. Para Daniel Barbosa, CEO da Fex Agro, a desaceleração é reflexo direto da pressão financeira. Algo que pode inclusive ter um impacto nas indicações de preços das commodities, não apenas pelo aumento nos custos de produção, como também por conta de um melhor equilíbrio entre oferta e demanda globais. “Uma melhora nas indicações de preço seria um alento muito bem vindo ao produtor – mas ainda é cedo para conclusões definitivas, temos muitas incertezas, não apenas no cenário doméstico, mas também de ordem geopolítica global”, diz.

Além deste estrangulamento no crédito e custo financeiro, o Brasil enfrenta entraves estruturais. A falta de capacidade de armazenagem é um deles, além da ausência de estoques reguladores, que poderiam atuar como ferramenta de segurança alimentar e estabilização de preços. A precariedade da infraestrutura logística completa o quadro, reduzindo a eficiência e elevando os custos das cadeias produtivas. “A título de exemplo, hoje no centro-oeste temos um volume enorme de milho segunda safra sendo guardado a céu aberto, pois os armazéns estão lotados”, explica.

Para Barbosa, a falta de políticas consistentes para acompanhar o crescimento da produtividade aumenta a exposição do produtor. “O Brasil avançou muito em produtividade, mas não fez a lição de casa em armazenagem, escoamento e na definição de uma política de longo prazo para estoques reguladores. Em momentos de capital mais caro, quando todo investimento é naturalmente desestimulado, a ausência desse planejamento estrutural pesa ainda mais”, avalia. “Precisamos ser menos reativos e mais proativos em nossas iniciativas”.

Na visão da Fex Agro, o debate precisa ir além das linhas tradicionais de crédito. “O caminho é avançar em instrumentos de financiamento mais adequados ao ciclo rural, mas também em políticas de infraestrutura e de estoques reguladores. Só assim será possível reduzir vulnerabilidades, assegurar margens sustentáveis e preservar a competitividade do agro brasileiro”, conclui Barbosa.

Fonte: Lilian Munhoz 

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