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Pará reforça sua posição como polo estratégico na exportação de gado vivo

A pesquisa-expedicionária Confina Brasil finalizou a sua terceira rota de visitas pelos confinamentos de gado de corte do país, passando por propriedades no estado do Pará na última semana de agosto.

A partir de setembro, até outubro, a equipe da Scot Consultoria – responsável pelo projeto – visitará ainda propriedades no Maranhão, Piauí, Bahia e Espírito Santo para concluir os levantamentos de 2024.

“O confinamento bovino no estado tem se destacado como uma importante estratégia para intensificação da pecuária de corte, acompanhando o crescimento do setor na região Norte do Brasil e respondendo à pressão ambiental sobre as áreas produtivas em biomas amazônicos”, comenta a equipe Confina Brasil.

Confinamento como alternativa sustentável ao manejo extensivo de pastagens

Com o segundo maior rebanho bovino do país, o Pará tem apostado cada vez mais em ferramentas de intensificação para aumentar a produtividade na mesma área.

A estrutura do confinamento é utilizada pelos pecuaristas locais principalmente na época seca, período em que a maioria das propriedades visitadas recorrem a essa estratégia para garantir a manutenção do ganho de peso dos animais e a continuidade da produção.

Mas o clima tropical úmido da região também impõe desafios à produção de pastagens, principalmente durante a estação chuvosa, quando o excesso de umidade dificulta o manejo. Nesse contexto, o confinamento também é uma solução eficaz para reduzir a densidade animal nessa época do ano.

Atividade agropecuária em crescimento: ILP e produção de silagem própria aumentam autonomia sobre alimentação

Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), principalmente devido ao desenvolvimento da lavoura, o valor bruto da produção agropecuária do Pará deve avançar esse ano, frente a uma estabilização esperada para o restante do país.

Apesar das suas peculiaridades edafoclimáticas que colocam o estado na liderança nacional da produção de culturas como açaí, abacaxi, cacau e dendê, outro aspecto importante da pecuária no Pará é o crescente interesse na operação integrada entre lavoura e pecuária (ILP), principalmente devido a produção de milho e a expansão das lavouras de soja, que vem ganhando espaço no estado. Essas culturas viabilizam o uso de subprodutos nobres da agricultura na engorda dos bovinos confinados, como o milho moído e o farelo de soja. Dos confinamentos visitados pela expedição esse ano, 43% já aderiram às práticas de ILP.

Ainda, 86% das propriedades visitadas pelo Confina Brasil no estado do Pará viabilizam a produção da própria silagem, não dependendo da compra do volumoso para integrar a dieta do rebanho confinado. Alguns ainda, com a instalação de pequenas fábricas, são capazes de garantir maior autonomia na moagem dos grãos, garantindo certo controle sobre a dieta oferecida.

São os casos das Fazendas Kampala e Joaima, de Paragominas; e a Agro São João, localizada na divisa entre Açailândia-MA e Rondon do Pará-PA. Adeptas da ILP, contam também com uma fábrica para produzir a própria ração.

A Fazenda Retiro, também de Paragominas, já aproveita para fazer rotações de culturas além dos principais grãos produzidos, soja e milho. São utilizadas gramíneas como sorgo e milheto, além de gergelim, todos rotacionados com as pastagens, o que permite a preservação da fertilidade do solo e aumento da produtividade das lavouras, além de garantir a alimentação de qualidade para o gado.

Investimentos como esse permitem um melhor controle sobre a qualidade, padronização e disponibilidade dos insumos fornecidos, além de ser uma oportunidade de reduzir a dependência externa e os custos de produção.

Destaque na exportação de gado em pé

O Pará desempenha um papel crucial na exportação de gado vivo, principalmente devido à sua localização estratégica e proximidade com os portos do Norte, como o Porto de Vila do Conde, em Barcarena.

O Pará se consolidou como o maior exportador de gado em pé do Brasil em 2023, sendo responsável pelo embarque de 40,62% dos 582,3 mil bovinos exportados no ano passado pelo país. Até julho deste ano, o Pará foi responsável por 51,41% das exportações de gado vivo brasileiros, com 238.582 cabeças embarcadas.

A comercialização é forte entre mercados do Oriente Médio, Norte da África e Ásia, que possuem uma demanda significativa por gado vivo. Segundo o que a pesquisa evidenciou durante sua passagem pelo estado, e confirmado por dados oficiais da Secex, Iraque e Egito são os principais compradores do Brasil em 2024, até o momento.

Atendendo a esta alta demanda, alguns grandes confinamentos do estado funcionam como estações de pré-embarque (EPEs), onde os animais passam por um período de quarentena e são monitorados em relação à sanidade e ao peso.

As EPEs seguem rigorosos protocolos sanitários e de bem-estar animal, cumprindo exigências internacionais para garantir que os bovinos sejam transportados até o destino em condições seguras e apropriadas.

Quanto à estrutura, as EPEs devem atender alguns parâmetros, o que inclui áreas de sombreamento obrigatórias e espaçamento adequado dos currais, limitando à lotação. Tais medidas visam evitar a disseminação de doenças e reduzir o estresse do gado durante o período de quarentena.

As estações devem atender também alguns requisitos de transporte e localização estratégicos, cumprindo uma distância máxima até o porto onde o gado será embarcado, sendo vetado deslocamentos maiores que 8 horas.

Além disso, diferente de confinamentos que têm por objetivo a engorda e terminam o gado para o abate, o manejo nutricional nas estações deve ter como objetivo seguir as limitações de peso impostas pelos países importadores ou pelas embarcações, uma vez que cada mercado têm suas exigências próprias de peso. Como por exemplo é o caso do Egito e Turquia, países que exigem um animal pesando até 330 kg.

Bovinos com peso muito além dessa média são descartados pelos compradores no momento do embarque, por isso, há um controle sistemático com relação à dieta e, muitas vezes, são vistos nesses confinamentos dietas mais “frias” do que o habitual, onde o teor de volumoso é mais alto frente a confinamentos convencionais.

Outro desafio da operação é a alta rotatividade dentro da fazenda, já que os períodos de confinamento durante a quarentena costumam ser mais curtos em comparação com confinamentos voltados para engorda.

A questão sanitária é outro ponto crucial, pois, além de serem negativos para brucelose e tuberculose, os bovinos passam por exames adicionais conforme as exigências do mercado comprador. No caso da Turquia, um dos mercados mais rigorosos, são necessários cerca de cinco exames diferentes antes do embarque. Essa dinâmica de testagens exige um manejo mais frequente no curral, superando o padrão dos confinamentos tradicionais, onde geralmente o manejo é limitado ao processamento de entrada e saída dos bovinos.

Um dos exemplos de confinamentos funcionando como estação de pré-embarque é a Fazenda Pontilhão do grupo Mercúrio, localizada em Abaitetuba. A unidade comercializa gado em pé principalmente para Egito, Turquia, Líbano, Iraque, Jordânia e Marrocos.

A Fazenda Nordelta, localizada em Barcarena, também é 100% dedicada à exportação do gado em pé. Os gestores buscam no mercado bezerros e garrotes com boa padronização genética e fazem a preparação para o embarque. A dieta também é estratégica, oferece basicamente milho moído e silagem de capim, além de farelo de soja. Um destaque curioso é o uso da torta de dendê, uma alternativa proteico-energética de baixo custo devido sua alta disponibilidade na região.

Outra propriedade que se destaca pela operação de EPEs na região é a Agroexport. Localizada em Moju, é uma das maiores exportadoras da região, tendo como principal mercado o Oriente Médio. A empresa está no mercado desde 1988, quando iniciou as operações em Minas Gerais com a exportação de bovinos de genética.

Para atender às exigências dos compradores e os recentes anexos da Instrução Normativa, a Agroexport investiu em currais espaçosos e está duplicando sua área de sombreamento.

Para acatar as exigências de cada um dos países importadores, são utilizadas zonas de quarentena diferentes. Nestas áreas, se separam os lotes de bovinos de acordo com seu destino e são realizados todos os protocolos exigidos pelo país importador. Tudo isso para garantir que os animais estejam dentro dos parâmetros exigidos pelo comprador, respeitando as leis nacionais e internacionais para a exportação de gado em pé.

Fonte: Fernanda Cicillini – Confina Brasil

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