A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, recebeu, nesta segunda-feira (19), delegações oficiais de três países africanos: República de Ruanda, Estado da Líbia e República Democrática do Congo. Os encontros antecederam o II Diálogo Brasil África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural, que começou nesta segunda-feira (19), à noite, e vai até o dia 22 de maio.
O evento é coordenado pelo Ministério das Relações Exteriores. O II Diálogo reúne delegações oficiais de países africanos, incluindo ministros da Agricultura, representantes de organizações internacionais, bancos multilaterais de desenvolvimento, instituições de pesquisa, organizações e cooperativas da agricultura familiar e entidades do setor privado e contará com a participação da Embrapa em painéis no Palácio do Itamaray, visitas de campo na Embrapa Semiárido e ao estande da empresa da AgroBrasília.
Participam do II Diálogo Brasil África 44 países do continente africano, 32 ministros, vice-presidentes, vice primeiros-ministros e chanceleres. Veja aqui mais informações sobre o evento.
Ruanda
Hoje, a primeira missão recebida pela presidente foi a de Ruanda, liderada pelo embaixador Lawrence Manzi. O encontro reforçou o interesse de Ruanda em ampliar a cooperação técnica, especialmente nas áreas de agricultura tropical, produção animal, sementes resistentes e tecnologias diversas para aumento de produtividade.
Durante a reunião, Silvia falou sobre a estruturação da Embrapa, sua história e atuação no contexto atual. Também abordou a proposta de capacitação de 30 pesquisadores africanos em unidades da Embrapa, prevista para 2025. A iniciativa conta com a parceria da Embrapa com a ABC – Agência Brasileira de Cooperação e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), colaboração da Fundação Bill & Melinda Gates e do Fórum Africano para Pesquisa Agropecuária. A delegação ressaltou o potencial de Ruanda para atuar como um polo regional de inovação, reforçando sua posição estratégica na Zona de Livre Comércio Continental Africana.
Silvia chamou atenção para a importância de uma estratégia conjunta e estruturada nos países africanos, capaz de sustentar os esforços de cooperação técnica. “No Brasil, o avanço só foi possível porque tivemos investimentos consistentes em ciência, tecnologia, capacitação de pesquisadores e produtores, além de políticas públicas de apoio. Sem esse tripé, o conhecimento transferido corre o risco de se perder”. Ela reforçou que cada país africano precisa definir, com clareza, como dará continuidade às ações após a formação promovida no Brasil.
Crescimento acelerado
Ruanda é hoje um dos países com crescimento mais acelerado do continente africano e tem buscado se posicionar como um polo de inovação e negócios na região. Entre os desafios estão a baixa produtividade agrícola como no setor leiteiro e necessidade de melhoria em práticas de cultivo, especialmente em um território com clima e biomas semelhantes aos do Brasil.
Os representantes africanos destacaram o interesse em tecnologias da Embrapa voltadas à agricultura integrada, uso eficiente do solo e melhoria genética de plantas e animais, buscando replicar modelos bem-sucedidos brasileiros.
Além da capacitação de pesquisadores, novas ações bilaterais poderão incluir projetos em cadeias produtivas específicas, como café, chá, abacate, hortaliças, milho e feijão — culturas prioritárias para Ruanda.
Participaram da reunião a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, o embaixador de Ruanda no Brasil, Lawrence Manzi, e o ministro da Agricultura e Recursos Animais de Ruanda, Mark Cyubahiro Bagabe, acompanhado de técnicos do governo ruandês. Representando a Embrapa, estiveram presentes Marcelo Morandi, chefe da Assessoria de Relações Internacionais, Paulo Galerani e Paulo Melo, pesquisadores atuando na Assessoria de Relações Internacionais e especialistas das áreas de transferência de tecnologia e cooperação técnica.
Estado da Líbia
O embaixador extraordinário do Estado da Líbia no Brasil, Osama Ibrahim Ayad Sawan, em reunião com a presidente Silvia destacou a necessidade de cooperação técnica da Embrapa para o desenvolvimento de projetos para o fortalecimento da produção de trigo, amendoim, cítricos, bem como em gado de corte e gado de leite.
Ayad falou sobre o projeto “grande rio artificial” que pretende levar água potável para as regiões litorâneas da Líbia. No entanto, o desafio é desenvolver um projeto técnico para formar o cinturão verde no litoral líbio, que tem uma costa de 2 mil quilômetros no Mar Mediterrâneo. “O deserto da Líbia tem um grande bolsão de água que daria para suprir a necessidade do povo líbio por 400 anos. A Líbia tem potencial para a realização de grandes projetos e, para isso, gostaríamos de colocar em prática acordos existentes com o Brasil”, disse o embaixador.
Ele lembrou que a Embrapa é vista com muita admiração por muitos cientistas líbios, principalmente pelo exemplo de evolução agrícola, país que passou em 52 anos de importador para exportador de alimentos. A presidente Silvia reforçou a importância da Embrapa na produção de alimentos e salientou as recentes conquistas como da nanotecnologia, edição gênica, tecnologias para o enfrentamento às mudanças climáticas, sustentabilidade, transparência ao consumidor na produção dos alimentos, por meio do rastreamento, além da Inteligência Artificial e da inclusão socioprodutiva e digital. Também citou a importância das práticas sustentáveis e a intensificação agropecuária.
República Democrática do Congo
Com uma missão formada por oito integrantes, liderados pelo embaixador Benoîte-Labre Ngala Mulume Wa Badidike, a missão da República Democrática do Congo propôs à Embrapa a construção de parceria técnica para o melhoramento genético do milho, arroz, soja, amendoim e mandioca naquele país, com o objetivo de oferecer segurança alimentar à sua população, que convive há 30 anos com situações de conflitos internos e com países vizinhos.
“Queremos produzir para exportação cacau, aveia e café e aprender a fazer o melhoramento genético de nossas sementes e cultivares, aprender a conservar e guardar o material genético, realizar capacitações e trocas de experiências com os pesquisadores brasileiros”, enfatizou o embaixador. Ele explicou que já existe no país um Instituto Nacional de Pesquisa Agropecuária que poderá ser utilizado para o intercâmbio com a Embrapa.
No país existem 72 variedades de cacau, além de uma enorme variedade de milho e uma descoberta recente de uma nova variedade de café de elevado valor agregado.
Capacitação de pesquisadores africanos
Silvia Massruhá explicou que a Embrapa deve receber, ainda em 2025, 30 pesquisadores de países africanos para capacitação em unidades da empresa no Brasil. A proposta, discutida em março durante o Diálogo Brasil-África, conta com apoio do IICA, da Fundação Bill & Melinda Gates e do Fórum Africano para Pesquisa Agropecuária (FARA). Os participantes serão selecionados a partir de demandas apresentadas por 20 países africanos que mostraram interesse em participar do projeto, considerando áreas técnicas e produtivas específicas.
A gestora destacou que a retomada da cooperação com a África exige mais do que transferência de tecnologia, mas uma colaboração técnica ampla entre países. Segundo ela, é fundamental que os países parceiros tenham estratégias próprias de pesquisa, capacitação e políticas públicas, a fim de garantir a continuidade das ações iniciadas com apoio brasileiro.
A proposta será apresentada a ministros da Agricultura africanos ao longo da semana, com o objetivo de formalizar os compromissos. A seleção dos países participantes e das unidades da Embrapa que receberão os pesquisadores será feita após essa etapa.
Fonte: Assessoria de Imprensa – Embrapa