O cultivo de hortaliças em estufas, também conhecido como cultivo protegido, tem como um dos principais desafios o problema de salinização do solo. O uso intensivo de fertilizantes, sistemas de irrigação com baixo volume de água e a ausência de precipitações cria um ambiente propício para a ocorrência desse problema. Entenda mais sobre como a salinização tem impactado a produção de hortaliças em cultivo protegido e maneiras para mitigar esse problema.
A produção de hortaliças em cultivo protegido
Cultivo protegido. Estufa agrícola. Casa de vegetação. São vários nomes para um mesmo princípio: criar um ambiente com condições ideais para desenvolvimento das culturas, de forma a garantir a regularidade da oferta desses produtos no mercado.
Na história, o primeiro relato dessa técnica de cultivo data do ano de 1848, em Londres, com uma estufa de vidro projetada pelo arquiteto Decimus Burton. Porém, a expansão do cultivo protegido para as regiões tropicais só ganhou força com o surgimento do plástico, principalmente do polietileno de baixa densidade, sintetizado pela primeira vez na década de 40.
No Brasil, a produção de hortaliças em cultivo protegido se iniciou em 1980 e foi vista como uma alternativa viável para proteger as culturas do excesso de chuvas, pragas e doenças. Esse sistema, além de melhorar o controle sobre disponibilização de água e nutrientes e a sanidade das culturas, permite o ajuste do microclima ao modificar a temperatura, a umidade e a luminosidade na área de cultivo.
Com um alto custo de implantação e elevado nível de tecnificação exigido para o manejo das culturas, o cultivo protegido foi se expandindo principalmente para culturas mais sensíveis as condições climáticas e de alto valor agregado, como as hortaliças.
No artigo Levantamento do custo de produção do tomate da variedade “paipai” em estufa, no município de Paranapuã, na região noroeste paulista, Marcia Donizeth Prete e outros pesquisadores estimaram o custo de implantação de uma estufa para tomate da variedade “paipai” em 1209m2.
Apesar dos custos de implantação para estufa e irrigação de cerca de 160 mil reais e gastos totais de produção de aproximadamente 21 mil reais, o empreendimento se mostrou viável por meio da receita estimada em 67 mil reais para uma produção 1.220 caixas de 25 kg.
Porém, um mito surgiu no campo: após três anos de cultivo, muitos agricultores não conseguiam mais obter a produtividade e qualidades dos anos iniciais de implantação da estufa.
Grande parte desses prejuízos podem ser ligados não ao sistema de cultivo em si, mas sim as práticas inadequadas de manejo. A falta de informação/assistência técnica adequada, principalmente para o manejo da adubação, levava a problemas que comprometiam a qualidade e produtividade das culturas, como a salinização.
O problema da salinização em estufas de hortaliças
A salinização é um processo indesejado na agricultura que ocorre quando existe um acúmulo excessivo de sais no solo. Esse processo altera o potencial osmótico do solo, fazendo com que o solo retire a água de dentro das células das plantas e microrganismos, levando à morte microbiana e das raízes e consequentemente, na queda de produtividade.
A Doutoranda em Fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras, Mestre em Produção Vegetal pela Universidade Federal de São João del-Rei e Professora Adjunta da Faculdade Arnaldo, Ana Clara Pimenta explica como o processo de salinização leva a essas perdas de produtividade:
Dessa forma, é muito importante realizar análises químicas e físicas dos solos e análises dos teores de nutrientes nas plantas para identificar a salinização do solo precocemente. Caso contrário, o estresse salino pode comprometer a produtividade das plantas quando os sintomas visuais se manifestam, com a:
Redução no crescimento radicular e na parte aérea da planta;
Deformações e queimaduras nas bordas e no ápice das folhas;
Reduções do tamanho e alterações na coloração dos frutos.
Um dos grandes desafios dos sistemas de cultivo protegido, é de que ele cria um ambiente que favorece o processo de salinização se o manejo não for adequado, com o uso intensivo de fertilizantes, uso de água salina, ausência de drenagem adequada, sistemas de irrigação com baixo volume de água e a ausência de precipitações da água da chuva, que “lavariam” o solo.
Além disso, existem algumas culturas que são especialmente sensíveis a salinidade, como o pepino. No artigo Tolerância da cultura do pepino a salinidade em ambiente protegido, Pedro R. F. de Medeiros, Sérgio N. Duarte e Carlos T. S. Dias concluíram que a cultura do pepino apresentou valores elevados de redução da produção em percentagem, por aumento de uma unidade de salinidade, conforme evidenciado pelo gráfico abaixo:
Para que o agricultor não perca a elevada produtividade e qualidade proporcionada pelo sistema de cultivo protegido, é preciso buscar por soluções para mitigar os efeitos da salinização do solo.
Soluções para mitigar os efeitos da salinização do solo em sistemas de cultivo protegido
Como qualquer outro problema presente na agricultura, uma das melhores soluções iniciais para a salinização do solo é o emprego de ações preventivas. Para isso, é imprescindível que o agricultor monitore frequentemente a condutividade elétrica e o pH, parâmetros capazes de identificar o teor de sais presentes no solo.
Outro fator que tem grande influência é a quantidade de substrato disponível para as culturas. O cultivo em vasos, por exemplo, aumenta a velocidade do processo de salinização, já que volume de substrato explorado pelas raízes é menor.
Também é importante reduzir a adição externa de sais no solo, cuidando da qualidade da água e buscando por fontes de nutrientes com baixo índice salino, como o Siltito Glauconítico.
Caso a área já se apresente salinizada, é preciso buscar por formas de retirar o excesso de sais presentes no solo e recuperar a área. E algumas alternativas para isso são:
Realizar a “lavagem” do solo, irrigando-o com o equivalente a dez vezes a sua capacidade de retenção de água até a drenagem completa;
Cultivar espécies tolerantes a salinidade e com alta taxa de absorção de sais, como a beterraba (Beta vulgaris L.), crotalária (Crotalaria juncea L.) e milheto (Pennisetum glaucum L.);
Ao monitorar a salinidade do solo, utilizar métodos preventivos e corretivos e optar por fertilizantes com baixo índice salino, como o Siltito Glauconítico, o agricultor promove a saúde do solo, mitiga os efeitos da salinização e otimiza a produtividade e qualidade das suas hortaliças em sistemas de cultivo protegido.
Fonte: Stella Xavier