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O agronegócio pode transformar o Brasil em líder global do mercado de carbono

*Por Fernando Beltrame

O Brasil tem condições únicas para se tornar referência mundial em soluções climáticas, e o agronegócio pode ser o protagonista desse movimento. Reconhecido por sua capacidade de alimentar o mundo, o setor agora se vê diante de uma nova fronteira de crescimento: a geração de créditos de carbono. Ao adotar práticas sustentáveis, os produtores rurais podem não apenas reduzir emissões de gases de efeito estufa, mas criar uma nova fonte de receita, atraindo investimentos e fortalecendo economias locais.

O mercado global de carbono vem crescendo rapidamente, impulsionado pela urgência em conter os efeitos das mudanças climáticas. Segundo o Banco Mundial, o segmento voluntário movimentou aproximadamente US$ 2 bilhões em 2024, e a expectativa é que esse número se multiplique até 2030, à medida que empresas e governos assumem metas mais ambiciosas de descarbonização. No Brasil, a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), em discussão no Congresso Nacional, deve estabelecer regras claras e segurança jurídica, condição indispensável para que esse segmento se desenvolva com credibilidade e competitividade.

A agropecuária, responsável por cerca de 27% das emissões nacionais de gases de efeito estufa, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), tem um papel central nesse processo. Embora esse número represente um desafio, ele também revela uma oportunidade estratégica: com técnicas adequadas, é possível transformar áreas de alta emissão em projetos geradores de créditos de carbono, criando valor para o produtor e para o país.

Práticas como agricultura regenerativa, integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), plantio direto e uso de biodigestores são exemplos concretos de como o agro pode avançar na chamada descarbonização. Um caso emblemático é a produção de biogás a partir de resíduos orgânicos, como o esterco de suínos. Essa tecnologia evita que o metano — gás com potencial de aquecimento global 28 vezes maior que o CO₂, conforme o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) — seja liberado na atmosfera, ao mesmo tempo em que gera energia limpa e créditos valorizados no mercado internacional

Cada crédito de carbono representa uma tonelada de CO₂ que deixou de ser emitida ou foi removida da atmosfera. Quando comercializados, esses créditos se convertem em recursos que podem ser reinvestidos na propriedade rural. Para pequenos e médios produtores, isso significa viabilizar projetos como agroflorestas, reflorestamento, geração de energia renovável e recuperação de áreas degradadas, criando um ciclo virtuoso que combina benefícios ambientais e desenvolvimento econômico. Essa dinâmica fortalece cadeias produtivas e impulsiona a economia de regiões rurais que muitas vezes dependem de uma única atividade agrícola.

No entanto, para que esse mercado alcance todo o seu potencial, a transparência e a precisão na mensuração dos resultados são indispensáveis. Tecnologias como sensoriamento remoto, inteligência artificial e blockchain já estão sendo aplicadas para monitorar projetos em tempo real, oferecendo rastreabilidade e confiança aos investidores. Sem esses mecanismos, corremos o risco de alimentar práticas de greenwashing e comprometer a credibilidade do Brasil no cenário internacional.

Com biodiversidade única, vasto território e experiência agrícola consolidada, o Brasil pode ir além de ser um fornecedor global de alimentos. Temos a chance de nos posicionar como líderes na transição para uma economia verde, agregando valor ao campo e contribuindo de forma decisiva para a mitigação das mudanças climáticas. Para isso, será necessário alinhar políticas públicas, inovação tecnológica e engajamento do setor privado, criando um ambiente seguro e competitivo para que o agronegócio assuma seu papel como motor de uma nova economia de baixo carbono.

*Fernando Beltrame é mestre pela USP, engenheiro pela Unicamp e CEO da Eccaplan. Com mais de 20 anos de experiência em projetos de consultoria, sustentabilidade e estratégia Net Zero, já atuou em diferentes eventos e iniciativas como a COP18, Rio+20 e fóruns mundiais.

Fonte: Néia Andrade 

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