Uma nova recomendação de adubação para o plantio do cajueiro-anão permite o uso racional de insumos como corretivos e fertilizantes e confere maior sustentabilidade à produção de caju. A atualização, fruto de pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Agroindústria Tropical (CE), substitui o atual processo, em uso há 25 anos, e atende demanda de produtores rurais do Ceará para adequação da adubação na fase de implantação de pomares. A mudança garante desenvolvimento das plantas equivalente ao obtido na antiga recomendação, com redução de 70% nos custos de adubação, no plantio das mudas, por hectare. Esse resultado proporciona economia para os produtores e beneficia a cultura e o meio ambiente.
As pesquisas para determinação da nova recomendação, iniciadas em 2021, foram realizadas por meio dos projetos “Aperfeiçoamento tecnológico do manejo de pomares de cajueiros para obtenção de alta produtividade (Fase II)” e “Inovações tecnológicas para o sistema de produção do cajueiro-anão”, este último financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq) e pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). Os resultados estão disponíveis na publicação Recomendações de calagem e adubação para o plantio do cajueiro.
De acordo com o pesquisador Carlos Taniguchi, responsável pelos estudos com foco na melhoria da adubação, a primeira recomendação da pesquisa para a cultura, publicada na década de 2000, ainda utilizada, se fundamenta em estudos com o cajueiro-comum e outras frutíferas. “Levantamentos realizados junto aos produtores de caju de diferentes municípios do Ceará confirmaram a necessidade de adequar essas orientações com base nas necessidades do cajueiro-anão”, explica.
Para crescer e se desenvolver, o cajueiro precisa de elementos- como nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, boro, cobre, ferro, manganês, zinco, cloro, molibdênio e níquel. A adubação repõe esses nutrientes no solo, quando não encontrados em quantidade adequada, e influencia diretamente a produção do pomar. “Ser assertivo nesse processo evita gastos desnecessários e garante o bom desenvolvimento da cultura”, afirma Taniguchi.
O que muda na adubação de plantio
A antiga recomendação preconiza o uso de uma quantidade elevada de adubos, por cova, prática que aumenta o custo de produção na cultura. De acordo com Taniguchi, no caso de adubos fosfatados, dependendo do teor de nutriente no solo, chegava-se a aplicar quase um quilo de superfosfato simples por cova. A nova recomendação diminui essa quantidade para no máximo 200 gramas por cova e limita a aplicação de calcário somente à área total do pomar. Antes, a aplicação do produto era feita também na cova de plantio”, ressalta.
Além disso, houve uma diminuição substancial da quantidade de micronutrientes aplicados na cova de plantio. A dose de FTE-BR12, produto que contém zinco, boro, cobre, ferro, manganês e molibdênio na sua composição, antes fixada em 100 gramas por cova, para todos os tipos de solo (baixa, média ou alta fertilidade), agora será definida com base nos resultados da análise do solo.
Redução de custos
A fase de plantio é crucial para o estabelecimento das mudas de cajueiro e o único momento em que os adubos são aplicados no solo em profundidade. Os ajustes na recomendação de adubação de plantio do cajueiro-anão proporcionam uma economia de cerca de 70% nos custos dessa etapa de produção.
“Na antiga recomendação, o custo médio da adubação de plantio em um hectare de cajueiro, com espaçamento de 8 m por 8 m (156 plantas) é de R$ 520,00. Já na nova, por dispensar a aplicação de calcário na cova e utilizar doses reduzidas de fósforo e micronutrientes, esse valor cai para R$138,00”, afirma Taniguchi.
Benefícios ambientais
Além de benefícios econômicos, o uso racional de adubação química na agricultura proporciona ganhos ambientais, por minimizar riscos de contaminação do solo, cursos d´água e dos alimentos, contribuindo para um modelo de produção mais sustentável. A diminuição de fertilizantes químicos ajuda a conservar a estrutura física do solo, uma vez que alguns desses produtos podem levar ao acúmulo de sais e à degradação da matéria orgânica.
O cajueiro, por ser cultivado em solos de baixa fertilidade, é uma planta relativamente exigente em adubação. De acordo com a pesquisa, a nova recomendação atende à necessidade da planta com doses quatro vezes menores de adubos, em relação à recomendação anterior. A longo prazo, essa redução pode levar a melhorias no solo, como a conservação da vida biológica, e na qualidade dos frutos, especialmente quando aliada a práticas orgânicas de manejo.
Aplicativo para avaliação nutricional do cajueiro
Estudos comprovam que a falta ou o excesso de nutrientes prejudica o crescimento, o desenvolvimento e a produção do cajueiro, com impactos econômicos na atividade produtiva. Entretanto, práticas como análises de solos e foliar, para verificação da condição nutricional das plantas do pomar, ainda são pouco utilizadas pelos produtores, muito em função da carência de orientações técnicas voltadas à realização desses procedimentos na cajucultura.
As pesquisas para a nova recomendação de adubação envolvem também o desenvolvimento de uma ferramenta on-line destinada à Diagnose da Composição Nutricional (CND). Batizado de CND Caju, o aplicativo realiza a interpretação dos resultados da análise foliar e determina o estado nutricional do cajueiro. Essa avaliação é crucial para orientar a adubação da planta. A ferramenta, em fase de finalização, é de simples adoção e será disponibilizada a produtores e técnicos da extensão rural.
Segundo o engenheiro agrônomo Wiliam Natale, bolsista do CNPq na Embrapa Agroindústria Tropical, que participa dos estudos, a CND considera interações multivariadas entre os nutrientes em plantas de alta performance produtiva. “Essas interações são importantes, uma vez que o desequilíbrio nutricional prejudica a produtividade e a qualidade da produção e pode deixar a planta mais suscetível ao ataque de doenças e ao estresse do ambiente. O estado nutricional ideal não é a abundância de nutrientes, mas o equilíbrio entre esses elementos, de acordo com as necessidades específicas da espécie e de cada fase de desenvolvimento das plantas”, ressalta.
Conforme explica Natale, os gastos com adubação representam aproximadamente 30% dos custos de produção. Ele defende que é necessário trabalhar com cálculos precisos para definição das quantidades de insumos no processo, uma vez que um desvio para mais ou para menos impacta diretamente o desenvolvimento da cultura e o custo do investimento. “Uma análise de solo ou foliar bem feita e a adequada interpretação dos dados podem aumentar consideravelmente a produção e gerar mais lucro na cultura”, enfatiza o especialista.
Continuidade dos estudos
O cronograma de pesquisa prevê o acompanhamento e avaliação do desenvolvimento dos cajueiros por, pelos menos, dois anos. Conforme Taniguchi, as pesquisas com culturas perenes, como o cajueiro, são processos de longa duração. Mesmo com o término do projeto, os estudos continuam, para verificar como essas plantas vão se comportar também em termos de produtividade, sob os efeitos da nova recomendação de adubação.
Fonte: Agência Embrapa de Notícias



