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Mesmo com incertezas geradas pela pandemia, mercado de carnes ainda respira

A pandemia do novo coronavírus afetou toda a economia do planeta. Mas mesmo com o impacto negativo em muitos setores, as exportações do agronegócio não sofreram tanto os efeitos. Segundo dados do Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCarnes), da Embrapa, as vendas externas em março de 2020 representaram 13,3% a mais do que no mesmo período no ano passado. O destaque foi para a carne bovina, que movimentou mais de US$ 630 milhões em março deste ano.

Mas o mercado ainda opera sobre grandes incertezas. Em boletins emitidos pelo Centro de Inteligência toda semana, um dos fatores que geram preocupação nos especialistas é o de ordem econômica, como a renda da população, o preço da carne e o preço de proteínas concorrentes. A estimativa é que cresça para 12,6 milhões o número de desempregados durante a pandemia, elevando essa taxa de 11,6% para 23,8%.

“O preço da carne subiu muito entre o final do ano passado e o início desse ano. Com a pandemia, o consumo caiu, a oferta melhorou porque a China está comprando menos, o preço caiu e isso é bom para o consumidor, que vai poder consumir mais carne”, explica o presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), Cesar Bergo.

O economista avisa que essa queda no preço para os consumidores era esperada. Já para os produtores, segundo Bergo, gera uma nova perspectiva. “O fechamento de plantas de produção em países como os Estados Unidos abre oportunidade para que o mercado brasileiro venda mais carne para a China”, diz.

Para o assessor técnico da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ricardo Nissen, é preciso avaliar o mercado interno e externo separadamente. “O que temos no mercado interno é uma adequação dos preços, para que o frigorífico e o varejo consigam equilibrar o valor do boi”, argumenta, mesmo concordando que há preocupação na queda do consumo do produto.

Em relação ao mercado externo, Nissen acredita ser “injusto” comparar a queda de preço observada nesse ano com a do ano passado. “Em dezembro, tivemos uma grande valorização da tonelada embarcada por conta da China – aumento de demanda e muito consumo externo. O preço caiu em relação a dezembro de 2019, mas continua um preço acima do que vinha sendo negociado na média do ano passado.”

Entre fevereiro e março deste ano, o preço de cortes de carne bovina teve variação negativa, que oscilou entre -11,72%, em fevereiro, e -5,77%, no mês seguinte – isso para cortes nobres, como filé mignon. O reflexo da queda foi pela procura menor, causada pelo isolamento social pelo novo coronavírus. Outros tipos de carne também sentiram os efeitos, como a costela (0,43%, em março) e acém, com alta de 0,75%, após sofrer com a perda de quase 5% em fevereiro.

O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP) registrou alta de 17,9% no preço da arroba do boi gordo se comparado a março do ano passado. Comparado com o período de 10 a 17 de abril, o crescimento foi de menos de 2%. Segundo o Cepea, o mercado interno ainda tem baixa procura, embora as exportações estejam em alta.

Dificuldades 
Outra dificuldade relatada por especialistas é a em relação às restrições impostas pela pandemia, já que isso pode dificultar a chegada de alguns produtos aos mercados.

Atualmente, o transporte da carne bovina no Brasil é realizado principalmente por rodovias. No momento da exportação, a via marítima continua sendo o canal mais acessado. Devido à pandemia, a logística tem sofrido dificuldades, pois a maior parte dos navios têm que esperar liberação para descarregar a mercadoria.

O estudo da CiCarnes aponta que em muitas províncias da China as cargas ficaram estagnadas devido a restrições logísticas impostas pelo governo chinês para controlar a pandemia da covid-19, gerando déficit de contêineres no mercado e causando uma pressão no setor logístico do Brasil, com uma procura maior por contêineres refrigerados, encarecendo o frete dos compradores.

Em contrapartida, os dados mostram que já ocorre a transferência de estoque de restaurantes e atacados para os domicílios no mercado interno. Comércio de pequeno e médio porte, como mercados locais, têm contribuído para isso, além de hipermercados, com maior extensão.

“O cenário pós-pandemia é muito favorável para o mercado brasileiro”, avalia Cesar Bergo. “Somos, praticamente, os maiores produtores de proteína animal do mundo. Então, devemos aumentar as exportações, o que será positivo para a balança comercial, sem haver aquele desabastecimento interno que aconteceu no ano passado, em função da grande demanda da China”, comenta.

Nissen diz que é preciso analisar esse cenário pós-pandêmico sob duas óticas. “A primeira dela é em relação ao consumo, a demanda dos nossos produtos. A gente vai ter a linha nacional, do mercado interno, e a questão das exportações. Por outro lado, temos que analisar a oferta de animais prontos para o abate, para ter realmente a demanda dessa carne bovina toda.”

Internet 
Uma forma de impulsionar esse mercado é pela internet. De acordo com dados de uma plataforma de inteligência e de pesquisa (NZN), colhidos no final de março, 71% dos entrevistados afirmaram que pretendiam aumentar as compras online.

Segundo a pesquisa, produtos de higiene (80%) e alimentos e bebidas (72%) estão entre as prioridades dos brasileiros nessa pandemia. Remédios ficam na 3ª colocação.

Para Cesar Bergo, o e-commerce veio para ficar. “O mercado virtual consegue trazer essa vantagem para o mercado de alimentos como um todo, não só da carne. Esse mercado tem ajudado restaurantes e mercados e as pessoas têm consumido carne por meio deles”, conclui Bergo.

Para Ricardo Nissen, é um mercado “possível”. “Logicamente não é o canal mais acessado pelo comprador e pelo consumidor, mas é um mercado acessível para comprar carne.”

A pesquisa ouviu mais de 1,7 mil pessoas em todo o Brasil durante o mês de março.

Fonte: Agência do Rádio Mais

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