*Por Daniel Pedroso
O interesse pela irrigação, no Brasil, emerge nos mais variados tipos de clima, solo e condições econômicas. Não existe um sistema de irrigação ideal capaz de atender a todas essas condições. Por isso, escolher o sistema de irrigação mais adequado, de acordo com as características locais, é uma das grandes questões a serem respondidas no momento da elaboração do PDI (Plano Diretor de Irrigação). E por que não utilizar vários tipos de irrigação conforme as diferentes necessidades?
No mercado, há diversos equipamentos disponíveis, sendo os mais usuais: o autopropelido, o pivô central e o gotejamento.
O sistema de aspersão autopropelido com carretel enrolador é acionado por energia hidráulica e consiste basicamente em um conjunto motriz que aciona um carretel conectado a uma mangueira de Polietileno de Média Densidade (PEMD). Essa mangueira está ligada a um carro irrigador com aspersor do tipo “canhão” hidráulico, montado sobre uma carreta com rodas portáteis.
Já o pivô é um sistema de irrigação por aspersão, que apresenta movimentação circular de uma linha lateral de 200 a 800 m, suspensa por uma estrutura formada por torres com rodas e treliças. As torres se movimentam independentemente, acionadas por motores elétricos, promovendo a rotação em torno de um ponto pivô, que serve como ancoragem e tomada de água.
O sistema de irrigação por gotejamento aplica água diretamente na região radícular da planta, em alta frequência e baixo volume, por meio de emissores conhecidos como gotejadores. Esse método visa suprir a deficiência hídrica da planta e manter o solo próximo à sua capacidade de campo.
Conhecer as características de cada equipamento, suas vantagens e limitações, é essencial para decidir qual sistema utilizar, onde aplicá-lo e, principalmente, quando.
Normalmente, devido às características de aplicação de água e movimentação no canavial, o autopropelido é usado apenas como irrigação de salvamento. Ele é aplicado nos primeiros três meses do canavial (planta ou soca), distribuindo de 30 a 120 mm de água, com o objetivo de favorecer a germinação ou rebrota. Por isso, esse sistema é indicado para canaviais colhidos no início da safra.
Para canaviais de meio e final de safra, os sistemas mais indicados são o pivô central e o gotejamento. E por que não pensar na harmonização entre os dois sistemas?
Com esses dois sistemas, é possível irrigar canaviais adultos com alta eficiência. Entretanto, para canaviais no final da safra, quando o déficit hídrico atinge seu auge, mesmo o pivô sendo uma excelente alternativa, o gotejamento se destaca devido às perdas naturais que ocorrem na irrigação por aspersão.
As perdas naturais referem-se a fatores físicos, como o efeito guarda-chuva (retenção de água nas folhas da cana-de-açúcar), a evaporação em ambientes secos e a deriva causada pelos ventos. Esses fatores não afetam a irrigação subterrânea, tornando o gotejamento mais eficiente no uso da água pela planta (não confundir com eficiência de aplicação).
No entanto, ambos os equipamentos são úteis e necessários para manter ou aumentar a produtividade, que tende a cair no meio e final da safra.
Considerando a necessidade de irrigar grandes áreas, usar apenas um sistema de irrigação é inviável. Por isso, pensar na integração dos três sistemas é altamente recomendável, utilizando cada um conforme a fase da safra: início, meio e final.
Esse conceito, conhecido como manejo integrado de irrigação, permite combinar diferentes métodos com características distintas, mas com o mesmo objetivo: estabilizar ou até aumentar a produção de cana-de-açúcar nos períodos de maior déficit hídrico.
O manejo integrado de irrigação não se limita à aplicação de água, mas envolve decidir como, quando e quanto aplicar. Tudo isso com um objetivo maior: produzir mais de maneira sustentável.
*Daniel Pedroso, especialista agronômico sênior da Netafim Brasil.
Fonte: Mariana Cremasco