Registro valoriza o produto, o território e os produtores locais
A Maçã Fuji da região de São Joaquim, em Santa Catarina, conquistou o selo de Indicação Geográfica (IG), na espécie Denominação de Origem (DO), nesta terça-feira (3), pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A qualidade da Maçã Fuji produzida na região é reconhecida devido às características exclusivas e essencialmente ligadas ao meio geográfico, incluindo os fatores naturais e humanos, e o processo de produção desenvolvido há mais de cinco décadas.
Esse reconhecimento é resultado de uma parceria entre o Sebrae/SC, a Associação de Maçã e Pêra de Santa Catarina (AMAP), a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Associação dos Municípios da Região Serrana (Amures), Secretaria Estadual de Agricultura da Pesca e do Desenvolvimento Rural e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
A conquista de Indicação Geográfica destaca que a Maçã Fuji produzida na região de São Joaquim é diferenciada das outras produzidas no País, valorizando sua história e características únicas. Por meio do selo, a Maçã Fuji da região de São Joaquim tem mais potencial de agregar valor econômico e conquistar novos mercados. O registro da IG é dado aos produtos que apresentam uma qualidade única e características do seu local de origem. É o caso, por exemplo do “Vinho do Porto”, de Portugal e da “Champagne”, da região de Champagne, na França.
“Essa é a sexta Indicação Geográfica (IG) de Santa Catarina, e conquistas como essas são de atuação prioritária do Sebrae/SC, que em parceria com outras entidades busca a valorização tanto de territórios quanto dos seus produtos únicos e tradicionais, que mobilizam não só a cadeia produtiva em si, mas podem gerar desenvolvimento e integração a outros elos da cadeia. A IG reconhece e chancela o trabalho do agricultor familiar catarinense, e sedimenta os esforços desse empreendedor na busca por uma produção de qualidade, que gera empregos e renda. O projeto de construção da IG da Maçã Fuji faz parte de uma estratégia maior de Desenvolvimento Territorial liderada pelo Sebrae/SC. Foram utilizados princípios de metodologia francesa denominada `Cesta de Bens e Serviços Territoriais` – trazida ao Brasil pelo Laboratório de Estudos da Multifuncionalidade Agrícola e do Território (LEMATE) da UFSC, que busca revelar, organizar e promover de forma conjunta os principais recursos e ativos de uma região, especialmente os específicos, ou seja, àqueles que não podem ser reproduzidos em outro local com os mesmos atributos qualitativos impressos pelo território. Com essa metodologia, a Maçã Fuji foi um dos três produtos âncora selecionados para promover o desenvolvimento da serra catarinense de forma sustentável e inclusiva, juntamente com os vinhos de altitude de SC e com o Mel de Melato da Bracatinga do Planalto Sul Brasileiro”, afirma o gerente de desenvolvimento regional do Sebrae/SC, Paulo Cesar Sabbatini Rocha.
A presidente da Epagri, Edilene Steinwandter, destaca o trabalho multidisciplinar desenvolvido pela instituição para conquista desta IG. “A obtenção da IG mobilizou profissionais da extensão e de pelo menos três unidades de pesquisa da Epagri” enumera Edilene. “A IG da Maçã Fuji da Região de São Joaquim vem coroar um trabalho histórico da Epagri, que colocou Santa Catarina na posição de maior produtor da fruta no País”, recorda a presidente, lembrando que o Estado faz pesquisas em pomicultura desde 1970.
A Maçã Fuji foi introduzida na região de São Joaquim na década de 1970 a partir de uma política pública de estímulo à produção de frutas de clima temperado. Trazida do Japão e cultivada nas colônias japonesas implantadas na região na mesma época, a maçã Fuji tornou-se um produto econômico de importância central para a economia local. O reconhecimento da qualidade da Maçã Fuji da Região de São Joaquim tornou este nome reconhecido nacionalmente, a ponto de garantir ao município o título de Capital Brasileira da Maçã.
O produto apresenta alto grau de adaptabilidade às condições da Região de São Joaquim, resultando em características diferenciadas na qualidade dos frutos quando comparada às demais regiões produtoras. Atualmente, a região possui não apenas o maior número de produtores, mas também a maior produtividade do Brasil, produzindo 66% do total de produção nacional desse cultivar.
A altitude de 1.100m determinada para a produção da fruta permite uma ocorrência de pelo menos 700 horas de temperaturas abaixo de 7,2°C no inverno, proporcionando uma boa indução natural da brotação e do florescimento, necessário para o desenvolvimento fisiológico do cultivar. O clima tipicamente mais frio da região de São Joaquim resulta em ciclo vegetativo mais longo com floração antecipada e colheita mais tardia, favorecendo um processo de maturação mais prolongado, que possibilita a colheita de frutos com maior tamanho e peso. As temperaturas mais baixas nas semanas que antecedem a colheita também favorecem a ocorrência do chamado pingo de mel, distúrbio fisiológico que deixa o fruto mais doce.
A ocorrência de noites frias no período de quatro a seis semanas que antecede a colheita corresponde à ocorrência de uma amplitude térmica suficiente para a síntese de antocianina, favorecendo a pigmentação com uma coloração vermelha mais intensa da casca, característica das frutas da região, que são mais crocantes e suculentas que as produzidas em outras localidades.
“Esse reconhecimento nos alegra imensamente, e demonstra mais uma vez a excelência do Estado de Santa Catarina no desenvolvimento e aprimoramento de produtos de modo geral, em especial àqueles relacionados ao agronegócio. A região de São Joaquim foi reconhecida como uma área de produção delimitada com qualidades distintas e definidas pelo território, a partir de estudos da relação entre o homem, o produto e o território, caracterizando os fatores históricos, culturais e naturais para o produto. Isso faz com que Santa Catarina seja projetada tanto nacional, quanto internacionalmente, como um território de excelência de produção agropecuária. Os catarinenses devem se orgulhar com esse selo e tantos outros que virão, porque é um Estado caracterizado por pessoas empreendedoras e trabalhadoras, que devem ter seus trabalhos reconhecidos. Além de agregação de valor ao produto, traz benefícios como o incremento do turismo das regiões que recebem o selo de Indicação Geográfica”, afirma Mara Rúbia Romeu Pinto Muller, da Secretaria Estadual de Agricultura da Pesca e do Desenvolvimento Rural, que atuou na expedição de delimitação da área em Santa Catarina.
O selo do INPI reconhece a Maçã Fuji produzida em área delimitada da Região de São Joaquim, que possui um total de 4.928 km² e cerca de 176.854 toneladas produzidas, engloba os municípios de São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Urupema, Urubici e Painel. São 6.719 hectares, aproximadamente 2.104 unidades produtoras, 90% das quais são pequenas propriedades; duas são associações, seis são cooperativas e 12 são empresas.
Segundo o diretor administrativo da Associação de Maçã e Pêra de Santa Catarina (AMAP), Diego Nesi, é uma alegria muito grande essa conquista, que já vem sendo trabalhada pelos parceiros há cerca de quatro anos. “É um avanço para a nossa região, irá agregar valor ao produto e ao turismo, então é uma conquista para todos nós. A qualidade da Maçã Fuji já era reconhecida no nosso município, e o selo veio para coroar e trazer esse reconhecimento nacional e internacional, como uma das melhores maçãs do mundo, certificando que não existe outro produto igual ao nosso. Os produtores se sentem orgulhosos de estarem produzindo aqui”, completa.
O produtor orgânico de maçã, pera e caqui da Fazenda Ecológica Terra do Sol, Velocino Salvador Bolzani Neto, valoriza a conquista e a união de entidades em busca do selo de Indicação Geográfica. “É uma conquista que há muito tempo o setor sonhava, com todos esses parceiros o trabalho fluiu. O selo abre um horizonte de oportunidade para as agroindústrias e produtores, com a comercialização da Maçã Fuji na região, teremos mais geração de renda, emprego e oportunidades. Também teremos a oportunidade de valorizar o nosso território, principalmente nesse momento de pandemia, onde o brasileiro se volta mais para o turismo interno. Com certeza essa conquista vai contribuir para o desenvolvimento socioeconômico e turístico da região de São Joaquim, com destaque do nosso produto e para que as pessoas conheçam o que temos de importante”, afirma Velocino, que também é sócio da AMAP e sócio da Econeve, cooperativa ecológica de agricultores de São Joaquim.
Além da conquista de Indicação Geográfica para a Maçã Fuji da Região de São Joaquim, o Estado está representado por Indicações Geográficas de produtos como o Mel de Melato da Bracatinga do Planalto Sul Brasileiro, os Vinhos de Altitude de Santa Catarina, os Vinhos e Espumantes de Uva Goethe, dos Vales da Uva Goethe, a Banana da Região de Corupá e o Queijo Artesanal Serrano, no Campos de Cima da Serra. Atualmente, o Sebrae/SC e outros parceiros lideram o processo de conquista da IG para as Ostras de Floripa, Camarão Laguna, Cachaça e Banana de Luiz Alves, Linguiça Blumenau e Alho Roxo do Planalto Catarinense.
Fonte: MB Comunicação