A Diretora de Inovação, Negócios e Transferência de Tecnologia, Ana Euler, e equipe receberam na quinta-feira, 10 de abril, uma comitiva com cinco caciques, vereadores e outras lideranças das etnias Paresi, Kayapó, Kanela, Karajá e Fulni-ô, dos estados do Pará, Mato Grosso e Pernambuco, interessados no apoio da Embrapa para o desenvolvimento de sua agricultura, a partir da perspectiva e diálogo com os conhecimentos indígenas.
A principal reivindicação dos caciques é uma mudança nas políticas públicas de apoio à agricultura e aos povos originários. Bem enfático, o Cacique Pedro, da aldeia São Pedro, do Povo Kanela, disse que falta uma nomenclatura indígena nessas políticas.
“O que está aí, não chega aos indígenas. Precisamos de uma Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) Indígena, um Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Indígena, um fundo exclusivo para financiar a Agricultura Indígena. Não queremos agricultura de larga escala. Precisamos de uma Agricultura Familiar Indígena”, disse.
Participando do Acampamento Terra Livre 2025 (ATL), os representantes dessas etnias, por iniciativa do Cacique Pedro, resolveram deixar momentaneamente o ATL para “conhecer melhor a Embrapa e o que ela pode fazer pelo desenvolvimento de uma agricultura de energia limpa e de uma bioeconomia indígena, com indicação de origem”.
A diretora Ana Euler, reafirmando o propósito da Embrapa de trabalhar com todos os segmentos da agricultura, e em particular os povos originários que são guardiões da agrobiodiversidade brasileira e se dedicam à agricultura, à pesca e manejo da floresta (fauna e flora), explicou que o mandato da empresa é de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica, que incluem àquelas de interesse de povos indígenas e que possam contribuir para a proposição ou aprimoramento de políticas públicas.
Segundo o Cacique Pedro, os povos originários sabem que a Embrapa é reconhecida pelo que fez pela agricultura de larga escala e que colocou o Brasil numa posição de liderança da produção agrícola e da segurança alimentar.
O Cacique Pedro veio solicitar à Embrapa a colaboração para que a Agricultura Indígena seja reconhecida, protegida e valorizada com os produtos diferenciados da bioeconomia do Cerrado e da Amazônia. “Queremos conhecer a dinâmica da Embrapa para entender o que podemos fazer para proteger o nosso território que continua invadido por caçadores, pescadores, garimpeiros e madeireiros ilegais”.
A Embrapa, explicou a diretora, pode colaborar com as organizações indígenas em parceria com os Ministérios dos Povos Indígenas (MPI), da Agricultura (Mapa), do Desenvolvimento Agrário (MDA), Desenvolvimento Social (MDS), e sob a supervisão da Funai e com outras instituições locais para promover projetos de desenvolvimento territorial e ambiental que envolvem a Agricultura Indígena. Disse ainda que é dessa maneira que a Embrapa está atuando com os povos do Oiapoque no Amapá, com os Yanomami em Roraima, com os Suruis em Rondônia, por exemplo.
A Cacique Tereza Cristina Kezonazokero, professora da etnia Haliti Paresi, referindo-se ao movimento de mobilização feminina, que hoje reúne cerca de 200 mulheres indígenas, explicitou o fato de que, apesar da disposição em mudar o quadro de insegurança alimentar das aldeias, não dispõem dos recursos materiais para tal.
“Queremos trabalhar, mas não temos a ferramenta, no caso, as sementes. Queremos saber o que a Embrapa tem para as mulheres indígenas. Nós temos nossas estratégias para conservar as sementes e para lidar com o clima. Mas quero conhecer e levar algo diferente para meu povo”. Ela pediu também projetos de capacitação dos jovens das aldeias.
As lideranças das etnias presentes também solicitaram técnicas adequadas para processamento agroindustrial das frutas típicas do bioma, tais como murici e pequi, de raízes como a mandioca e o repovoamento dos rios com espécies tradicionais como o tucunaré, o pirarucu, a piabanha e a tartaruga.
A diretora Ana Euler explicou que a Embrapa trabalha orientada pelas demandas e prioridades estabelecidas na Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI) balizada pelo Acordo de Cooperação Técnica firmado entre Embrapa e Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), especialmente na coordenação-geral de etnodesenvolvimento da instituição que orienta a atuação das duas instituições.
Ela explicou que, definidos os interesses das etnias, é preciso desenvolver propostas de projetos estruturantes e buscar parceiros que disponibilizem os recursos, ATER específica, para que a Embrapa, em contrapartida, possa oferecer tecnologias, insumos, capacitações e acompanhamento das ações para evitar a descontinuidade e alcançar resultados sustentáveis nos territórios.
A busca de parceiros e arranjos institucionais que criam sinergia para atuação tem sido frequente. Ela citou, como exemplo, a mobilização que levou sete toneladas de sementes de milho e feijão a 700 famílias da etnia Fulni-ô, em Pernambuco. A entrega das sementes foi possível por meio de parcerias entre o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), FUNAI, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), em seu Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), e a Cooperativa de Pequenos Produtores Agrícolas dos Bancos Comunitários de Sementes de Delmiro Gouveia, Alagoas, (Coopabacs), parceira da Embrapa Alimentos e Territórios no projeto Agrobiodiversidade, no Semiárido.
A diretora Ana Euler lembrou ainda que, em termos de bioeconomia, o projeto envolvendo mulheres indígenas de Roraima é um caso de sucesso, com a transformação do cupuaçu em jujubas, utilizando rotulagem, selo Mulheres Indígenas e embalagens atrativas, ou seja, um produto com alto valor agregado que conquista o paladar e o coração do mercado consumidor. Citou também o café produzido pelos indígenas Suruí, de RO e MT, embalado com a marca 3 Corações, que a etnia busca desenvolver também uma marca indígena.
Novas reuniões deverão ser promovidas entre representantes das etnias e o Comitê de Governança para Iniciativas com Povos Indígenas, da Embrapa para definição mais precisa de demandas e possíveis parcerias e projetos estruturantes que possam promover o intercâmbio de conhecimentos e ações nos territórios.
Fonte: Assessoria de Comunicação – Embrapa