O carioca Marcello Guimarães, 57 anos, vislumbrou já na década de 1980 o impacto transformador que a Inteligência Artificial (IA) teria sobre a vida cotidiana. Ele iniciou sua carreira na extinta Rede Ferroviária Federal S/A (CBTU-RFFSA), quando descobriu a programação como vocação. Foi então que passou a frequentar o Centro de Processamento de Dados (CPD), onde pode observar o trabalho dos programadores. Como os cursos universitários da área ainda estavam em fase inicial no Brasil, Marcello decidiu estudar por conta própria, pegando emprestado livros sobre linguagem de programação bastante populares na época, a exemplo de Cobol e Fortran. Assim, tornou-se um programador autodidata.
Em 1986, dois anos após ingressar na estatal, iniciou o desenvolvimento do Kit 5, plataforma No-Code que permitia a qualquer pessoa, mesmo sem conhecimento técnico, criar sistemas de controle de banco de dados. Esse marco deu início a uma trajetória profissional de sucesso, resultando na publicação de 11 livros sobre o tema — o último deles escrito em 2009. “Percebi lá atrás que a Inteligência Artificial não seria apenas uma tendência, mas uma mudança profunda no cotidiano das pessoas. Eu sabia que, cedo ou tarde, essa tecnologia transformaria todos os setores da economia”, destaca Guimarães.
Embora com uma carreira consolidada no universo high-tech, o empreendedor sempre nutriu uma forte ligação com o campo e um desejo de explorar o agronegócio. Foi aí que decidiu arriscar e, em 2012, se mudou para Boa Vista para fundar quatro mais tarde (em 2016) a Mahogany Roraima, empresa dedicada ao cultivo e manejo sustentável de mogno africano, que viria a se tornar a maior companhia desse segmento no Brasil.
Na plantação de mogno viu o abismo tecnologico entre o plantion e a colheita. “Inquieto como sou, comecei a pensar em formas para mecanizar e modernizar o platio de mudas viveiristas (árvores, laranja, cacau, cana de açucar, café..) e aliar a tecnologia com o agronegócio. Veio então um insight em unir minhas duas paixões sendo o caminho natural para criar algo realmente inovador para o setor do agro”, explica o empreendedor.
Assim, Guimarães fundou a AutoAgroMachines, startup brasileira que desenvolve máquinas autônomas e inteligentes para o agronegócio, com o objetivo de revolucionar o setor por meio de soluções inovadoras baseadas em IA. O primeiro grande projeto da empresa, a Forest.Bot, traz também seu olhar visionário para a sustentabilidade. “Mais do que uma máquina de plantio, ela representa um compromisso com o futuro do planeta, aliando tecnologia de ponta à necessidade urgente de reflorestamento em larga escala”, afirma.
A máquina, equipada com um sofisticado sistema de IA, possui tecnologia 100% nacional e apresenta uma abordagem verdadeiramente revolucionária para o plantio de mudas em larga escala. Operada por apenas duas pessoas, a Forest.Bot é capaz de plantar até 1800 mudas em uma hora, enquanto os métodos tradicionais, que envolvem equipes de aproximadamente 9 profissionais, atingem apenas 900 mudas no mesmo período.
“Acredito que o uso da Inteligência Artificial no campo vai transformar profundamente o setor, otimizando processos e tornando o agronegócio mais eficiente e sustentável. No futuro, queremos chegar a versões da Forest.Bot que tenham a capacidade de plantar mais de 3600 mil mudas por hora e até mais. Ou seja, ela é o ponto de partida para a automação total do manejo da floresta”, finaliza.
Fonte: Wesley Souza