De acordo com Gustavo Saavedra, a palavra-chave para os próximos anos de sua gestão é “inovação”. “A Embrapa, dentro do seu contexto, é uma empresa de ciência. Mas não é uma empresa de ciência apenas academicista, é uma ciência que tem de causar impacto no setor produtivo. Nós temos de estar juntos com o setor produtivo para prospectar as demandas de curto, médio e longo prazo, mas em especial as de médio e longo prazo, para gerar as soluções tecnológicas que não existem e adaptar para o mercado os conhecimentos científicos que já existem”, explica.
Ser capaz de prever cenários é fundamental para nortear as ações de pesquisa. Essa é uma das preocupações da Unidade, adiantar-se em relação às novas tendências: “Muitas vezes, o produtor e o industrial nem sabem quais são as demandas que terão de atender no longo prazo. Essa é a sacada do cientista: a de montar os projetos para lá na frente entregar a solução tecnológica que o produtor e o industrial vão incorporar em seu processo produtivo e depois colocar um código de barras e ganhar dinheiro. A ideia é fazer ciência pra impactar na inovação”, acrescenta Gustavo Saavedra.
Embora sediada em Fortaleza, a Embrapa Agroindústria Tropical possui mandato nacional, ou seja, precisa atender demandas de solução tecnológica oriundas de todo o Brasil. No entanto, cadeias produtivas de interesse estratégico para o Ceará, como a cultura do caju, estarão entre as prioridades da Unidade para os próximos anos.
“Nós já temos muitas soluções tecnológicas para a cadeia da cajucultura, mas que muitas vezes não chegam ou não estão organizadas bem o suficiente para que a cadeia se aproprie plenamente. Assim como todas as cadeias produtivas do país, a cadeia do caju precisa se preparar para o futuro digital. É preciso estar preparado para esse futuro digital porque é ele quem vai garantir a sustentabilidade ambiental, econômica e social delas. Isso é uma parte da transformação que nós temos de fazer”, argumenta.
Nesse novo mundo, muitas vezes chamado de agricultura 4.0 ou 5.0, a informatização dos dados e o controle mais preciso sobre a gestão são fatores críticos para o sucesso. Essa dimensão está presente no planejamento da Unidade, conforme destaca Gustavo Saavedra. “Vamos ter de começar a falar sobre fruticultura de precisão. Precisamos sair do processo tradicional e colocar os dois pés nesse novo sistema de produção porque é isso que vai nos dar competividade frente aos nossos concorrentes no mundo. Essa nova forma de produzir diminui o custo e aumenta a lucratividade para o produtor, trazendo uma série de vantagens. A Embrapa precisa se posicionar em relação a isso”, explica.
Em relação às linhas de atuação da Unidade para os próximos anos, Gustavo Saavedra destaca que a Embrapa Agroindústria Tropical não focará somente na inovação de “dentro da porteira”, mas principalmente na etapa “fora da porteira”. “O produto agrícola precisa ser entregue da melhor forma para o consumidor urbano, seja com o fruto na melhor qualidade possível, seja você fazendo todo o processamento do produto, dos subprodutos, dos coprodutos e dos resíduos. Cada matéria-prima agrícola precisa ser desdobrada em diferentes produtos que cheguem a diferentes consumidores finais. Isso é o que vai gerar a sustentabilidade, a agroindustrialização. O nosso braço agrícola complementa de forma muito lógica o nosso braço agroindustrial. Não existe milagre que transforme um fruto ruim em um produto bom”, afirma.
Carreira
Há 27 anos na empresa, Gustavo Saavedra começou como estagiário e bolsista da Embrapa Agroindústria de Alimentos, no Rio de Janeiro. Desde 2001, atua como pesquisador na Embrapa Agroindústria Tropical. O novo chefe-geral é formado em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e possui doutorado na área de Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos pela mesma instituição de ensino.
Fonte: Embrapa