Por Ronaldo Soares*
A ausência de uma boa gestão pode prejudicar completamente um negócio, ainda mais quando se tratam de resultados a longo prazo. Por isso, nas operações florestais — que levam anos para serem concluídas —, manter o gerenciamento em dia é algo que faz toda a diferença.
No entanto, apesar de este ser um grande desafio para os gestores, com o apoio de tecnologias cada vez mais avançadas, hoje já há possibilidade de se compreender praticamente tudo o que acontece nas florestas. Por meio de sensores, hardwares e softwares, dados e análises para resolver problemas, aprimorar processos e obter mais produtividade e lucro se tornam cada vez mais uma realidade nas operações florestais.
Gestão operacional
Com suporte de sensores e computadores de bordo instalados no maquinário florestal, os softwares de gestão costumam ser muito utilizados para uma visão operacional e qualitativa. Um exemplo de dado analisado, por exemplo, é o de total de insumos — sejam adubos, herbicidas, controle de pragas ou qualquer outro tipo de substância para implantação e manutenção da floresta — aplicados (em kg/ha).
Com esse valor em mãos, é possível analisar se houve super ou subdosagem, qual foi a porcentagem do desvio, se vai ser necessário fazer alguma ação de reaplicação e assim por diante. Como os dados são georreferenciados, também ficam disponíveis quais áreas exatas tiveram falha na aplicação, qual foi a área total executada e qual foi a velocidade da operação. Com isso, ações complementares como baixa no estoque de insumos, controle de ordens de serviço e pagamentos a terceiros podem ser realizadas automaticamente. Softwares de gestão que prezam pela usabilidade e praticidade do gestor também contam com ferramentas como alertas por e-mail com informações do status da área executada, desvios na aplicação do insumo ou no espaçamento recomendado, por exemplo. As notificações agregam muito na tomada de decisão imediata do gestor, otimizando estruturas e recursos e garantindo a qualidade operacional.
Vale destacar ainda que os dados georreferenciados podem ser exportados e inseridos em outros sistemas para interpolação com informações externas. Um exemplo comum é o cruzamento com o inventário florestal, que aponta quantos m³ de madeira foram produzidos. Assim, é possível analisar a relação da produtividade final da floresta com a qualidade das operações na implantação e manutenção da mesma (aplicações de fertilizantes, corretivos, herbicidas, isca formicida, etc), bem como com outras análises de interpolação como declividade da área e análise do solo.
Gestão de ativos
Outra colaboração das tecnologias de gestão florestal é a análise de questões de tempos e rendimentos, que permitem um melhor gerenciamento dos ativos envolvidos na operação.
Como as ferramentas proporcionam a medição de segundo a segundo, elas são capazes de verificar exatamente o tempo total produtivo e improdutivo em diversos níveis de agrupamento: o rendimento por máquina, por operador, por classificação geoespacial — talhão, fazenda ou unidade, por exemplo —, por atividade e por tempo.
As informações são interessantes para que se analise questões como disponibilidade operacional, rendimento efetivo e eficiência global. Os ganhos para o gestor a partir do bom uso desses dados são muitos, como a negociação com empresas prestadoras de serviços, políticas de bonificação de operadores ao se conferir sua produtividade operacional ou mesmo decisões de manutenção preventiva e corretiva das máquinas e implementos. Além disso, os dados facilitam o planejamento operacional com o entendimento de quantos dias de trabalho, quantas pessoas e quantos recursos serão necessários para a execução de determinada atividade.
Gestão analítica e integrada
De maneira geral, os sistemas de gestão disponíveis para as operações florestais monitoram e consolidam diversas informações, que são apresentadas aos gestores e auxiliam na facilitação de processos. Porém, quando a empresa está preparada e disposta a trabalhar analiticamente com esses dados, é possível alcançar resultados ainda mais eficientes. A otimização do tempo não produtivo para reduzir horas extras, o desenho de estratégias para aumento do rendimento entre prestadores de serviço e a agilidade na ação corretiva diante de erros identificados são alguns exemplos de como esse gerenciamento é capaz de mudar a produção florestal.
Outros setores da empresa também podem aproveitar os dados coletados para avançar na produtividade, em uma gestão integrada e colaborativa. A área de suprimentos, por exemplo, consegue realizar apontamentos automáticos de quantos insumos foram usados ou qual valor precisa ser pago aos prestadores de serviço diante dos hectares trabalhados.
Como tudo é registrado de maneira histórica, o setor de planejamento pode aproveitar para acompanhar as atividades e monitorar metas, criando ações de contingência quando necessário e traçando planos futuros cada vez mais realistas. A equipe de pesquisa, por sua vez, consegue criar bancos de dados altamente confiáveis e gerar recomendações técnicas a partir das informações georreferenciadas do software, que possuem alto nível de detalhe.
Para a área de governança, esses mesmos dados servem para o monitoramento e a redução de riscos ambientais, além de serem formas adequadas para comprovação do atendimento a regras e subsídio para obtenção de certificações internacionais.
Gestão em tempo real
Com o avanço das inovações no campo, atualmente, a gestão pode ser realizada a partir da telemetria e conectividade da máquina — que garante a coleta e o compartilhamento de dados remotamente. Em uma sala de controle, longe da fazenda, gestores acompanham o que está acontecendo na operação, com um mapa dos tratores em tempo real.
Esses dados são muito úteis para a tomada rápida de decisões e correção de problemas. Se o gestor vê que alguma máquina está parada, fora da velocidade ou com desvio na aplicação, por exemplo, é possível entrar em contato com o operador na mesma hora para verificar o que está acontecendo e solucionar a questão.
Sistemas de gestão como o da Hexagon também permitem a criação de regras de workflow, isto é, a parametrização e a configuração de uma rotina que deve ser seguida pelo maquinário florestal. Se, por qualquer motivo, essas atividades prescritas não forem realizadas corretamente, um alerta é enviado para que a ação seja explicada. Inclusive, podem ser configurados alarmes acionados de forma visual e auditiva para o operador, sendo alguns muito importantes para a segurança da equipe — como velocidade máxima permitida, declividade da máquina e risco de tombamento. Outros alarmes podem ser utilizados para melhor rendimento operacional e redução de custos, como aviso de motor ocioso ou baixa produtividade.
No workflow, soluções de telemetria da máquina como leitura de rotações por minuto (RPM) e nível de combustível, associados a dados de outros sensores, posicionamento geográfico, definição de cerca eletrônica, operador, pareamento entre veículos, etc, garantem um apontamento mais autônomo das atividades durante a operação, minimizando os apontamentos manuais.
Por outro lado, vale ressaltar que, por conta dos desafios de conectividade que ainda existem nas áreas agrícolas e florestais, essas informações compartilhadas em tempo real são limitadas. Dados mais históricos, analíticos e consolidados, que não demandam uma ação tão ágil, são disponibilizados após a realização do trabalho no caso de áreas que não possuem ampla conexão.
*Por Ronaldo Soares, Gerente Florestal da divisão de Agricultura da Hexagon
Fonte: Dialetto