Fazenda substitui marca a fogo por brinco de identificação e deixa de fazer 18 mil marcações no ano
Propriedade no Vale do Paraíba é uma das integrantes do projeto Redução da Marca a Fogo, que visa mostrar alternativas para prática milenar de marcar o gado com ferro quente
Evolução é uma diretriz na Fazenda São Clemente, propriedade da Agropecuária Marcondes César em São José dos Campos, no interior de São Paulo, desde que foi adquirida há 20 anos. Aos poucos, práticas tradicionais vêm sendo substituídas por manejos mais modernos e eficientes. “Antes mochávamos os animais e hoje fazemos avaliação por temperamento sem a necessidade de mochar; substituímos a castração pela dieta rica em energia no confinamento; deixamos de fazer inseminação artificial e usar touros rufiões e adotamos a IATF. O próximo passo agora é a redução da marca a fogo em nosso rebanho”, relata o pecuarista e empresário do ramo da construção civil, Frederico Marcondes Cesar.
A Fazenda São Clemente é uma das quatro fazendas piloto do projeto Redução da Marca a Fogo, uma iniciativa capitaneada pela consultoria BE.Animal, o grupo ETCO – Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal, da Unesp – Jaboticabal e a Fazenda Orvalho das Flores, com o apoio das empresas MSD Saúde Animal – e sua marca Allflex – e JBS.
Na Marcondes Cesar, cada animal recebia de 10 a 12 marcas as ferro. Na desmama dessa safra, esse número foi reduzido para apenas uma, com a marca da fazenda. O restante das informações que antes eram marcadas no couro do animal, como número de identificação, mês e ano de nascimento, entre outras, estão em um brinco de identificação. Considerando que nascem todos os anos de 1.500 a 1.600 animais, o proprietário estima que com a implantação do projeto cerca de 18.000 marcações serão deixadas de fazer no ano. “Isso representa para nós uma economia de tempo, um desgaste menor para a nossa equipe e seguramente um sofrimento menor para os animais”, comemora o pecuarista.
“Com essa mudança no manejo, hoje tocamos no animal somente quando ele nasce e colocamos o brinco e para os protocolos sanitários. Nada mais! O animal é contemplado em nossa fazenda e com altos resultados em ganho de peso, índice de fertilidade, de parição, com indicadores extremamente satisfatórios”, ressalta o proprietário da Marcondes Cesar.
Aprovação da equipe
A redução da marcação a fogo nos animais foi muito bem recebida pela equipe. “Diminuiu muito a nossa carga de trabalho na fazenda. Era um serviço que levava o dia inteiro para marcar um lote; hoje com apenas uma marca conseguimos fazer em até dois lotes por dia. Melhora tanto o bem-estar do animal quanto o nosso, pois conseguimos realizar um manejo mais adequado, com calma e sem correria”, atesta um dos vaqueiros da propriedade, Rodolfo Miranda.
“Mesmo com pouco tempo já notamos muitos benefícios, como economia com custo de gás e hora/homem trabalhada, além de muito menos estresse dos animais e da ocorrência de bicheiras como consequência das queimaduras provocadas pela marca a ferro quente. Só vejo pontos positivos para a equipe e para os animais”, complementa o vaqueiro.
Prática desde o Antigo Egito
O professor da Unesp e co-fundador da BE.Animal, Mateus Paranhos conta que o projeto nasceu da preocupação e necessidade de conscientização de que a marca a fogo, antes de provocar um dano no couro, é uma agressão à pele do animal. “É uma prática muito antiga, desde o Antigo Egito. Hoje dispomos de tecnologias muito mais avançadas, menos agressivas para os animais e mais eficientes do ponto de vista de controle de rebanho. Então não faz sentido essa prática continuar sendo usada, mesmo que tenha as suas vantagens por ser uma marca permanente e relativamente barata. Entretanto, é preciso levar em conta o custo das horas de trabalho e o sofrimento aos animais”, pondera o professor.
Mateus conta que a ideia do projeto era fazer a substituição da marca a fogo por brincos de identificação na estação de nascimento de bezerros, porém a Agropecuária Marcondes Cesar se antecipou e decidiu adotar a partir da desmama, quando a maior parte das marcas era feita.
“Normalmente precisamos trabalhar bastante no convencimento das pessoas, mostrando os riscos, o esforço de trabalho que se tem para fazer a marca a fogo e o impacto no bem-estar animal. Procuramos demonstrar quanto tempo se gasta com esse manejo, quanto tempo mantém a inflamação no local de aplicação da marca a ferro, quanto tempo leva depois de estar marcada para fazer a leitura visual em comparação com um sistema de identificação eletrônica, por exemplo. Por que vou usar um método que agride muito os animais quando tenho alternativas que são viáveis, funcionam com muita eficiência e segurança?”, questiona Mateus.
Apoio de empresas
Além da Fazenda São Clemente, o projeto vem sendo implantado em outras três propriedades brasileiras: Fazenda das Palmeiras, em Ituiutaba-MG, Fazenda Rio Corrente, em Coxim-MS, e Fazenda Cambury, em Araguaiana-MT e conta com o apoio das empresas Allflex, MSD Saúde Animal e JBS.
O diretor da unidade de negócios MSD Saúde Animal Intelligence, que atua com o portfólio da marca Allflex, Ivo Martins Alves Filho destaca a identificação por brincos possibilita um uso mais racional da marca a fogo, favorecendo o bem-estar animal ao mesmo tempo em que contribui para melhorar a gestão do negócio. “A identificação com brinco permite individualizar o rebanho e a partir de um software ou planilha possibilita fazer a gestão do rebanho de maneira eficiente e segura”, afirma Ivo.
A redução da marca a fogo é um dos projetos que apoiamos para a mudança da pecuária brasileira. Marcar o animal a fogo é uma cultura que existe há bastante tempo e através do projeto entendemos outros métodos de identificação que podem substituir essa marcação. A JBS está comprometida com elevados padrões de saúde e bem-estar animal incentivando as boas práticas de manejo em seus fornecedores. Enxergamos na redução da marca a fogo uma das oportunidades que temos para mudar a imagem da pecuária”, afirma o especialista de Bem-estar Animal corporativo da JBS, Everton Andrade.
Para o Coordenador técnico em bem-estar animal da MSD Saúde Animal, Antony Paulo Luenenberg, o projeto de redução da marca a fogo está alinhado com o propósito da companhia, que é melhorar a vida das pessoas, a saúde e o bem-estar dos animais. “Acreditamos que a democratização da informação, aliada ao fornecimento de recursos tecnológicos, são fundamentais para a melhoria dos processos de produção de proteína animal”, ressalta.
Fonte: Attuale Comunicação