Uma pesquisa da área da Ecologia do Campus São Carlos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) está estudando a diversidade de vespas parasitoides no interior do estado do Amazonas – uma região de extrema importância ecológica e ainda pouco explorada por cientistas. O estudo ainda irá relacionar a ação dessas vespas no controle biológico natural de pragas nas lavouras de pequenos produtores de mandioca na região.
“Embora muitos insetos parasitoides atuem como agentes naturais de controle biológico de pragas agrícolas, as informações sobre essas espécies ainda são escassas, especialmente em relação à mandioca, que é a cultura de maior importância para a subsistência na região norte do Brasil. A Amazônia é um dos biomas onde as informações sobre vespas parasitoides são mais limitadas. Essa lacuna de conhecimento se estende tanto às dimensões verticais quanto horizontais, deixando grande parte da região inexplorada e desconhecida”, relata Gabriela do Nascimento Herrera, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais (PPGERN) da UFSCar e pesquisadora responsável pelo estudo.
Insetos estudados
O objetivo do trabalho, segundo Gabriela Herrera, é contribuir para o conhecimento da diversidade de Ichneumonoidea, um grupo de vespas parasitoides, que são insetos pertencentes à ordem Hymenoptera, que inclui abelhas, vespas e formigas. São caracterizados por possuírem “dois pares de asas membranosas, metamorfose completa (ovo, larva, pupa e adulto), ápice do abdômen modificado, muitas vezes formando um ovipositor ou ferrão, antenas bem desenvolvidas, geralmente com vários segmentos e tamanho e forma corporal variados, com grande diversidade ecológica e comportamental”. Essa ordem de insetos, de acordo com a cientista, inclui espécies solitárias e sociais, com papéis importantes principalmente na polinização e controle biológico.
Na pesquisa, a doutoranda irá trabalhar especificamente com o grupo de vespas, da superfamília Ichneumonoidea, a maior superfamília da ordem Hymenoptera e que possui grandes associações com pragas de diversas culturas agrícolas, desempenhando um papel importante no controle biológico natural.
Bioma amazônico
A ênfase do estudo é investigar a ação dessas vespas no bioma amazônico, comparando a sua diversidade, riqueza e abundância nos diferentes estratos de solo, sub-bosque e bosque (estratificação vertical) em diferentes épocas do ano. “Escolhi buscá-los na Amazônia devido à lacuna de conhecimento nesse bioma e também devido às minhas origens de lá. Além disso, a professora Angélica [Maria Penteado-Dias] é uma grande referência nessa área de pesquisa, liderando um grupo de pesquisa (INCT Hympar – Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Hymenoptera Parasitoides), já consolidado com várias pesquisas em outros biomas brasileiros”, conta a doutoranda.
Segundo ela, a região da Amazônia Ocidental como um todo, especialmente do interior do Amazonas, é uma área pouco explorada. “As pesquisas na região não são tantas, muitas vezes, pelo difícil acesso, por ter locais isolados e que muitas pessoas podem considerar até como perigoso”, afirma. “Acredito que essa área seja importante pelo ponto de vista ecológico por ser uma área preservada e muito da sua fauna e flora ainda permanecer desconhecida”
Mata x lavoura
O estudo ainda vai traçar as diferenças da ocorrência das vespas na mata nativa e na lavoura, indicando possíveis espécies para controle biológico na cultura da mandioca.
Segundo a pesquisadora, “a grande maioria dos produtores da região são pequenos produtores e ainda há muitos hábitos conservadores de produzir, sem muito maquinário disponível e sem muito uso de defensivos agrícolas, o que ajuda ainda mais a manter um pouco das características originais da região”.
Potencial para preservação
Outro avanço da pesquisa será o levantamento de informações sobre a fauna dos himenópteros locais, possibilitando a descrição de muitas novas espécies para a Ciência. “Conhecer as espécies é fundamental para ajudar a conservá-las. Os cientistas acreditam que muitas espécies são extintas antes mesmo de serem descritas. Isso é o que não queremos que aconteça”, relata Gabriela Herrera.
“Sempre tive muito interesse em pesquisar sobre a Amazônia e tentar trazer e publicar novas descobertas ou levar novas informações para mais pessoas, porque a Amazônia sempre fez parte de mim. Eu nasci no interior do Acre e cresci no interior do Amazonas, sempre em contato com a natureza e com lavouras de mandioca. A cultura da mandioca é, de fato, a mais importante para o povo da região Norte, tanto como subsídio como historicamente falando. E ao desenvolver minha pesquisa de mestrado, eu pude perceber como há uma escassez de dados sobre Himenópteros Parasitoides para toda a região Amazônica e como isso é importante para o equilíbrio ecológico”.
Trabalho de campo e análises
Para o desenvolvimento do trabalho, serão realizadas coletas mensais em área de mata nativa e lavoura de mandioca, no município de Guajará, no estado do Amazonas, no período de maio de 2025 a fevereiro de 2026. Para isso, a pesquisadora conta com o auxílio de Francisco Damião dos Santos Souza, que atua como guia de campo e foi responsável por ajudar a montar as armadilhas, distribuídas em diferentes estratos da floresta.
As armadilhas utilizadas, denominadas Armadilhas Malaise, têm forma de tenda, com rede fina, usadas para capturar insetos voadores, especialmente moscas e vespas -, em diferentes ambientes – mata nativa, lavoura e bordadura – e em alturas distintas – 0, 5, 10, 15 e 20 metros – para verificar tanto a diversidade quanto os papeis funcionais dos indivíduos coletados. “Eu já fui a campo instalar as armadilhas no dia 27 de abril e, agora, irei algumas outras vezes para as demais etapas do projeto. Mas há uma equipe lá responsável por coletar o material das armadilhas já instaladas e enviar para os laboratórios na UFSCar, São Carlos, para que esse material possa devidamente triado e identificado”, detalha a doutoranda do PPGERN.
O estudo
O estudo, intitulado “Estratificação vertical e diversidade de himenópteros parasitoides (Ichneumonoidea), em ambientes de mata nativa e lavoura, na Amazônia ocidental, Amazonas, Brasil”, tem orientação da professora Angélica Maria Penteado-Dias, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva (DEBE), e coorientação do pesquisador Eduardo Mitio Shimbori, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (CIRAD), na França.
A pesquisa teve início no dia 27 de abril deste ano e deverá ser finalizada em maio de 2026, e conta com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), além de bolsa concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Dúvidas podem ser enviadas ao e-mail da pesquisadora Gabriela Herrera, responsável pelo estudo.
Fonte: “UFSCar”