Em um universo de 39,27 milhões de bovinos abatidos no Brasil em 2024, de acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), somente uma pequena fração teve acesso à suplementação estratégica que inclui produtos específicos para período de seca. Com a intensificação da estiagem em diversas regiões do país, pecuaristas precisam estar atentos às estratégias para garantir nutrição adequada a animais que dependem do pasto como principal fonte de alimentação.
“A época de seca tem impactos severos na disponibilidade de forragens na nossa região de clima tropical. Em algumas espécies forrageiras a produtividade na seca é apenas 5% do total produzido durante o ano. Nesse período, também observamos uma redução drástica na qualidade das forrageiras, com aumento da fração não degradável da Fibra em Detergente Neutro (FDN). Isso provoca redução na digestão da fibra a nível de rúmen”, explica Eduardo Batista, consultor técnico nacional de bovinos de corte da Cargill.
A queda na oferta e no consumo de nutrientes no período crítico pode resultar em perda de peso, redução de fertilidade, queda na produção de leite e aumento na taxa de mortalidade de bezerros. É fundamental que os produtores planejem a alimentação antes da chegada da seca, formando reservas estratégicas.
Eduardo Batista observa que o primeiro passo é garantir uma melhor oferta de forragens, manejar bem os pastos durante as águas, ter pastos diferidos para utilizar na seca. “Nada disso será bem executado se não houver um bom planejamento forrageiro, que deve ser iniciado na seca do ano anterior. Temos que lembrar que nenhum suplemento funcionará bem se não tivermos pastos”, alerta.
Acertos e equívocos
“Embora a suplementação seja um recurso cada vez mais disponível para o pecuarista, e que vem evoluindo com a introdução de novas tecnologias, o percentual de animais alimentados com esse recurso estratégico que garante o fornecimento de proteína durante períodos de seca não ultrapassa 15%”, diz Eduardo.
Antes de iniciar o uso da suplementação, é importante observar algumas questões, como questões climáticas (época do ano de chuvas e seca), o perfil de suplemento proteico mais adequado, a quantidade a ser consumida – que depende da categoria animal –, o desempenho almejado pelo produtor e a estrutura de logística e de salga da fazenda.
Outro passo importante é evitar equívocos na estratégia de suplementação. Os erros mais comuns, segundo Eduardo, “são não garantir uma oferta de forragem condizente com o tipo de suplemento utilizado, não garantir que os animais consumam o suplemento diariamente, não adequar o espaçamento de cocho ao tipo de suplemento utilizado e não planejar a logística de distribuição correta dos suplementos”.
Outro equívoco é ainda não respeitar as recomendações vinda nos rótulos dos produtos que endereçam o consumo para determinada categoria e fase de produção.
Com a evolução da tecnologia, os benefícios da suplementação em período de seca passaram a ser potencializados por meio de aditivos que otimizam a fermentação ruminal, melhoram a digestibilidade da fibra do capim, comprometida pelo efeito da estiagem, maximizando o consumo de energia advinda dos pastos. “Há tecnologias que melhoram a saúde intestinal dos animais, que pode ser muito comprometida pelo estresse térmico decorrente da elevação da temperatura ambiente, ter um intestino saudável é fundamental para uma melhor absorção dos nutrientes e fortalecimento do sistema imune, preparando o animal para desafios sanitários e a obtenção resultados zootécnicos melhores”, detalha Eduardo Batista.
Fonte: João Mauro Uchôa