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Especial Sucessão Familiar, O Rancho: “pais inteligentes formam sucessores, não herdeiros”

Por Raquel Maria Cury Rodrigues
O que é preciso para garantir a permanência dos jovens no campo e, consequentemente, a sucessão familiar nas propriedades? Essa é uma questão que tem preocupado produtores, empresas e especialistas ligados ao setor. Muitos jovens rurais não querem ficar no campo, preferindo mudar para a cidade. Os principais motivos são a busca de oportunidades de emprego, além da mudança no padrão de vida, com maior facilidade de acesso aos meios de comunicação e a vida social urbana. Há também os conflitos familiares, que estimulam a preferência do jovem em prestar serviços em troca de um salário do que trabalhar dentro da propriedade – onde a remuneração pelo seu trabalho nem sempre é definida com exatidão.

A faixa etária da população do campo é alta e, com o passar do tempo e o envelhecimento dos pais, a tendência é que as propriedades sejam vendidas ou haja a transição da pecuária leiteira para outra atividade que demande menos mão de obra, como a pecuária de corte ou a silvicultura. A permanência do jovem no campo é também uma questão bastante complexa, pois envolve aspectos econômicos e sociais, já que é preciso que haja melhorias nos setores da saúde, educação e comunicação. Sucessão não é sinônimo de herança, mas sim uma obra contínua de modernização do negócio da família. Então, nada mais natural do que planejar e organizar o formato no qual haverá uma transferência do comando do atual responsável para um dos possíveis sucessores.

Para homenagear fazendas leiteiras que têm um histórico familiar, o MilkPoint lançou no último mês de março o Especial Sucessão Familiar. A ideia é entrevistar propriedades que deram certo e vêm se desenvolvendo ao longo de gerações.

Na 4ª edição, trouxemos a história da Fazenda O Rancho, localizada no município de Santana do Livramento, no Estado do Rio Grande do Sul. O início foi em 1996 com Renato Munhoz Rodrigues, que trouxe 12 vacas da raça Holandesa do Uruguai. A Equipe MilkPoint entrevistou Isadora Lencina Rodrigues, filha de Renato, que é médica veterinária e hoje trabalha junto aos seus pais na produção leiteira.

Um pouquinho de história
 Em meados de 1996, Renato trouxe 12 vacas da raça Holandesa do Uruguai e ao longo dos anos, a produção foi crescendo. Hoje o rebanho conta com 90 vacas em lactação e paralelamente há a criação de gado de corte, alguns ovinos, plantação de milho para a produção de silagem e plantação de pastagens de inverno e de verão. A ração é produzida na própria fazenda e a silagem é elaborada com grão úmido de milho, contribuindo para a redução nos custos com a alimentação. Atualmente três funcionários compõe o quadro da mão de obra da fazenda além da própria família Rodrigues.

“Além dos funcionários, meu pai, a minha mãe (Sonia) e eu acompanhamos diariamente todas as atividades”, explica Isadora. Segundo ela, controles quinzenais são realizados em relação à produção de leite individual bem como, controle reprodutivo e sanitário. “Tudo é realizado por mim com auxílio do meu pai em algumas atividades. Coordeno também a área administrativa”.

Mas a participação de Isadora nas atividades da família não aconteceu de uma hora para a outra. “A nossa família sempre esteve inserida no meio rural. Meu pai sempre trabalhou no campo e inclusive, com o pai dele, o meu avô. Eu tenho uma irmã gêmea, porém, ela não tem afinidade pelo campo. Desde pequenas nós frequentávamos a fazenda que hoje é a nossa propriedade. Meu pai sempre gostou de gado de leite, apesar de também trabalhar com gado de corte concomitantemente. Particularmente, eu sempre gostei muito de animais e da natureza e quando terminei o 2º grau fui para Santa Maria/RS (em 2008) cursar medicina veterinária na UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) e a minha irmã, em 2009, ingressou no curso de enfermagem na mesma faculdade. Me formei em 2013 e logo na sequência, assumi o cargo de responsável pelo controle de qualidade de um frigorífico que está localizado a 500 km da minha cidade natal. Permaneci por lá durante um ano e seis meses e pedi demissão para trabalhar com o meu pai, que me conquistou e insistiu para eu retornar à propriedade”. Ao tomar essa decisão, Isadora passou a contribuir com o futuro da fazenda.

Em abril de 2015 ela retornou para Livramento, época na qual estavam sendo concluídas as obras de um novo galpão e das salas novas de alimentação para as vacas em lactação (na época, 80 vacas).

“Desde então, estou inserida diretamente nas atividades, enfrentando as crises e os problemas e aprendendo muito todos os dias, principalmente com o meu pai, que apesar de não ter formação superior (apenas concluiu o 2º grau completo), conhece muito a atividade, os animais e todo o sistema. É nítido que hoje O Rancho está muito mais organizado em todos os sentidos comparado há dois anos, quando eu não trabalhava na propriedade. A inserção dos jovens é muito importante, mas infelizmente muitos pais não preparam seus filhos para serem sucessores e quando chega o momento de alguém assumir o negócio, devido à falta de experiência, a família se endivida. Vale destacar que o jovem deve se sentir realizado na atividade em que está inserido”.

No ramo do leite, ela crê que a sucessão é muito importante, pois não é qualquer pessoa que tem apreço pela atividade. “Quem está inserido no dia a dia reconhece que não é uma atividade fácil e além disso, muitas vezes somos mal remunerados”.

Hoje a produção diária do Rancho gira em torno de 1700 litros e todas as fêmeas são inseminadas quando demonstram cio natural. A IATF (inseminação artificial em tempo fixo) é aplicada em lotes programados baseados nas datas de parição, o sêmen sexado é utilizado nas novilhas e indicações técnicas e programas de acasalamento das vacas e novilhas são explorados.

A raça preponderante é a Holandesa e o sistema escolhido é a criação a pasto em campo nativo com acréscimo de ração, silagem de milho e silagem de grão úmido de milho. As terneiras são criadas em grupos definidos por idade e tratadas com muito capricho, já que a família aposta nelas para o futuro do tambor.

Resolução de conflitos e profissionalização da família

De acordo com Isadora, para evitar conflitos e viver em harmonia, todos os problemas são resolvidos em conjunto, principalmente quando envolvem fases de mudanças.

“Nenhuma decisão na fazenda é tomada individualmente, sempre sentamos e debatemos o assunto em questão. Eu noto que a principal dificuldade hoje em um processo de sucessão familiar é a própria relação entre os pais e os filhos. Muitos pais não aceitam as propostas dos filhos e muitos filhos, não dão valor para a experiência dos seus pais. É preciso um equilíbrio entre a opinião de ambos”.

Ela acredita que os pais deveriam ensinar os seus filhos a não trabalharem apenas pelo dinheiro, mas sim, a valorizarem o trabalho no qual eles estão inseridos. “Sempre tem alguém por trás na produção de qualquer alimento, desde leite até carne, soja, hortaliças e frutas. Os jovens devem ser estimulados pela sua família pois hoje em dia a qualidade de vida no campo pode sim ser tão boa (ou até melhor) quanto a vida urbana. Se os acessos através das estradas forem bons, então nem se fale”.

Isadora finalizou a entrevista indicando uma frase na qual ela se inspira todos os dias: “Pais inteligentes formam sucessores, não herdeiros”, do Augusto Cury.

Fonte: Milk Point

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