“Com um rombo desses, estão quase que literalmente arrombando a economia brasileira”. A declaração contundente é de André Charone, professor universitário e mestre em negócios internacionais, que utilizou o termo “economia arrombada” para descrever o estado crítico das contas públicas do Brasil em 2024. O déficit primário acumulado de R$ 105,2 bilhões, aliado à dívida bruta de 78,6% do PIB, reflete um cenário de descontrole fiscal que, segundo Charone, coloca o país em uma rota insustentável.
Charone explica como o aumento das despesas obrigatórias, combinado com a falta de reformas estruturais, está corroendo a capacidade do governo de investir em áreas essenciais e comprometendo o futuro econômico do Brasil.
“Esse rombo fiscal não é apenas uma questão de números; ele impacta diretamente o bolso da população e a confiança no país. Estamos diante de uma situação onde a economia está sendo arrombada pelas portas do descuido e da falta de planejamento”, disse Charone.
Cenário fiscal preocupante
Segundo André, o principal vilão dessa situação é o descontrole das despesas obrigatórias, que consomem a maior parte do orçamento público. “O Brasil gasta demais em previdência, folha de pagamento e juros da dívida. Com isso, o pouco que sobra para investimentos é insuficiente para impulsionar o crescimento econômico de forma sustentável”, explicou o tributarista.
Ele também destacou a crescente dívida pública como um reflexo direto desse desequilíbrio. “Com a dívida em 78,6% do PIB, estamos nos aproximando de um ponto crítico, onde fica mais caro e mais difícil financiar o governo. Isso é o equivalente a viver no cheque especial com juros exorbitantes”, analisou.
A ilusão do crescimento econômico
Embora o PIB brasileiro tenha crescido 3,3% no acumulado do ano até o terceiro trimestre de 2024, Charone alerta que o crescimento atual é insustentável. “Estamos vivendo de fatores pontuais, como o agronegócio e o consumo das famílias, mas sem investimentos de longo prazo e reformas estruturais, esse crescimento é passageiro. É o famoso voo de galinha”, afirmou.
Juros altos e impacto no crédito
Outro fator preocupante é a alta da taxa Selic, atualmente em 11,25%, com previsão de subir ainda mais em 2025. Charone destacou como isso afeta não apenas o orçamento do governo, mas também o setor produtivo.
“Juros altos são um mal necessário para controlar a inflação, mas eles tornam o crédito mais caro, afastam investimentos produtivos e aumentam o custo da dívida pública. É um ciclo que só agrava o cenário fiscal”, explicou.
Medidas tomadas e os desafios pela frente
Charone reconhece que o governo tem tentado conter o rombo fiscal com medidas como o pacote de contenção de gastos de R$ 71,9 bilhões, mas apontou que essas ações são insuficientes. “Essas medidas são como remendos. Precisamos de reformas profundas, como a administrativa e a tributária, para atacar o problema na raiz”, disse ele.
Fechando as portas do descuido fiscal
Para André Charone, o termo “economia arrombada” não é apenas uma metáfora, mas uma descrição precisa da gravidade da situação. “Estamos diante de uma economia que sofre com as portas arrombadas do descuido fiscal. Sem reformas estruturais e responsabilidade na gestão, o rombo vai continuar crescendo e quem paga a conta é a população”, concluiu.
Charone alerta que o Brasil precisa agir rápido para evitar que o cenário se agrave ainda mais. Até lá, o país segue lutando para conter os danos de uma economia que sente, cada vez mais, o impacto das escolhas equivocadas em suas contas públicas.
Fonte: Rodrigo Almeida