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Do campo às redes: jovens rurais aprendem a contar suas histórias

A permanência da juventude no campo brasileiro enfrenta desafios históricos, como a desigualdade no acesso à educação, cultura, conectividade e renda. Esse grupo enfrenta desafios significativos para seguir na vida rural com dignidade e perspectivas reais de desenvolvimento. De acordo com o Censo Demográfico 2022 do IBGE, mais de 4,3 milhões de pessoas deixaram as zonas rurais entre 2010 e 2022. Hoje, apenas 12,6% da população brasileira vive no meio rural, o menor índice já registrado. 

Conhecendo esse cenário, uma iniciativa do MEA – Memorial da Evolução Agrícola, no Noroeste do Rio Grande do Sul, une educação, cultura e comunicação para fortalecer a identidade dos jovens que vivem no campo. O maior memorial da agricultura brasileira proporcionou oficinas de fotografia, redes sociais e vídeo para alunos da Casa Familiar Rural – Filhos da Terra, em Campina das Missões (RS). 

A escola de Ensino Médio com qualificação em agricultura familiar possui 85 alunos de diversos municípios da região Noroeste. Desde o primeiro ano, os estudantes constroem um projeto profissional de vida voltado para a melhoria da propriedade rural de suas famílias. “Nosso diferencial é oportunizar ao jovem o vislumbre da propriedade familiar como fonte de renda, qualidade de vida e pertencimento. A escola é do campo e no campo”, destaca Mariéle Röpke, diretora da escola. 

A estudante Laura Beatriz Weirick, de 18 anos, vive com a família no meio rural, em uma trajetória marcada pela superação e amor pela terra. “Minha família sempre viveu da agricultura. A gente já plantou muito e hoje trabalhamos com criação de gado. Quando criança, eu era muito ligada ao campo, mas depois me distanciei um pouco disso. Foi a escola do campo que me trouxe de volta”, afirma. Laura relata que adora estudar na Casa Familiar porque se sente acolhida e já faz planos para o futuro no meio rural. “Quero fazer faculdade de Agronomia, porque é o sonho da minha mãe e também o meu. Mas quero continuar conectada ao campo”, destaca Laura.

Do campo para o digital: juventude que comunica sua identidade

Foram quatro encontros formativos com os oficineiros Luis Felippe Gabriel da Silva Vieira (fotografia), Jorge Alberto Salles (vídeo) e Otávio Vicari (redes sociais). As oficinas oferecidas gratuitamente pelo MEA capacitaram os jovens a criar conteúdos digitais sobre suas vivências rurais, com técnica, criatividade e visão estratégica. “Eles aprenderam sobre roteiro, edição, algoritmo, criação de pautas e gestão de perfis. A ideia era mostrar que eles podem ser criadores de conteúdo e não apenas usuários passivos”, explica Otávio Vicari. Divididos em grupos, os estudantes criaram perfis com identidade própria: Agro Tendel, Tudo Rural, Dia a Dia do Leite e Raízes do Leite.

“Cada um no grupo tinha funções específicas: um cuidava da fotografia, outro da edição, outro da apresentação, outro da escrita… Foi uma experiência de equipe, onde cada jovem descobriu seu talento”, completa Otávio. Esses conteúdos irão compor a curadoria do espaço do MEA na feira Hortigranjeiros, em Santa Rosa (RS), ampliando a visibilidade da juventude rural e suas narrativas para o público gaúcho.

Para Mariéle Röpke, diretora da escola, a experiência foi transformadora tanto no aspecto pedagógico quanto emocional. “Com o MEA, os jovens passaram a enxergar as belezas do meio rural com mais sensibilidade. A gente trabalha muito no automático e, com essa vivência, eles puderam parar, contemplar e valorizar o que têm. Foi uma experiência maravilhosa e inesquecível”, destaca. Segundo ela, iniciativas como essa são fundamentais para que os alunos reconheçam a potência de suas realidades e compreendam o campo como um espaço de inovação, no qual se sintam parte ativa e integrada.

“As oficinas do MEA, principalmente de fotos e vídeos, me encantaram. Aprendemos a mostrar para o mundo o que somos. Foi lindo, foi profundo. Levarei pra vida inteira”, conta Laura Beatriz Weirick, estudante da Casa Familiar. Para ela, a experiência reforçou o orgulho de viver no meio rural e a vontade de comunicar essa identidade com autonomia e criatividade.

“O trabalho com a juventude rural é essencial para fortalecer os vínculos entre território, cultura e futuro. Quando esses jovens se enxergam como protagonistas de suas histórias, capazes de comunicar suas vivências e transformar suas comunidades, toda a região se beneficia”, afirma Karina Muniz, diretora do MEA. Ela complementa ainda que ações como essa representam um investimento direto na valorização das pessoas e na permanência das famílias no campo.

Fonte: Emilene Lopes

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