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Diálogo e formalização impulsionam o sucesso da apicultura no agronegócio

A apicultura é uma das atividades agropecuárias que melhor representa a conciliação entre produção, conservação ambiental e desenvolvimento rural sustentável. Por não demandar grandes áreas, não promover degradação ambiental e ainda depender da manutenção da vegetação nativa, a criação de abelhas ocupa um papel estratégico dentro do agronegócio moderno, principalmente diante da necessidade de maior produtividade sem expandir as fronteiras agrícolas e da preocupação do mercado consumidor em obter produtos que demonstrem responsabilidade socioambiental.

Entretanto, a expansão e consolidação da prática como componente legítimo do agronegócio brasileiro dependem de uma inclusão territorial formalizada, baseada no diálogo entre apicultores e agricultores. Esse diálogo é fundamental para assegurar o uso seguro e legal das áreas, reduzir conflitos e promover sinergias produtivas que beneficiam ambos os segmentos. Embora essa integração pareça simples à primeira vista, a realidade é mais complexa devido à diversidade de perfis entre os apicultores. Há pequenos produtores que possuem apenas um apiário, alguns deles já estabelecidos como produtores rurais, que vivem na propriedade e veem a apicultura como uma renda complementar. Outros residem nas cidades e mantêm um vínculo mais distante com o meio rural. Também há apicultores com vários apiários, distribuídos em diferentes localidades, o que muitas vezes implica visitas esporádicas e reduz as oportunidades de interação com agricultores e comunidades locais.

Historicamente, a apicultura se desenvolveu de forma paralela à agricultura, com pouca articulação entre produtores rurais e criadores de abelhas. Essa baixa interação tem gerado conflitos territoriais e operacionais, especialmente em regiões onde há pequenas propriedades, diversificação de atividades e uso de defensivos agrícolas. Por outro lado, quando há comunicação prévia, planejamento conjunto e acordos formais de uso das áreas, as relações tornam-se cooperativas e produtivas.

O diálogo entre apicultores e agricultores é o ponto de partida para estabelecer confiança mútua, alinhar práticas de manejo e criar condições para que ambas as atividades se desenvolvam de maneira harmônica. A apicultura oferece benefícios diretos à agricultura, como o aumento da produtividade e da qualidade dos frutos e grãos por meio da polinização, enquanto o agricultor disponibiliza acesso a floradas cultivadas, manutenção de estradas/acessos, e proteção por estar mais próximo observando o que ocorre ao redor e quem transita na área.

A formalização atesta o sucesso do diálogo: acordos de cooperação e termos de uso formalizados oferecem segurança jurídica para o apicultor, reduzem riscos de penalizações ambientais e ampliam o reconhecimento da apicultura como atividade integrante do sistema agropecuário. Além disso, o entendimento mútuo sobre o uso racional de defensivos agrícolas e atividade de forrageamento das abelhas é um fator essencial para a redução da mortalidade, e se torna uma ponte entre profissionalização da apicultura e responsabilidade ambiental do agricultor.

O uso de áreas para exploração agropecuária possui regras, é necessário manter áreas com vegetação nativa, a Lei nº 12.651/2012 (Código Florestal) regulamenta isto e estabelece que as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e as Reservas Legais (RLs) devem ser preservadas, pois têm como função proteger recursos hídricos, solos, biodiversidade e estabilidade ecológica. Entretanto, o próprio texto reconhece a possibilidade de uso sustentável dessas áreas, desde que as atividades sejam não predatórias, reversíveis e compatíveis com a conservação ambiental. Nesse contexto, a apicultura se destaca como uma das poucas atividades agropecuárias plenamente compatíveis com as funções de proteção ambiental previstas na legislação. O manejo de colmeias não exige supressão de vegetação, não gera erosão nem poluição, e ainda estimula a regeneração natural e a polinização. Porém, a falta de informação técnica impede muitos apicultores de formalizar suas atividades, há um receio de que o uso destas áreas possa gerar autuações, o que leva parte significativa do setor à informalidade. Essa condição impede o acesso a políticas públicas, crédito rural, certificações e programas institucionais de compra de alimentos, além de fragilizar a representatividade do segmento no contexto do agronegócio.

A formalização do uso de APPs e Reservas Legais para fins apícolas representa não apenas uma adequação à legislação, mas uma oportunidade de consolidar a apicultura como modelo de produção ecológica de alta eficiência. Por meio da comunicação transparente, da regularização ambiental e do profissionalismo, a apicultura deixa de ser uma atividade informal e passa a integrar plenamente o sistema produtivo nacional, contribuindo com a diversificação econômica, a conservação da biodiversidade e o fortalecimento social do campo.

A apicultura ocupa um lugar singular no agronegócio: é produtiva, sustentável e ambientalmente regenerativa. No entanto, para que seja reconhecida como atividade agropecuária estratégica, é indispensável fortalecer o diálogo entre apicultores e agricultores, para que o uso das áreas seja pautado pela legalidade, planejamento e cooperação. A formalização permite ao apicultor acessar mercados qualificados e obter selos de reconhecimento, como os de denominação de origem, elevando o valor agregado da produção e ampliando sua competitividade. O diálogo, por sua vez, viabiliza essa formalização, fomentando o profissionalismo e a inclusão territorial da apicultura.

Este é o caminho para transformar o potencial biológico das abelhas em prosperidade compartilhada, harmonizando o uso do território e promovendo o verdadeiro sentido de sustentabilidade rural: produzir, conservar e incluir.

Fonte: Wellington Torres ellington Torres 

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