O mercado de resíduos sólidos no Brasil está em plena transformação. Por isso, a combinação entre regulamentações ambientais mais rigorosas, a ascensão da economia circular e a necessidade de soluções eficientes para destinação sustentável está moldando um novo cenário para empresas e indústrias. Além da crescente pressão por compliance e ESG, tecnologias de valorização de resíduos vêm ganhando espaço, reduzindo impactos ambientais e criando oportunidades econômicas.
Um dos destaques desse movimento é o coprocessamento, solução que permite o reaproveitamento de resíduos como combustível em processos industriais, especialmente no setor cimenteiro. Esse método não apenas reduz a dependência de combustíveis fósseis, mas também elimina passivos ambientais, tornando-se uma alternativa estratégica para empresas que buscam sustentabilidade e conformidade regulatória.
Segundo especialistas da Verdera, unidade de gestão e destinação sustentável de resíduos da Votorantim Cimentos, dez tendências estão liderando essa transformação:
- Expansão da valorização energética de resíduos como alternativa sustentável
A conversão de resíduos em energia está se consolidando como uma solução eficiente para reduzir o impacto ambiental dos descartes. Segundo Larissa Fernandes Mendonça, engenheira ambiental e analista de Meio Ambiente da Verdera, o coprocessamento é uma das principais formas de valorização energética. Ele transforma resíduos industriais, urbanos e agrícolas em combustíveis derivados de resíduos (CDR), substituindo combustíveis fósseis no setor cimenteiro e evitando emissões de CO₂.
- Maior rigor na corresponsabilidade ambiental das empresas
O princípio da corresponsabilidade está ganhando força, tornando empresas responsáveis pelo destino de seus resíduos, mesmo quando enviados a terceiros. Eduardo Porciuncula, gerente-geral da Verdera, destaca que as empresas são responsáveis por toda a vida útil do produto, inclusive de seus resíduos. “O descarte incorreto por parte de algumas empresas gera um passivo ambiental para o país. Infelizmente, sabemos que 40% dos resíduos urbanos descartados são destinados incorretamente”, afirma. O coprocessamento, segundo o executivo, garante a rastreabilidade do resíduo, elimina por completo o resíduo e com isso seus riscos associados.
- Regionalização das soluções de destinação de resíduos
A logística dos resíduos impacta diretamente os custos e a viabilidade da destinação correta. Miguel Rodrigues, gerente de inteligência competitiva da Verdera, aponta que o transporte influencia significativamente os custos operacionais das empresas, tornando geralmente inviável o deslocamento acima de 300 km. “Passou desse raio, o frete impacta muito no custo da operação”, diz. Dessa forma, novas unidades de valorização energética e tratamento de resíduos tendem a ser descentralizadas, atendendo demandas regionais e reduzindo custos logísticos.
- Integração do setor agro com a economia circular
O agronegócio tem potencial para se tornar um dos grandes beneficiados da economia circular, reduzindo desperdícios e monetizando resíduos. Frederico Oliveira, Gerente comercial e logística da Verdera, destaca que a casca de arroz e a casca de soja, antes tratadas como rejeitos, agora estão sendo valorizadas. “O produtor rural raramente vê resíduo como um ativo. Ele precisa ser educado sobre as vantagens de uma destinação sustentável”, afirma. O coprocessamento está criando um outro mercado para os produtores rurais.
- Pressão regulatória e incentivos para a logística reversa de produtos
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei 12.305/2010, determinou a obrigatoriedade da logística reversa, mas as metas para cada setor são definidas por acordos setoriais. Larissa explica que as empresas que não atingem suas metas precisam comprar créditos de reciclagem. “Se a empresa não consegue reciclar o suficiente, ela precisa comprar créditos de alguém que está reciclando”, disse. Isso cria um mercado regulado de compensação ambiental, semelhante ao crédito de carbono, tornando a destinação sustentável uma vantagem competitiva. Um dos debates sobre o assunto é a geração de créditos de reciclagem pela destinação via tecnologia de coprocessamento.
- Crescimento da rastreabilidade e transparência na destinação de resíduos
Com a ampliação das exigências de compliance e ESG, empresas estão buscando garantir total transparência na destinação de seus resíduos. O gerente comercial e logística da Verdera destaca que grandes indústrias já exigem controle rigoroso sobre o destino de seus rejeitos. “Alguns dos nossos clientes, por exemplo, pedem comprovação detalhada da destruição de seus produtos fora de especificação”, diz Frederico. A tendência é que sistemas de rastreamento digital e certificação de destinação sustentável se tornem padrão de mercado. Atualmente, o coprocessamento utiliza sistemas de monitoramento digital, permitindo que as empresas acompanhem todo o processo e melhorem a destinação ambientalmente adequada.
- Substituição de insumos fósseis por biomassas residuais
A demanda por energia renovável tem impulsionado o uso de biomassas derivadas de resíduos agroindustriais. Um exemplo, segundo Rodrigues, são resíduos como o cavaco de madeira, amplamente utilizado no coprocessamento, que está se tornando escasso e caro no mercado. “Cada vez mais produtores de eucalipto e pinus estão migrando para outras culturas, o que tende a encarecer o cavaco”, diz. Como alternativa, resíduos como caroço de açaí, casca de arroz e bagaço de cana vêm sendo explorados como fontes de energia viáveis. No coprocessamento, coque de petróleo e carvão são substituídos por essas biomassas residuais e CDR, diminuindo a pegada de carbono nos processos industriais. Muitas indústrias vêm adaptando suas caldeiras para o uso de biomassas alternativas e CDR.
- Maior controle sobre o descarte dos resíduos
Com a crescente preocupação ambiental, alguns estados brasileiros já implementaram regulamentações para a destinação mais apropriada para os resíduos sólidos. “De acordo com algumas legislações, empresas que estão num raio de 150 km de uma unidade de recuperação energética são obrigadas a destinar seus resíduos para essa solução”, explica Larissa.
- Desenvolvimento de soluções para rejeitos de difícil destinação
Alguns resíduos ainda enfrentam grandes desafios de destinação, como plásticos de difícil reciclagem e resíduos industriais perigosos. Porciuncula ressalta que a valorização energética pode ser uma solução para esses materiais. “Temos que lembrar que tudo o que não pode ser reciclado precisa de uma solução segura, e o coprocessamento resolve essa questão sem gerar passivo ambiental”, afirma. Com a pressão para reduzir os impactos ambientais, novas tecnologias deverão emergir para lidar com rejeitos complexos.
- Consolidação da economia circular como modelo de negócios
A economia circular está deixando de ser um conceito abstrato e se tornando um modelo de negócios viável. Oliveira explica que grandes empresas do setor agro já enxergam valor na destinação sustentável de seus resíduos. “Antes, produtores viam resíduos como um passivo ambiental. Agora, eles começam a perceber que há oportunidades para valorizar esses materiais ou usá-los como fonte de energia”, disse. A tendência é que novos mercados surjam para transformar resíduos em ativos econômicos, acelerando a transição para um modelo mais sustentável.
Neste contexto de transição acelerada, empresas como a Verdera estão assumindo um papel fundamental ao oferecer soluções tecnológicas avançadas, promovendo inovação, transparência e eficiência operacional. Ao transformar desafios em oportunidades, a Verdera ajuda o mercado a repensar suas práticas produtivas e contribui diretamente para o avanço da sustentabilidade no país.
O Brasil pode e deve se tornar referência global em economia circular, com o coprocessamento ocupando uma posição central neste movimento transformador. O futuro precisa ser mais sustentável, mas também economicamente próspero, impulsionado pela responsabilidade compartilhada. Nesse cenário, os especialistas da Verdera reforçam o compromisso da empresa de liderar as mudanças necessárias para que as cidades, os negócios e as comunidades possam construir um futuro melhor, mais limpo e responsável para as próximas gerações.
Fonte: Beth Matias