A Conferência Internacional da Mesa Redonda da Soja Responsável (RTRS) reuniu mais de 180 representantes de 92 organizações em 14 países, consolidando-se como um dos principais fóruns globais para debater soluções concretas que impulsionam a soja responsável no cenário internacional.
Realizado no Expo Center Norte, em São Paulo, o encontro contou com a VICTAM Latam como patrocinadora anfitriã e apoio de ACT, Bunge, SLC e Koppert. A programação incluiu uma palestra principal, seis painéis, 28 palestrantes e múltiplas sessões de networking que envolveram produtores, indústria, reguladores, sociedade civil e instituições financeiras.
Os painéis abordaram os principais desafios e oportunidades da soja responsável diante das novas demandas de mercado e marcos regulatórios, como o Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR). Entre os destaques estiveram a adoção de práticas de agricultura regenerativa e de baixo carbono, mercados de carbono e financiamento sustentável, rastreabilidade por meio de plataformas nacionais e soluções digitais, além da análise de marcos regulatórios e seu impacto na competitividade.
Outros temas de peso incluíram o papel dos esquemas voluntários de certificação, inovação em logística e integração das cadeias de valor, bem como tendências globais, com atenção especial para o mercado chinês e o avanço da aquicultura como segmento estratégico.
“O trabalho da RTRS conecta produção, comércio e consumo com transparência e confiança, por meio de uma certificação reconhecida internacionalmente, que garante rastreabilidade e valoriza o esforço dos produtores que apostam na responsabilidade”, destacou o vice-presidente da RTRS, Juan Carlos Cotella.
Segundo a diretora-executiva, Marina Muscolo, “assim como as abelhas em suas colmeias, nossa atuação se baseia na colaboração e no compromisso coletivo: cada esforço individual fortalece uma cadeia mais justa, sustentável e conectada com a natureza”.
Crescimento da certificação RTRS
Os avanços na certificação também foram apresentados durante a conferência. Atualmente, a RTRS reúne 54.500 produtores certificados em seis países e mais de 430 sites de Cadeia de Custódia distribuídos em 15 países.
Em 2024, a produção certificada atingiu 6,8 milhões de toneladas, com um crescimento da comercialização física de 102%, alcançando 900 mil toneladas, se comparado com 2023. Em 2025, o ritmo de adoção já registra expansão de 15%.
O Brasil responde por 80% da produção responsável certificada, seguido pela Argentina com 12%. A demanda por soja física certificada é puxada especialmente pelo Equador, Chile e Peru, onde a aquicultura se consolida como importante mercado consumidor, representando hoje 10% da soja certificada globalmente.
Além disso, em 2024 foram adotadas globalmente 7,4 milhões de toneladas de material RTRS (soja física + créditos) em 32 países. A soja certificada RTRS representa pouco mais de 2,8% da produção mundial de soja, a maior proporção entre os esquemas similares.
Olhar para o futuro
A estratégia “Rumo a uma transição regenerativa”, aprovada em Lucerna (Suíça) em junho passado, orienta o trabalho da RTRS até 2027 com quatro pilares: liderança de pensamento, melhor experiência para os membros, certificação mais competitiva e impacto ampliado no mercado.
Entre os desafios, Cotella ressaltou a necessidade de comunicar com mais força o valor da produção responsável e integrar o milho como cultivo estratégico para reforçar a sustentabilidade do sistema.
O lema da edição 2025, “Dar forma a soluções para um futuro sustentável”, convidou todos a passar do discurso à ação. Cotella encerrou a conferência com um chamado à ação coletiva: “A soja deixou de ser um simples commodity para se tornar um catalisador de transformação. Produtores, indústrias, consumidores e sociedade civil: todos vocês são essenciais para que a produção responsável se torne a norma, e não a exceção”.
Pontos-chaves da edição 2025
Durante os debates, três ideias principais ganharam destaque. A primeira foi o reconhecimento do valor integral da certificação, que não se limita aos benefícios econômicos, mas também gera impactos positivos para produtores, trabalhadores, comunidades e para a sustentabilidade das empresas.
Outro ponto ressaltado foi a importância da comunicação clara e consistente, capaz de dar visibilidade ao investimento e ao esforço envolvidos na produção responsável, indo além da simples apresentação de números.
Por fim, enfatizou-se a necessidade de fortalecer a governança da RTRS com uma visão de longo prazo, envolvendo novas gerações e garantindo que a cadeia da soja responsável mantenha sua relevância frente a mercados cada vez mais exigentes e a regulamentações mais rigorosas.
Fonte: Valéria Campos