O I Conexão Livre, evento pioneiro organizado pela Iniciativa MIRA, reuniu cerca de 80 participantes na última quinta-feira, 10 de outubro, no Centro Universitário Sant’Anna, em São Paulo. Com o objetivo de acelerar a transição para sistemas de produção de ovos livres de gaiolas, o evento consolidou o compromisso com o bem-estar animal ao conectar todos os elos da cadeia produtiva. “O evento I Conexão Livre foi a consolidação do trabalho que o Fórum Animal tem desenvolvido em relação ao bem-estar de galinhas poedeiras nos últimos anos”, afirmou Elsa Barreto, gerente da Iniciativa MIRA.
Do total de participantes, 57 eram oriundos do estado de São Paulo, enquanto 30 eram produtores de ovos, com representantes de empresas reconhecidas no meio produtivo. Além disso, 17 compradores de ovos de empresas do ramo alimentício, muitos já comprometidos com a causa cage-free, participaram ativamente das discussões. Havia também cinco representantes de certificadoras de bem-estar animal e 13 consultores da área avícola e empresas fornecedoras de insumos para o setor.
O evento proporcionou um espaço de diálogo e networking entre empresas que já aderiram ou planejam aderir ao compromisso com ovos livres de gaiolas. Elsa destaca a importância dessa troca: “Consideramos essencial conversar com toda a cadeia envolvida na produção de ovos, desde a fazenda até o consumidor, para acelerar a transição do sistema de produção atual para sistemas com bem-estar animal mais elevado.”
Entre os participantes, Anderson de Pontes Silva, da Lohmann do Brasil, destacou a relevância da crescente demanda da sociedade por produtos provenientes de sistemas mais éticos: “Essa demanda está crescendo rapidamente, e é fundamental que ela continue aumentando para que os produtores ganhem coragem. Hoje, falta incentivo, e há certo receio em investir nesse tipo de produção por não haver garantias sobre o retorno financeiro. A produção diferenciada tem um custo mais alto, mas com o aumento da demanda, os produtores acompanharão essa tendência. No evento, vemos muitos produtores interessados nesse mercado de aves livres de gaiolas, e isso também favorece as empresas de genética, que passam a ter um mercado onde vale a pena investir em tratamentos diferenciados.”
A programação foi dinâmica, com palestras e grupos de trabalho que abordaram as principais tendências e desafios do setor. Especialistas como César Giordano, da Escola de Avicultores, trouxeram insights sobre estratégias de comercialização, enquanto Francisco Veloso, da Tapuio Agropecuária, abordou as dificuldades enfrentadas pelos produtores na adaptação a sistemas mais éticos.
João Paulo Figueira, da Special Dog Company, também ressaltou a importância de políticas de bem-estar animal alinhadas à sustentabilidade: “Essa demanda por políticas de bem-estar animal é muito necessária e está alinhada com um movimento maior em prol da sustentabilidade, que ganhou força recentemente com o conceito de ESG (Environmental, Social, and Governance). O bem-estar animal é uma parte essencial do ESG, e acreditamos que essa demanda por garantias, certificações e rastreabilidade vai crescer ainda mais com as próximas gerações. Na verdade, essa tendência já está em curso, e se tornou um diferencial competitivo que vai se intensificar nos próximos anos.”
Um dos pontos altos do encontro foi a mesa redonda que reuniu importantes nomes do setor para discutir os desafios no relacionamento entre produtores e empresas. Participaram da mesa Evandro Oliveira, da Planalto Ovos, e João Paulo Figueira, da Special Dog Company, entre outros. O debate reforçou a importância de fortalecer as parcerias entre produtores e compradores comprometidos com o bem-estar animal.
Obstáculos e soluções para os ovos livres
Alguns dos participantes do evento comentaram que o preço final no supermercado e os custos de produção são obstáculos para um avanço mais rápido da oferta de ovos de galinhas criadas livres de gaiolas para os consumidores, mas é possível superar esses gargalos.
Marisa Seeder, produtora e proprietária do Sítio Ecosol, resumiu a questão: “O maior desafio no momento é o preço. O consumidor acha a ideia maravilhosa, mas quando chega a hora de pagar, é diferente. Isso se torna um gargalo, porque o custo de produção é maior e nem todos estão dispostos a arcar com esse valor”.
Há soluções para isso. Uma delas foi apontada pela gerente técnica do Produtor do Bem, Paola Rueda: “Produzir ovos em sistemas de bem-estar animal, como o livre de gaiolas, envolve custos mais altos, e isso se reflete no preço ao consumidor. Essa é uma barreira importante, pois não é fácil competir em termos de preço com ovos produzidos em sistemas convencionais. No entanto, com a crescente conscientização dos consumidores e com estratégias para repassar apenas o valor adicional dos custos ao longo da cadeia produtiva, é possível minimizar esse impacto no preço final”, pondera.
Relatório Conexão Livre
O evento foi encerrado com o lançamento do Relatório Conexão Livre, que detalha os resultados das discussões e apresenta um panorama do mercado de ovos livres de gaiolas no Brasil. Os participantes ainda tiveram a oportunidade de ampliar seus contatos no coquetel de networking, que encerrou o dia.
Com essa primeira edição, o I Conexão Livre se consolidou como um marco na promoção de práticas mais éticas e sustentáveis na avicultura. A Iniciativa MIRA e o Fórum Animal saem fortalecidos dessa experiência, com a expectativa de que o evento contribua diretamente para acelerar a transição do mercado de ovos no Brasil para sistemas livres de gaiolas.
O I Conexão Livre é uma realização da Iniciativa MIRA e do EggLab, um projeto do Fórum Animal, com o apoio de diversas instituições comprometidas com práticas sustentáveis e éticas no setor de avicultura, além de parcerias de peso com o Produtor do Bem, a Certified Humane Brasil e a AVAL (Associação Brasileira da Avicultura Alternativa), reafirmando o compromisso coletivo em transformar o mercado de ovos livres de gaiolas no Brasil.
Fonte: Valle da Mídia