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Como o agricultor pode se prevenir dos danos das geadas às lavouras?  

As baixas temperaturas do inverno de 2021 têm assustado os brasileiros. Em alguns lugares do país, os termômetros chegaram aos impressionantes 8,9 ºC negativos. E os meteorologistas avisam: a previsão é de mais frio em agosto. De acordo com o Climatempo, para o mês estão previstas três frentes frias, com possibilidade de neve em algumas regiões do Brasil, em um dos invernos mais intensos dos últimos anos. Para a agricultura, isso é motivo de preocupação, já que pode haver danos às lavouras devido às geadas. Como o agricultor pode se prevenir dos prejuízos causados por essa queda de temperatura?

Como o frio e as geadas afetam a lavoura  

Um dos efeitos das baixas temperaturas é o fenômeno das geadas. Muito comuns nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, as geadas podem ser letais para as plantas.

Os processos que levam à formação das geadas são diferentes, podendo ser:

  • Geada de advecção ou de vento frio;
  • Geada de radiação;
  • Geada mista;
  • Geada de canela.

Outra forma de classificar as geadas é quanto ao seu aspecto visual:

  • Geada negra: quando a umidade do ar é baixa e a perda de calor terrestre é intensa, ocorre um forte resfriamento do ar, que pode chegar à temperatura letal da planta. Como não há muita umidade no ar, não acontece deposição de gelo
  • Geada branca: causada pelo resfriamento noturno intenso e em condições de alta umidade na atmosfera, levando à formação de gelo. Ao contrário do que pode parecer, ela é menos severa que a geada negra, uma vez que a umidade provoca a condensação do vapor de água, com liberação de calor latente, o que ajuda a reduzir a queda de temperatura.

Mas, como as geadas afetam as plantas e porque elas são tão prejudiciais para a agricultura? Esses fenômenos são perigosos porque podem danificar os tecidos vegetais, prejudicando a produtividade e em casos mais graves levando à morte das plantas.

Os danos causados pelas baixas temperaturas durante a ocorrência de geadas são uma consequência da formação de cristais de gelo dentro das plantas. Essa formação de gelo pode ser intercelular, ou seja, no espaço entre as células, ou dentro das próprias células.

Devido a isso, ocorre um desequilíbrio do potencial químico da água dentro da estrutura das plantas, levando a um fluxo contínuo da solução intracelular para a solução extracelular, o que leva à morte das células e, em consequência de partes da planta ou da planta toda.

Outra consequência, por exemplo, é o congelamento da seiva das plantas, o que leva ao rompimento dos vasos condutores e à necrose dos tecidos. O resultado disso é:

• Desidratação das células;

• Perda do potencial de turgescência;

• Redução do volume celular;

• Ruptura da membrana plasmática.

Mas, se o clima é algo que o agricultor não pode controlar diretamente, como proteger a lavoura das baixas temperaturas e dos efeitos da geada?

O manejo nutricional é um grande aliado na diminuição de danos por geada  

Algumas estratégias podem ajudar o agricultor a proteger a lavoura dos efeitos das baixas temperaturas e das geadas. Estar atento às previsões climáticas e ter um bom planejamento do manejo agrícola é a primeira delas.   

Quando se sabe que há previsão de baixas temperaturas, o agricultor pode implementar algumas medidas para minimizar as consequências delas na lavoura, como:

  • Planejamento do local e semeadura  

A análise dos dados climáticos do local e variedade a ser cultivada permite que o agricultor possa escolher os locais e as épocas de plantio e semeadura mais adequados para a cultura, evitando os períodos mais críticos de ocorrência das geadas.

  • Utilização de variedades resistentes  

As variedades das culturas podem possuir níveis diferentes de tolerância ao frio. Assim, a escolha da variedade mais adequada para regiões onde as geadas são mais comuns ou mais intensas pode ajudar a reduzir os danos causados por esse fenômeno.

  • Conhecer a temperatura letal de cada cultura

As plantas têm uma certa resistência às temperaturas baixas, mas, quando ocorre a geada, é comum que a temperatura caia abaixo do limite considerado letal para elas.

Além disso, técnicas como o uso de coberturas protetoras ou a irrigação da cultura com água durante a noite da geada, a uma taxa de 2 a 6 mm/h ajudam a minimizar os efeitos desse fenômeno.

Entretanto, o manejo nutricional também pode fazer a diferença na hora de evitar que as baixas temperaturas gerem muitos prejuízos. O potássio, por exemplo, é um macronutriente essencial para as plantas e entre as suas funções está justamente a amenização de estresses abióticos, como o frio.

Na cultura do café e da soja, o potássio ajuda a reduzir o ponto de congelamento da seiva, mitigando os efeitos negativos da geada na planta.  Já na citricultura, Roberto Pedroso de Oliveira e outros pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) recomendam uma nutrição adequada em potássio, no documento Manejo de Pomares de Citros contra Geadas. 

Contudo, não é somente o potássio que pode ajudar na proteção da lavoura contra os prejuízos causados pelas baixas temperaturas e pelas geadas.

O papel do enxofre e do silício no aumento da resistência das plantas ao frio  

O enxofre é um nutriente que faz parte do grupo dos macronutrientes secundários. Entre as suas muitas funções no desenvolvimento das plantas, o enxofre está envolvido em processos metabólicos de substâncias importantes.

No artigo Nutrição e fertilização com enxofre e uso de gesso em plantações de eucalipto, o pesquisador José Henrique Tertulino Rocha e outros colegas, ao descreverem as funções do enxofre nas plantas, explicam que ele participa da formação de ligações dissulfídricas, que conferem resistência ao frio.

Assim, pensar na nutrição com o enxofre na hora de planejar o manejo agrícola é importante para que as plantas tenham mais resistência em épocas de baixas temperaturas e geadas.

Já o silício é um elemento que, desde 2015, é reconhecido como benéfico para as plantas. Isso quer dizer que, embora ele não seja essencial para o seu desenvolvimento, ele traz benefícios importantes para elas.

Prof. Fabrício de Ávila Rodrigues, uma das maiores autoridades mundiais na pesquisa em silício na agricultura, e outros pesquisadores explicam, no artigo Silício: um elemento benéfico e importante para as plantas: 

“O ácido monosilícico [forma pela qual as plantas absorvem o silício], depois de absorvido pelas plantas, é depositado principalmente nas paredes das células da epiderme, contribuindo substancialmente para fortalecer a estrutura das plantas e aumentar a resistência ao acamamento e ao ataque de pragas e doenças, além de diminuir a transpiração.”

Esse fortalecimento da estrutura das plantas é vantajoso para que elas lidem com os efeitos das baixas temperaturas e do congelamento causado pelas geadas, já que o silício ajuda a manter as células das plantas mais íntegras e sem rompimentos.

Assim, quando a temperatura volta a subir, a planta consegue voltar à sua atividade metabólica normal, sem grandes danos.

Segundo o artigo Silício na agricultura, da revista Pesquisa FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), nos Estados Unidos o uso do silício se mostrou eficiente para reduzir os efeitos negativos das geadas nas plantações de cana-de-açúcar do estado da Flórida.

Pensar em estratégias globais e na microbiota do solo são a chave  

Em resumo, além da atenção ao histórico e à previsão climática, do planejamento do plantio e das técnicas paliativas, pensar no manejo nutricional de forma global, incluindo elementos como o silício, o potássio e o enxofre pode ajudar o agricultor a prevenir os danos causados à lavoura pelas baixas temperaturas e geadas.

Outra ação significativa é a recuperação do solo após o período mais intenso de frio. Isso porque algumas técnicas, como a retirada dos materiais verdes para minimizar os efeitos negativos das geadas, deixam o solo exposto, degradando a microbiota.

Assim, o uso de fertilizantes que tenham baixo nível de salinidade e cloro pode favorecer o desenvolvimento dos microrganismos benéficos do solo, que são importantes para a saúde do solo e para o desenvolvimento das plantas.

Fonte: Stella Xavier

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